domingo, 27 de outubro de 2013

Nasce o Brasil Talibã


Giuilherme Fiuza

O Globo 26/10/13

O Brasil virou, definitivamente, um lugar esquisito. A última onda de
manifestações reuniu professores em greve (e simpatizantes) por melhores
salários para a categoria. Aí os professores cariocas receberam a adesão
dos tais black blocs - nome pomposo para um bando de almas penadas
em estado de recalque medieval contra tudo. Os professores não só
acolheram os depredadores desvairados nas suas passeatas, como
declararam, por meio de seu sindicato, que aquele apoio era "bem-vindo".

Deu-se assim o casamento do século: a educação com a falta de 
educação. Nem a profecia mais soturna, nem a projeção mais niilista,
nem as teses do maior espírito de porco conceberiam esse enlace.
O saber e a porrada, lado a lado, irmanados sob o idioma da boçalidade.

Mas o grande escândalo não está nessa união miserável. Está na
cidade e no país que a cercam. Se o Rio de Janeiro e o Brasil ainda 
tivessem um mínimo de juízo, o romance entre profissionais do 
ensino e biscateiros da violência teria revoltado a opinião pública.
As instituições, as pessoas, enfim, a sociedade teria esmagado esses
sindicalistas travestidos de educadores. O saber é o que salva o 
homem da barbárie. Um professor que compactua, ou pior, se associa
ao vandalismo é a negação viva do saber - é a negação de si mesmo.
Não pode entrar numa sala de aula nem para limpar o chão.

E o que diz o Brasil dessa obscenidade? Nada. O movimento 
 grevista continuou tranquilamente - se é que há alguma forma 
 tranquila de estupidez - bloqueando o trânsito a qualquer hora do dia,
em qualquer lugar , diante de cidadãos crédulos que acreditam estar
pagando pedágio pela "melhoria da educação". Crédulos, nesse caso,
talvez seja um eufemismo para otários.

Claro que uma sociedade saudável logo desconfiaria dos métodos desses
professores. E os desautorizaria a lutar por melhores condições de ensino
barbarizando as ruas. Os salários dos professores de verdade são uma
tragédia brasileira, mas esses comparsas de delinquentes mascarados não
merecem um centavo do contribuinte para ensinar nada a ninguém.
O problema é que a sociedade está revelando, ainda timidamente, 
a sua faceta de mulher de malandro. Apanha e gosta.

Na entrega do Prêmio Multishow, o músico Marcelo D2 apareceu no 
palco com sua banda toda mascarada, com uma coreografia 
 simulando uma arruaça aos gritos de "black bloc!" Não se registrou 
nenhum mal-estar , reação ou mesmo crítica ao músico que fazia ali,
ao vivo, um ato veemente de apoio ao grupo fascistoide que quebra tudo.
Está se formando uma opinião pública moderninha que não admite 
abertamente ser a favor da violência, mas que se encanta e sanciona 
essa rebeldia da pedrada. A vanguarda, quem diria, foi parar na Faixa de Gaza.

Caetano Veloso também posou com o figurino da máscara negra. 
 Declarou ser a favor da paz, mas disse que a existência dos black 
 blocs "faz parte". Quando um artista da magnitude de Caetano 
emite um sinal tão confuso como esse, não restam dúvidas de que 
os valores andam perigosamente embaralhados. Tem muita gente
acreditando que a revolução moderna passa por esse flerte com o
obscurantismo. O nome disso é ignorância.

A confusão de valores está espalhada por todo o debate público. 
Nas ruas, depredação é confundida com civismo; na internet, 
pirataria é confundida com liberdade. A suposta "democratização
da cultura" legitimou o assalto aos direitos autorais de grandes
compositores brasileiros, com a praga do acesso gratuito às músicas.

De impostura em impostura, chegou-se à inacreditável polêmica 
 sobre a proibição de biografias não autorizadas - uma resposta 
 obscurantista dos próprios artistas assaltados pela liberdade 
 medieval da internet.

O dilema entre liberdade de expressão e direito à privacidade tornou-se
o grande tema do momento. Um dilema absolutamente falso. Ambos
são direitos sagrados e podem conviver tranquilamente, ao contrário
da paz e da porrada. É aterrador que gênios como Caetano Veloso 
e Chico Buarque estejam confundindo pesquisa séria e literatura 
biográfica com voyeurismo, fofoca e curiosidade mórbida. 
Guarnecer a fronteira entre esses dois campos é muito fácil - numa 
sociedade que não tenha desistido do bom senso, da justiça e da educação.

Mas numa sociedade que tolera educadores adeptos do quebra-quebra,
não haverá mordaça legal que dê jeito. Não existe meio-obscurantismo.
Entre os talibãs, por exemplo, a carta magna é o fuzil. E aí tanto faz a
maneira de lidar com livros e músicas, porque eles não têm mais a
menor importância.

Fonte : http://www.averdadesufocada.com/index.php/luta-armada-especial-100/9532-261013-nasce-o-brasil-taliba


Isto é resultado de uma sociedade laica, maçonizada, que relativizou a verdade e que perdeu o norte de quase tudo e não acha uma saída. Desobedeceu Deus separando o caráter correto, ou o que restou, do público do privado.
Nesta cegueira completa, falsa e estupidamente se acha na razão, se acha num processo evolutivo positivo. Sério engano. Está sim, a caminhar para o abismo social, moral e intelectual.
Alguém duvida ? Exagero ? Olhe ao seu redor e veja se estamos melhorando.

Abraços

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