sábado, 5 de outubro de 2013

Abacaxi verde e amarelo

A presidente da República mantém a tradição de muitos predecessores, com discursos aparentemente nacionalistas, enquanto diariamente trata a soberania e o desenvolvimento do País como coisas descartáveis.
2. Ela denunciou o que foi mostrado por Assange e, depois, por Snowden e Greenwald: o governo dos EUA, suas agências e empresas apropriam-se de informações econômicas, estratégicas e até das das pessoas físicas de todos os países sem meios de impedi-lo.
3. A presidente disse que fará proposta para estabelecer um marco civil multilateral para a governança e uso da internet, em nível mundial, visando a “efetiva proteção dos dados”. Essa proposta não tem chance alguma de ser adotada, mesmo porque os EUA não aceitam regras internacionais que se sobreponham às leis deles.
4. O jornalista Fernando Rodrigues foi ao ponto: “Dilma faria melhor se buscasse equipar o Brasil contra ataques cibernéticos. A presidente faz o oposto. Engavetou um projeto de Política Nacional de Inteligência que cria diretrizes para o Estado brasileiro se prevenir de ações de espionagem. O texto está pronto e parado, no Planalto, desde novembro de 2010.”
5. Em ótimo artigo, “O Discurso e a Prática” Paulo Passarinho, âncora do Faixa Livre da Bandeirante, recorda ter Assange apontado que China, Inglaterra, França, Alemanha e Rússia, entre outros, têm investido pesadamente nessa área estratégica e defende que o Brasil adote sistema de criptografia de tecnologia nacional.

“Globalização versus Desenvolvimento”
Livro de autoria de Adriano Benayon
abenayon.df@gmail.com
6. Passarinho comenta: “Mas nossa realidade está muito distante dessa possibilidade. Graça Foster, a presidente da Petrobrás, por exemplo, declarou que a criptografia usada na empresa é de empresas americanas, porque não existem companhias brasileiras que prestem esse tipo de serviço. Snowden denunciou que a criptografia fornecida por empresas privadas norte-americanas é propositalmente falha e têm as chamadas “portas dos fundos”, para que a NSA possa driblar seus códigos e acessar os dados.”
7. Pior: após o discurso no palco da ONU, Dilma dirigiu-se a executivos de 300 grandes bancos e empresas transnacionais, em seminário sobre oportunidades de investimento no Brasil, promovido pelo Goldman Sachs, banco líder da oligarquia financeira.
8. Pediu mais investimentos estrangeiros no petróleo e no programa de privatizações de portos, aeroportos, rodovias, ferrovias etc. Deseja, inclusive, “a capacidade de gestão” dos estrangeiros.
9. Diz Passarinho: “O show de subserviência aos gringos foi total. Lembrou que “risco jurídico no Brasil não existe”, procurando destacar que ‘se tem um país que respeita contratos é o Brasil. E disso nos orgulhamos’. É evidente que a presidente não se referia à Constituição, diariamente desrespeitada, especialmente no que tange aos direitos fundamentais dos
brasileiros, por exemplo, aos direitos sociais.”
10. Faz tempo que Dilma cede aos carteis mundiais. Consolidou a destruição do Estado, intensificada a partir de Collor, conforme o modelo imposto pelos saqueadores: o Estado desmonta suas estruturas, sucateia sua experiência administrativa e afasta seus quadros competentes.
11. Assim, diz-se que o Estado brasileiro é incapaz de fazer qualquer coisa, e então ele só faz editais para concessões dos serviços e das atividades que lhe competem, um método que custa caríssimo ao País, mas arranja dinheiro, por exemplo, para as campanhas eleitorais.
12. Seria incorreto atribuir a Dilma toda a responsabilidade pelo descalabro a que o Brasil foi empurrado, pois a coisa vem de longe. Acontece, desde janeiro de 1955, através dos favorecimentos propiciados ao capital estrangeiro.
13. Aí foi dada a partida para chegar-se à presente e avassaladora desnacionalização da economia e sua desindustrialização. Também à ascendência do poder econômico estrangeiro nas eleições e na política, envolvendo todos os poderes da República.
14. De certa forma, Dilma segue os passos de Juscelino Kubitschek, que jogou para a plateia, “rompendo com o FMI”, após entregar o mercado brasileiro, a entre outras, à indústria automotora transnacional, até hoje a maior sugadora dos brasileiros.
15. Se as atuais instituições brasileiras e os que as pilotam tivessem compromisso com a Nação, deveriam repudiar as privatizações criminosa e corruptamente realizadas, desde Collor e do notório FHC, em lugar de irem pelo mesmo caminho.
16. Esses crimes, que surripiaram da União e dos Estados patrimônios incalculáveis e avaliáveis, só no imediato, em dezenas de trilhões de reais, e ainda custaram centenas de bilhões de reais, foram “justificados” até por tribunais superiores, apesar das flagrantes ilegalidades, sob a alegação de que a receita dos leilões serviria para reduzir a dívida pública.
17. Sim, a mesma dívida que, após a Constituição de 1988, já fez a União despender mais de 11 trilhões de reais, e, ainda assim, cresce sem parar. Sim, a dívida causada pelo modelo da entrega dos mercados às empresas transnacionais.
18. Só que, durante os oito anos da gerência de FHC – auge das privatizações – a dívida mobiliária federal interna cresceu de R$ 65,6 bilhões de reais para R$ 841 bilhões (12,8 vezes).
19. No mesmo período (dezembro de 1994 a dezembro de 2002), a dívida externa foi de US$ 73,6 bilhões para US$ 212 bilhões.
20. Nos oito anos de Lula a dívida mobiliária interna federal subiu para R$ 2,3 trilhões (2,7 vezes) e chegou a R$ 2,8 trilhões após dois anos de Dilma, no final de 2012.
21. Em 2013 o déficit de conta corrente vai para US$ 90 bilhões (em 2012 foi U$ 54,2 bilhões), repetindo o filme de n outras crises causadas pelas transferências das transnacionais.
22. Ora, no exato momento em que o País afunda sob a desnacionalização, o governo quer intensificá-la. A submissão aos diktats do poder mundial manifesta-se agora com o petróleo e obriga os que se interessam pela sobrevivência do País, a lutar para sustar o leilão do campo de Libra, marcado para 21 deste mês.
23. As reservas desse campo (estimadas em 90% do total das reservas provadas do País) dão a medida desse escandaloso leilão, mas não deveriam fazer esquecer outro deste ano, que é imperioso anular: a 13ª rodada, na qual os carteis internacionais do petróleo adquiram o grosso dos blocos. Nessa levam tudo, já que o marco legal dessa rodada é a lei 9.478, da época de FHC, que os governos petistas não se interessaram em revogar.
24. Lula apenas tomou a iniciativa da Lei 12.351/2010, que instituiu regras diferentes só para o pré-sal, embora aquém do que exige o interesse nacional.
25. O Eng. Paulo Metri citou dados da ANP, de 2001, segundo os quais é 65% a média do que cabe aos países exportadores em óleo equivalente, nos contratos de partilha. Venezuela, Colômbia e Noruega exigem retorno próximo a 90%.
26. Já o Eng. Fernando Siqueira mostrou que o edital da ANP determina a partilha em função dos preços no mercado mundial e do volume da produção, não garantindo sequer o suposto mínimo de 41,65% para o País.
27. Ilustrativa do absurdo do próximo leilão de Libra, foi esta resposta de Graça Foster, presidente da Petrobrás, ao jornal Valor: “Quando se fala em 30% de Libra, fico muito satisfeita. Custa R$ 4,5 bilhões. Mas a Petrobras sabe fazer, conhece cada centímetro desse poço de 6.036 metros de Libra que ela perfurou. … o objetivo do governo é levar recursos para educação …”
28. Foster confirma o óbvio, pois a Petrobrás descobriu o campo e já extraiu óleo do pré-sal. Ora, país nenhum leiloa áreas cujo potencial de produção já é conhecido. Os 30% que cabem à Petrobrás são determinados pela Lei 12.351, operadora necessária. Assim, as estrangeiras levam petróleo sem trabalhar.
29. Confessando que o objetivo do governo é financeiro, o absurdo fica maior, pois a produção só se iniciará daqui a anos, nada gerando a curto prazo.
30. As verbas para a educação têm aumentado muito. Porém, são mal aplicadas: grande parte vai para estabelecimentos privados, a maioria dos quais vem sendo adquirida por grupos estrangeiros
31. Além disso, não há necessidade alguma de captar os recursos do bônus (15 bilhões de dólares), uma migalha diante do serviço da dívida programado para 2014: 1,2 trilhão de reais.
32. Para melhorar as finanças públicas, basta diminuir os juros dos títulos do Tesouro. Dois pontos percentuais de redução nas taxas representam, em apenas um ano, muito mais que os 35 bilhões reais do bônus do petróleo, que é só um empréstimo oneroso: o dinheiro só entra uma vez e depois vai saindo.
33. A exploração do petróleo por companhias estrangeiras não cria elos positivos para a economia, já que elas não contratam empresas nem técnicos brasileiros para os equipamentos e serviços de exploração.
34. Não só o óleo, mas também o grosso dos ganhos vai para o exterior, o que torna pequeno o reinvestimento em capital fixo no País, que perde também a oportunidade de desenvolver mais tecnologia na área.
35. A abundância de divisas com a exportação dá enorme poder financeiro às companhias exploradoras, incrementando ainda mais fator a desnacionalização e a desindustrialização do País. A valorização da taxa de câmbio incentiva as importações de maior valor agregado. Tudo isso significa subdesenvolvimento programado.
37. Poucos parlamentares tomaram iniciativas contrárias ao leilão de Libra: projeto de decreto-legislativo do senador Requião e mais três; ação popular de parlamentares do PSOL e senador Pedro Simon. Mais de 80 organizações protocolizaram carta no Palácio do Planalto pedindo sustar o leilão. Movimentos sociais acamparam em frente à Petrobrás.
38. Tudo isso é louvável, mas é pouco. Para ter algum resultado, os poderes da República teriam de perceber forte pressão de massa, suficiente para equilibrar as pressões que sofrem permanentemente dos interesses antinacionais.
Dr. Adriano Benayon, 30/09/2013.
Abraços 

2 comentários:

  1. Cobalto,

    É duro ler Benayon. Os olhos ficam marejados. É duro saber que o voto é o maior engodo na história da humanidade. É duro olhar os acontecimentos dos nossos tempos e sabermos para onde estamos sendo conduzidos e os desesperados pela luta cotidiana sendo incapazes de enxergar além da próxima curva. Cada dia mais me convenço de que, ou estão todos escondendo seus cobres na Suiça, ou então, este país está sob uma ameaça velada de alguma sorte. Sendo aqui o Brasil que conhecemos a crença na primeira hipótese é mais forte. Talvez um "furdunço" das duas, já que vem a calhar o total abandono das nossas forças armadas.

    No quarto no fim do corredor dormem três jovens, que teimosamente insisti que viessem à luz. Vejo suas idas e vindas diárias das suas escolas. Não consigo deixar de imaginar o tempo perdido dispendido a acumular noções completamente equivocadas da nossa realidade. Mentes manipuladas por um projeto de inserção na miragem que os donos do planeta insistem ser nossa realidade. Alimentamos nossos filhos, mas as empresas os moldam. Educação corporativa desde a mais tenra idade. Alijar o pensamento crítico, implantar o pensamento único, seus dois objetivos. "Massa de manobra", é a expressão irretocável da nossa existência. Tenho tentado mostrar à eles a avalanche que vem descendo a montanha. Penso que tirei um pouco da venda dos seus olhos, mas ainda não me dei por satisfeito. O despertar tem que ser total e deve ser contagiante, mesmo sabendo que há cenas impróprias, duras de serem assistidas, ainda assim, é só o que me resta e o meu dever por tê-los trazido até aqui.

    Os patifes, os winners, tão construindo um mundo ao seu bel-prazer, com a ajuda da corja entreguista. O que aguardo com a maior esperança é que cometam um deslize tão estrondoso que deixe tudo exposto e o ser humano acorde para o famigerado. Só assim Cobalto. Talvez, quando for descoberta a mentira escandalosa que ocorre em Fukushima desde a ocorrência da tsunami. Ou, quem sabe, quando começarem a dar utilidade aos campos da FEMA nos EUA. Tem que ser algo grandioso para tirar os olhos do homem da TV e que faça com que saia um pouco das redes sociais.

    Apesar de... tudo de bom Cobalto.

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  2. Olá, El Kabong.

    É de marejar e outras vezes de revolta. Ser patriota num país tão rico dum lado e tão pobre de outro, é difícil e inglório muitas vezes. Mas a luta só acaba quando pessoas que amam este país, a verdade, a vida e, virtude e a família tradicional assim o decidirem. Esteja conosco, por favor.

    Acesse http://www.ternuma.com.br/ e veja mais alguns horrores que acontecem acobertados pela mídia tradicional.

    Sobre eleições ( ainda não mexi nesta área ) tenho um blog elencado que é http://www.fraudeurnaseletronicas.com.br/ e também este sobre dívidas http://www.auditoriacidada.org.br/clique-aqui-para-saber-como-foi-a-cpi-da-divida/
    Se este governo, se órgãos badalados como imprensa, OAB, tantas ONG's que se dizem interessadas pelo bem estar, moralidade e verdade do Brasil, por que não tomam estas bandeiras ?!

    São muitos os temas, as áreas, mas aos poucos faremos as devidas postagens. E obrigado pelo seu compartilhamento.

    Sobre a "teimosia de certas pessoas", te digo que já fui um. Fui sobre muita coisa, mas hoje, graças ao bom Deus, as vendas caíram. Porém tem muita estrada pela frente.

    El Kabong, o que posso te dizer é coragem, persevere, obre, marche. Porque muitas vezes nesta caminhada espalhando sementes por querer ou não, surgirão resultados. É uma lei : é plantando que se colhe, ou para cada ação existe uma reação. E abra seu leque de opções para 'evangelização' sem desistir dos atuais. As tuas angústias são as de muitas pessoas. E o número cresce. Coragem. Não tem nada perdido.

    Também oro e torço pra que algo aconteça que tire as vendas, a letargia, o comodismo que se encontra o grosso da sociedade. Revelando a fetidez, a perfídia de tudo isso que conseguimos, ou deixam-nos, saber.

    Termino deixando um vídeo. Espero que te seja útil http://www.youtube.com/watch?v=uDo8xAQGrI8
    E procure assistir os vídeos da dra. Damares.

    Um forte abraço



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"Numa época de mentiras universais, dizer a verdade é um ato revolucionário."
George Orwell

"Até que os leões tenham seus próprios historiadores, as histórias de caçadas continuarão glorificando o caçador."
Eduardo Galeano

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