Por Pe. Michael
Beaumont
Traduzido por Andrea
Patrícia
O diálogo entre judeus e católicos
há mais de 40 anos é fundamentado em sérios erros teológicos que são diretamente
um perigo para a Fé Católica, especialmente [o que diz respeito] a singularidade
de Jesus Cristo e a obrigação da salvação n'Ele... Somente um retorno às
Escrituras e ao ensino tradicional dos Pais da Igreja, dos teólogos, e do
Magistério sobre esse assunto poderá permitir que vejamos o assunto claramente e
permaneçamos fiéis a Revelação. Nossa intenção é examinar e contestar esse
diálogo como é largamente praticado hoje. Entretanto, para evitar qualquer
ambiguidade, nós devemos primeiro expor o que não está em
discussão.
Nós não temos a intenção de
abordar questões políticas, como o atual Estado de Israel. Haveria muitas coisas
bastante interessantes a dizer, especialmente sobre as relações diplomáticas
entre o Vaticano e Israel, bem como a atual situação política em Israel... Nem
vamos tocar nos pontos sobre o Judaísmo em que estamos de acordo com os
católicos conciliares mais ou menos favoráveis ao "diálogo". Somente os pontos
que são absolutamente inaceitáveis à luz da verdadeira Fé serão objetos de
nossas reflexões.
OS JUDEUS E a
aliança
O primeiro documento no diálogo
atual entre judeus e católicos é a Declaração Nostra Aetate, do Vaticano II. Mas essa
declaração, já questionável em vários pontos, foi consideravelmente agravada por
declarações posteriores, de alto nível.
No coração dos erros do diálogo entre católicos e judeus encontramos
esta proposição central (No. 2 abaixo): "Os judeus de hoje estão vivendo em uma
'aliança divina’". As outras proposições logicamente seguem isso. Se a aliança com os
judeus ainda está em vigor, é lógico que seria salvífica para eles. Seria lógico
que a interpretação judaica da Bíblia fosse reconhecida como legítima, seria
lógico que a espera dos judeus pelo Messias fosse reconhecida como legítima,
etc. Mas essa proposição central é essencialmente falsa pelo seu profundo,
deliberado, equívoco. Uma anedota simples irá ilustrar o ponto antes de
quaisquer considerações teológicas avancem.
Durante a Guerra Franco-Prussiana
de 1870, o governo da Defesa Nacional desceu para Tours, na França, e acampou na
residência do Bispo. Um dia, à mesa, tanto o Arcebispo, Mons. Guibert quanto o
Ministro da Justiça, um advogado judeu chamado Adolphe Cremieux, estavam
presentes. Anunciando a si mesmo antes de introduzir o Arcebispo, Cremieux
espirituosamente proclamou: "Aqui estão os antigos e os novos testamentos. A
questão é saber qual deles é satisfatório". Dom Guibert retrucou: "Sr. Ministro
da Justiça, o senhor é um advogado. Portanto, o senhor sabe que quando existem
dois testamentos, apenas o último é válido."
O NOVO E ETERNO
TESTAMENTO
Na resposta do Mons. Guibert, toda
a questão é admiravelmente resumida. Se Nosso Senhor "na noite em que foi
traído" inaugurou "a nova e eterna aliança", então, irrevogavelmente aboliu a
antiga aliança, o Antigo Testamento.
O Redentor havia anunciado que o vinho novo não é posto em odres
velhos, e que se os judeus eram legitimamente louvados em Jerusalém ("a salvação
vem dos judeus"), estava próximo o tempo em que seria necessário adorar "em
espírito e em verdade”. O véu do Templo que, no momento do supremo sacrifício do Calvário,
foi solenemente rasgado, manifestou da forma mais clara, no coração do próprio
símbolo do culto mosaico, que este rito, este primeiro, testamento preparatório
tinha deixado de existir. A antiga aliança tinha acabado de ser abolida, embora
não apagada, esquecida, ou rejeitada, pois era de instituição divina e
sobrenatural. Pelo contrário, era para ser absorvida, para ficar clara, e ser
assumida pelo novo testamento, aquele estabelecido pelo Redentor prometido a
Adão e Eva, pelo Profeta anunciado por Moisés, pelo Messias descrito pelos
profetas: Nosso Senhor Jesus Cristo. Abolido na letra, o antigo testamento foi
viver doravante plenamente quanto ao espírito no coração do novo
testamento.
O ESPÍRITO E A
LETRA
Como os Apóstolos ensinaram,
especialmente no Concílio de Jerusalém (49 dC), tudo no Antigo Testamento que
era de validade perpétua ainda estava em vigor, como parte da Revelação divina,
por exemplo, os Dez Mandamentos. Por outro lado, os atos externos que haviam
sido destinados exclusivamente para preparar as almas para a vinda do Salvador
prometido, como a circuncisão, o sacrifício de animais, o cordeiro pascal, etc.,
só permaneceram como símbolos. Estes ritos já não podiam
legitimamente ser praticados (após um breve intervalo, como Santo Agostinho
admiravelmente explicou), pois caso contrário eles teriam significado o
contrário da verdade: que o Salvador ainda estava por vir, quando Ele já havia
chegado.
A AMBIGUIDADE DO TERMO “Judaísmo"
Como os defensores do diálogo
judaico-católico chegaram a um erro tão flagrante? Eles chegaram lá por causa de
um pressuposto errôneo subjacente a todo o discurso judaico-católico, e que está
na base da maior ambiguidade sobre a aliança ou testamento, isto é, a afirmação
de que o Judaísmo moderno, o Judaísmo depois de Cristo, é "Judaísmo" puro e
simples. Este é um erro grave, dos quais uma única consequência é suficiente
para mostrar sua falsidade. De acordo com esta hipótese, seria necessário
afirmar que o Senhor, a Virgem Maria e os apóstolos não eram nem judeus nem os
representantes da verdade autêntica da Revelação
Mosaica.
O Judaísmo do Antigo Testamento
era a verdadeira religião divina, a verdadeira revelação sobrenatural de
preparação para a vinda do Messias. Quando, na plenitude dos tempos, o Messias
enviado por Deus veio, Ele substituiu (ao assumi-lo) o primeiro testamento
provisório pelo novo e eterno testamento. Doravante, Ele iria dirigir-Se não só
a uma determinada raça de homens, mas a todos os homens de boa vontade. Os
filhos do Povo Eleito, os israelitas, evidentemente, tinham o seu lugar, e um
lugar eminente, no novo e universal Povo de Deus, na Igreja Católica. E este
lugar foi de fato tomado por nosso Senhor, por Sua Mãe Santíssima, pelos
Apóstolos, pelos discípulos e por todos os filhos de Israel, que, ao longo dos
séculos, reconheceram em Jesus o Messias prometido pelas
Escrituras.
Mas uma parte deste povo, sob a
influência de maus líderes (como, sob a influência dos reis maus ele tinha se
afastado tanto de Deus que foi punido pelo Cativeiro Babilônico), não quis
reconhecer o seu Salvador:
Jerusalém, Jerusalém, que mata os
profetas e apedreja os que te são enviados, quantas vezes quis eu ajuntar os
teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, e tu não
quiseste. (Mt. 23,37).
Esses líderes colocaram em
movimento as más tendências que já tinham vindo à tona na corrente do Farisaísmo
que Jesus havia denunciado, e criaram um novo "Judaísmo", o Judaísmo da recusa,
o Judaísmo do qual o principal credo é o Talmud. Este novo "Judaísmo", este
moderno Judaísmo, ao contrário da antiga religião praticada por nosso Senhor
Jesus Cristo e os Apóstolos, não é uma religião verdadeira. Pelo contrário, é
uma corrupção que desvia seus adeptos para longe da autêntica revelação divina,
porque sua base é precisamente a recusa do plano de salvação de Deus anunciado
pelo Antigo Testamento e realizado no Novo
Testamento.
A AMBIGUIDADE Da aliança (OU
TESTAMENTO)
Voltemos à nossa proposta
essencialmente equívoca: "os judeus de hoje estão vivendo em uma aliança
divina", a fim de fazer a necessária distinção que vai esclarecer o debate. Os
judeus do antigo Judaísmo - Abraão, Moisés, David, Esdras, Judas Macabeu, João
Batista, etc. - tinham uma aliança com Deus. Esta é uma proposição absolutamente verdadeira integrante
à fé católica. Os judeus do Judaísmo moderno, o Judaísmo da recusa do Messias,
tem uma aliança com Deus. Essa é uma proposição absolutamente falsa que é contrária
à Fé Católica. "Aquele que crer e for batizado será salvo, quem não crê será
condenado" (Mc 16,16).
OS DONS DE DEUS SÃO SEM ARREPENDIMENTO
Isso será objetado: "Os dons de
Deus são sem arrependimento" (Rm 11,29). Agora, uma vez que Deus concluiu uma
aliança com o povo judeu, este pacto continua, apesar da infidelidade deste povo
rebelde. Esta objeção é realmente verdade. Sim, a aliança de Deus com o povo
judeu continua. Mas (e esta é a distinção fundamental) continua em seu estado
atual, ou seja, sob a forma do novo e eterno testamento em Jesus Cristo, que
Deus estabeleceu como continuação e substituição do primeiro testamento
provisório. Todo judeu é, portanto, chamado a esta aliança, a esta salvação, e
isto de uma maneira particular, diferente da maneira em que um gentio é chamado,
porque ele é chamado, não só como indivíduo, mas também como membro de uma
nação, dado que foi à sua nação que a primeira parte da Revelação foi
manifestamente dirigida. Para esta grande ambiguidade e erro central do diálogo
judaico-católico (i.e., "Os judeus têm um legítimo pacto salvífico com Deus, em
paralelo com o novo pacto, etc."), deve-se responder pela teologia católica,
constantemente ensinada pelo Magistério e baseada diretamente nas
Escrituras.
Jesus Cristo é o único Salvador,
obrigatório para todos, judeus e gentios, dentro do novo e eterno testamento. "E
não há salvação em nenhum outro. Pois não há outro nome debaixo do céu dado aos
homens, pelo qual devamos ser salvos" (Atos 4,12). Esta obrigação inescapável
divina, absoluta de passar por Jesus aplica-se tanto aos judeus quanto aos
gentios, ou melhor, deveríamos dizer, se aplica ainda mais aos judeus do que aos
gentios, pois, historicamente, é aos judeus "a quem pertence a adoção como
filhos, e a glória, e o testamento, e a promulgação da lei, e o culto, e as
promessas: de quem são os pais, e dos quais é Cristo, segundo a carne, que é
sobre todas as coisas, Deus bendito eternamente" (Rm
9,4.5).
Os
extratos que se seguem são extraídos de quatro documentos básicos que tratam
especificamente do diálogo entre católicos e judeus. Após cada extrato, os
títulos destes documentos são abreviados. Para que o leitor compreenda de qual
documento é feito o excerto, nós fornecemos a chave que segue abaixo. Leitor,
cuidado! Essas proposições são condenadas como erros pelo ensinamento
perene da Igreja Católica. É o estranho novo ensino desde o Concílio
Vaticano II que afirma que esses erros são, na verdade, a "nova verdade
católica" em relação aos judeus e a religião judaica. Esta "nova verdade
católica" muitas vezes utiliza citações especialmente dos quatro seguintes
documentos para corroer o ensinamento
perene.
Diretrizes: Diretrizes sobre Relações
Religiosas com os Judeus, Comissão do Vaticano para Relações Religiosas com
os Judeus, (01 de dezembro de 1974) no Concílio Vaticano / /: Os documentos
conciliares e pós-conciliares, ed. Austin Flannery, O.P. (Liturgical Press,
1975).
Notas: Notas sobre a maneira correta
de Apresentar os Judeus e o Judaísmo na Pregação e Catequese na Igreja Católica
Romana, da Comissão do Vaticano para as Relações Religiosas com os Judeus
(24 de Junho de 1985).
TJP: O Povo Judeu e as Suas
Sagradas Escrituras na Bíblia Cristã, Pontifícia Comissão
Bíblica. (Ascension, 2001).
RCM: Reflexões sobre Aliança e Missão, Consulta do Conselho Nacional de Sinagogas e Comissão Episcopal para
Assuntos Ecumênicos e Inter-religiosos (USCCB, 12 de agosto de
2002).
Abraços
Nenhum comentário:
Postar um comentário
"Numa época de mentiras universais, dizer a verdade é um ato revolucionário."
George Orwell
"Até que os leões tenham seus próprios historiadores, as histórias de caçadas continuarão glorificando o caçador."
Eduardo Galeano
Desejando, expresse o seu pensamento do assunto exposto no artigo.
Agressões, baixarias, trolls, haters e spam não serão publicados.
Seus comentários poderão levar algum tempo para aparecer e não serão necessariamente respondidos pelo blog.
Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do autor deste blog.
Agradecido pela compreensão e visita.