Atualmente, o termo Estado laico vem sendo utilizado no
Brasil como fundamento para a insurgência contra a instituição de feriados
nacionais para comemorações de datas religiosas, a instituição de monumentos com
conotação religiosa em logradouros públicos e contra o uso de símbolos religiosos em repartições
públicas. A mais recente foi a decisão do Tribunal de Justiça
gaúcho acatando pedido da liga brasileira de lésbicas e de outras entidades
sociais sobre a retirada dos crucifixos e símbolos
religiosos nos espaços públicos dos prédios da Justiça gaúcha.
Antes de tudo, devemos observar que é natural a
presença de símbolos religiosos cristãos em
repartições públicas num país de formação eminentemente cristã. Quanto
a isso, pensemos um pouco: a quem ofende a presença de um crucifixo num lugar
público? Para os agnósticos, por exemplo, ele nada representa, é mera figura
decorativa; no máximo, uma escultura, uma obra de arte. Para os não cristãos,
nada significa.
É importante ressaltar que o conceito de Estado laico não deve ser confundido com
Estado ateu, já que o ateísmo e seus
assemelhados também se incluem no direito à liberdade religiosa. Trata-se do direito de
não ter uma religião; como afirmou o grande jurista Pontes de Miranda, “a
liberdade de crença compreende a liberdade de ter uma crença e a de não ter uma
crença”. Assim sendo, confundir Estado laico com Estado ateu é privilegiar esta
crença (ou melhor, não crença) em detrimento das demais, o que afronta os
princípios da igualdade e da liberdade.
Estado laico, secular ou não confessional é aquele
que não adota uma religião oficial e no qual há separação entre o Clero e o
Estado, de modo que não haja envolvimento entre os assuntos de um e de outro,
muito menos sujeição de um em relação ao outro. Portanto, Estado laico não é
sinônimo de Estado antirreligioso; é até o contrário. O Estado laico foi a
primeira organização política que garantiu a liberdade religiosa. A liberdade de crença,
de culto e a tolerância religiosa foram aceitas graças ao Estado leigo, e não
como oposição a ele. A laicidade não pode se expressar na eliminação dos
símbolos religiosos, mas na tolerância a eles. Já o ateísmo militante – como
essas iniciativas cristofóbicas – não é arreligioso, mas sim antirreligioso; é,
sim, uma corrente de opinião em assuntos religiosos, é uma espécie de
“teologia”; assim sendo, por que deve predominar em relação às demais???
O Estado laico existe há quatro séculos e nunca se
falou tanto nele quanto agora. O Estado moderno veio para resolver o problema
das guerras de religião que, depois do advento do protestantismo, proliferaram
na Europa, desorganizando as sociedades dos países europeus. A ideia de criar
uma autoridade civil independente dos grupos das facções religiosas para
arbitrar os conflitos não quer dizer que não havia uma religião majoritária. O
Estado não pode usar de sua força para favorecer um grupo religioso em
detrimento dos outros. Foi para isso que surgiu o Estado laico. Mas não é nesse
sentido que ele vem sendo aplicado hoje. O Estado laico, na concepção em que vem sendo
utilizado nos discursos, tornou-se tirânico, ditatorial. Mas não tinha esse
conceito originalmente. Nos Estados Unidos, há muito tempo, Estado laico
significava que o Estado não interfere nas polêmicas entre as denominações
cristãs, não toma partido. E o Estado americano era cristão.
A inexistência de
religião oficial no Estado não significa que o Estado seja partidário da não
crença (ateísmo e assemelhados), pois, com base no princípio da liberdade religiosa, a não crença deve ser
posta ao lado das demais religiões, não podendo, assim como qualquer uma delas,
ser considerada oficial.
O Estado laico é um Estado que não tem
religião, numa sociedade que tem religião; logo, o Estado deve respeitar a
religião da maioria. Estado laico não é o mesmo que Estado ateu. Se o Estado é
ateu, ou agnóstico, e a sociedade é cristã, aí, ou o Estado acaba com a religião
ou a sociedade cristianiza o Estado.
É chamado Estado leigo porque não interfere nas
polêmicas entre religiões, e não porque prega o ateísmo. O ateísmo militante –
essa crucifixofobia, retirar os crucifixos dos lugares públicos – é luta
religiosa. A atual avalanche do ateísmo militante que estamos sofrendo no mundo
é uma guerra religiosa destinada a descristianizar a sociedade ocidental. Não é
laicidade!
É preciso lembrar que, ao lado dos princípios da
igualdade e da liberdade, está o
princípio da maioria, que é princípio fundamental da democracia. Aristóteles já
dizia que a democracia é o governo em que domina o número. O Brasil é um país de
cristãos em sua maioria.
O que responde aos princípios constitucionais
republicanos de um Estado laico se chama respeito e compreensão acerca da
herança cultural e religiosa de um país. Portanto, a presença de um símbolo
religioso numa repartição pública, por si só, não tem a força nem mesmo de
arranhar a laicidade do Estado.
No Brasil, um país eminentemente cristão, qual o
tipo de imagem religiosa que se supõe encontrar disseminada? Haveria aí alguma
concessão do Estado em prol de uma religião e em detrimento das outras? De modo
algum, pois ou tais imagens estão por tradição nos referidos prédios – algumas
há séculos! – ou são miudezas trazidas pela fé e tradição dos que trabalham no
local, nada além.
Estamos assistindo a um boicote cultural, com essas
ações denegrindo e proibindo os símbolos religiosos ou dando-lhes um sentido
negativo. Isso marginaliza o cristianismo. É justamente esse o objetivo do
marxismo cultural, que vem se espalhando por todos os cantos, a fim de acabar
com as tradições, com os valores éticos e morais, com a ordem, numa palavra, com
a verdade. É a guerra do relativismo.
O Estado não tem o
direito de retirar os crucifixos de lugares públicos, principalmente se a
religião da maioria da sociedade for o cristianismo – no Brasil, 89,4% da
população se disseram cristãos no último Censo – porque o Estado nasce da
sociedade. No caso do Brasil, diga-se ainda que a ação da Igreja Católica na
formação da sociedade brasileira foi maior que a do Estado português.
E o não cristão? E o ateu e o agnóstico? Como
ficam? Não terão seus direitos atingidos em absolutamente nada, pois, se não
forem cristãos, basta ignorar o crucifixo ou considerá-lo como um penduricalho
na parede. Ou assim ou teremos um Poder Judiciário que premia a
intolerância.
Quem manda no Estado é a sociedade, e não o
contrário! Pois o Estado nasce da sociedade e nela encontra o motivo de sua
existência. O Estado existe para a sociedade. O Estado é laico; a sociedade,
não! O Estado laico é sem religião; mas a sociedade tem religião. O Estado tem
que permitir todas as religiões e respeitar a religião da maioria. Senão, o
Estado vai acabar impondo sua não religiosidade à sociedade. E isso é tirania. A
proibição da religião é um genocídio cultural. É o caso de se perguntar a quem
realmente interessa a retirada dos símbolos
religiosos das repartições públicas…
Não concordo que exista viabilidade de um Estado Laico ou Leigo por muito tempo, pois está a se basear na sabedoria do homem é que finita, falha e flutuante.
Dizendo ser laico, está-se dizendo ser independente de Deus, separado de Deus. Que Deus é desnecessário, descartável. Um absurdo para todos os que creem em Deus, mas tem cristão que bate palmas.
Temos visto no Brasil e no mundo, as confusões, as divisões orgânicas e mentais surgidas devido a esta laicidade, pois como promove tudo, promove a diferença. E quanto mais diferença ou diferentes tiver um Estado, mais dificultoso será e problemas terá para solver. Um caos.
Isso acontece porque o laicismo se baseia, como disse, no saber humano, onde o absoluto vira relativo, restringindo e confundindo o conceito de moral e de outros elementos que compõem o ser humano individual e social.
Separar Estado e Igreja é separar o material do espiritual. Estado separado da Igreja não vela pela verdade, apenas pelo bem-estar material. Não somos feitos só de matéria. Temos carências imateriais e vemo-las crescerem vertiginosas nas sociedades ditas laicas.
Separou-se, e o poder ficou com quem? O Estado Laico ou Leigo é uma armadilha ideológica e de verbosa verborreia.
Abraços
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