Chandak Sengoopta - The Independent, 03/09/2010
“Não me tornei o Primeiro Ministro do Rei para comandar o fim do Império Britânico,” declarou pomposamente Winston Churchill em 1942. A paixão pelo império não se refletiu, contudo, na missão de proteger as vidas dos súditos distantes do Rei, especialmente os indianos, “um povo bestial com uma religião bestial.” Em 1943, enquanto milhões estavam morrendo de fome em Bengala, Churchill não somente se recusou a ajudar mas preveniu outros de fazê-lo, comentando que os indianos “se reproduzem feito coelhos.” Os defensores de Churchill, mais interessados na dentadura do grande estadista do que em seus crimes de guerra, têm feito de tudo para manter essa estória estarrecedora em total silêncio.
As narrativas populares da Segunda Guerra Mundial publicadas na Europa e na América do Norte tendem a focar nas aventuras heroicas das nações aliadas enquanto elas lutavam contra a ameaça do fascismo. Todos os anos, editoras lançam dezenas de livros sobre a Batalha da Inglaterra, El-Alamein, Dia-D, Iwo Jima e outros episódios militares dramáticos da guerra. As narrativas centradas em batalhas tendem a diminuir, ou mesmo apagar, os efeitos duradouros da guerra já que são vistos como acontecendo longe dos principais teatros de conflito, especialmente nas colônias.
Muito tem sido escrito sobre a fome em Bengala na Índia e América, mas a maioria se concentra em fatores locais. A Guerra Secreta de Churchill, de Madhusree Mukerjee, direciona o desastre em seu contexto imperial, mostrando como a estória da fome está conectada com a história do movimento “Libertem a Índia” de Gandhi e com as atitudes e prioridades de Churchill e seu gabinete de guerra. Ele mostra como Churchill e seus associados poderiam ter facilmente impedido a fome com poucos envios de grãos, mas se recusou, apesar dos apelos repetidos de dois vice-reis sucessivos, do próprio Secretário de Estado de Churchill para a Índia e mesmo do presidente dos Estados Unidos.
Epidemias de fome, que nunca foram vistas na Índia, tornaram-se gradativamente letais durante o Raj[1] por causa da exportação de grãos e a substituição de safras de alimentos por índigo ou juta. A Segunda Guerra tornou as coisas piores, especialmente após as forças japonesas ocuparem a Birmânia em 1942, cortando as importações indianas de arroz. Então, um ciclone destrutivo atingiu a costa de Bengala justamente quando as colheitas de inverno cruciais estavam amadurecendo e o arroz remanescente foi destruído por doença. Funcionários do Raj, temendo uma invasão japonesa, confiscaram tudo que poderia ajudar a força invasora – barcos, mapas, veículos motorizados, elefantes e, mais crucial, todo arroz disponível. Os japoneses nunca invadiram, mas um público em pânico – e muitos empresários – imediatamente começou a estocar arroz e a comida popular desapareceu dos mercados.
Os estoques estatais foram liberados, mas somente para o povo de Calcutá, especialmente empresários britânicos e seus empregados, trabalhadores de ferrovias e portos e funcionários do governo. Lojas controladas foram abertas para cidadãos menos importantes de modo que a população urbana de Calcutá não sofreu muito. As massas rurais, contudo, foram deixadas às moscas. Isto aconteceu quando Churchill poderia ter feito a diferença ao enviar trigo ou arroz para Bengala, e não seria preciso grandes quantidades. O objetivo seria acumular produtos pouco lucrativos e, como o vice-rei Lorde Linlithgow percebeu, “o mero conhecimento das importações iminentes” teria baixado o preço do arroz.
Churchill e seu gabinete de guerra, entretanto, decidiram reservar o embarque reserva disponível para levar comida à Itália no caso dela cair nas mãos aliadas. O nacionalista indiano Shbhas Chandra Bose, então lutando ao lado das forças do Eixo, ofereceu enviar arroz da Burma, mas os censores britânicos sequer cogitaram relatar essa oferta. A Austrália e o Canadá estavam ansiosos para enviar trigo, mas virtualmente todos os navios mercantes localizados no Oceano Índico moveram-se para o Atlântico no sentido de levar comida para a Grã-Bretanha, que já possuía uma situação confortável de estoques.
Assim, centenas de milhares morreram nas vilas de Bengala e, em meados de 1943, hordas de pessoas famintas fluíam para Calcutá, a maioria morrendo nas ruas, frequentemente em frente às lojas ou restaurantes servindo refeições saborosas. O clima da metrópole, um jornalista notou, estava cheio daquele “odor ácido característico que as vítimas exalam quando estão próximas do fim.”
Em Londres, o conselheiro adorado de Churchill, o naturalista Frederick Alexander Lindemann (Lorde Cherwell) era impassível. Um crente convicto da teoria malthusiana da população, ele culpava a alta taxa de nascimento indiana pela fome – enviar mais comida pioraria a situação ao encorajar os indianos a se reproduzir mais. O Primeiro Ministro compartilhava da mesma opinião e a expressou de forma tão doce que Leo Amery, Secretário de Estado para a Índia, explodiu de raiva, comparando sua atitude à de Hitler.
Frederick Alexander Lindemann (Nasceu em Baden-Baden na Alemanha, 5 de abril de 1886 — Londres, 3 de julho de 1957), físico de origem judaica.
Os simpatizantes de Churchill sempre negaram que seu ídolo tivesse tido condições de aliviar a fome em Bengala. O embarque, eles afirmam, era raro e não era possível enviar comida para Bengala. Mukerjee detona esta “inexatidão terminológica” com precisão. Havia possibilidade de embarque no verão e outono de 1943, graças à transferência de navios cargueiros americanos para o controle britânico. Churchill, Lindemann e seus associados próximos simplesmente não consideraram as vidas indianas dignas de serem salvas.
Mukerjee pesquisou este holocausto esquecido com grande cuidado e rigor forense. Pesquisando uma grande variedade de fontes, ela não somente lança luz sobre a responsabilidade imperial na questão da fome, mas em uma série de assuntos relacionados, tais como o florescimento do nacionalismo nos distritos atingidos pela fome, a fúria de Churchill sobre o crédito financeiro que a Índia estava conseguindo em Londres ou a situação terrível nas vilas mesmo após a epidemia de fome estar tecnicamente encerrada. Seu relato emocionante da brutalidade imperial envergonhará os admiradores do Maior dos Bretões e assustar todos os outros.
Nota do tradutor: estima-se o número de vítimas entre 1,4 e 4 milhões de pessoas.
http://www.independent.co.uk/arts-entertainment/books/reviews/churchills-secret-war-by-madhusree-mukerjee-2068698.html
Fonte : http://epaubel.blogspot.com.br/2014/01/sgm-o-holocausto-esquecido-de-winston.html
Leia também as partes 1, 2, 3, 4 e 6 :
http://desatracado.blogspot.com.br/2014/01/churchill-criminoso-de-guerra-e-macon-16.html
http://desatracado.blogspot.com.br/2014/01/churchill-criminoso-de-guerra-e-macon-26.html
http://desatracado.blogspot.com.br/2014/01/churchill-criminoso-de-guerra-e-macon-36.html
http://desatracado.blogspot.com.br/2014/01/churchill-criminoso-de-guerra-e-macon-46.html
Abraços
Esse cara era um TREMENDO de um CACHACEIRO...
ResponderExcluirTabagista, maçon, violento, etc...sabia que as vezes ele recebia autoridades estrangeiras em sua residência semi-nu ou mesmo nu ?
ExcluirUm sujeito desse não tem caráter. Não tem noção de limite.
Caro Cobalto como alguem pode ser de ORIGEM judaica?
ResponderExcluirOnde é esse MARAVILHOSO País a judeia?
Acho que meu mapa mundi está incompleto....
Acho que eles entendem como país deles sendo o planeta todo.
ExcluirGrande abraço, Ragi