Adauri Antunes Barbosa, O Globo, 14 de outubro, 2003.
O escritor português José Saramago disse ontem em São Paulo que o povo judeu já não é mais digno da simpatia que merece pelos sofrimentos que passou, por causa das atrocidades iguais ao do Holocausto que está impondo aos palestinos.
— Aquilo que Israel está fazendo é perder o capital da simpatia, da admiração e de respeito que o povo judeu merecia pelos sofrimentos por que passou. Já não são dignos desse capital. Deixaram de ser dignos desse capital — disse o escritor, que participava do 1 Congresso Internacional de Educação, promovido pela Editora Moderna e pela Fundação Santillana.
Único Prêmio Nobel de Literatura da língua portuguesa, Saramago disse que os judeus não podem viver sob a sombra do Holocausto.
— Viver à custa do Holocausto e querendo que se perdoe tudo o que fazem em nome do que sofreram parece um pouco abusivo. Porque aqueles que sofreram, foram mortos, exterminados, queimados. E estes são os descendentes biológicos deles. Mas parece que não aprenderam nada com o sofrimento de seus pais e avós. Não aprenderam rigorosamente nada.
Guerra desproporcional entre Israel e palestinos
Saramago acrescentou:
— Há uma guerra completamente desproporcional entre um dos mais poderosos exércitos do mundo e um grupo de gente a quem foi decidido chamar de terroristas, enfim, que têm bombas, que se suicidam, atiram pedras.
Saramago reafirmou que que o espírito de Auchwitz está presente em Ramallah, como dissera no ano passado, criticando as ações de Israel na cidade palestina:
— Está! E tão presente está que agora está se construindo um muro que obriga-nos a recordar os guetos. Quer dizer, os judeus saíram do gueto, felizmente. Sofreram durante séculos perseguições de todo tipo. E agora, em vez de respeitar o sofrimento de seus antepassados, não fazendo outros sofrerem o que eles sofreram, repetem os mesmos excessos, os mesmos crimes, os mesmos abusos de que foram vítimas.
Para o escritor, já não se pode afirmar que os palestinos têm território.
Fonte: http://www.consciencia.net/2003/11/08/saramago.html
Devido sua franqueza e equilíbrio de visão e opinião sobre muitos fatos, foi considerado 'persona non grata' por Israel, esta paródia de democracia. Foi um dos pouquíssimos comunistas inteligentes.
Abraços
E olha que ele não contestava o holocausto, nem se importava em observar a quantidade de pontos impossíveis do "ocorrido".
ResponderExcluirLucidez à toda prova.
Evoé, Saramago!
Abraço.
Sim, um dos raros intelectuais de verdade. Uma intelectualidade somada à coragem. O que o torna mais raro ainda.
ResponderExcluirEstes sempre são 'persona non grata' de alguém que promove ou defende de forma consciente ou não a maligna nova ordem.
Devemos considerar esta etiqueta como troféu e não como algo reprovável.
Abraços