sexta-feira, 28 de março de 2014

Israel, a falsa aliada dos EUA

Estudo americano critica a política pró-Israel dos Estados Unidos

Corine Lesnes, correspondente em Washington

         

Num ensaio intitulado "O lobby israelense e a política externa dos Estados Unidos", os professores Stephen Walt, diretor de pesquisas da Faculdade Kennedy da Universidade Harvard, e John Mearsheimer, professor de ciências políticas na Universidade de Chicago, estimam que os Estados Unidos confundem com freqüência excessiva seu interesse nacional com o do Estado judeu, correndo com isso o risco de "comprometer sua segurança".

Eles incriminam a ação do "lobby pró-israelense", um grupo que eles definem como composto por indivíduos e organizações que "trabalham ativamente" com o objetivo de influenciar a diplomacia americana.

"Outros grupos de pressão conseguiram orientar a política externa americana na direção que eles queriam, mas nenhum deles conseguiu, como fez este grupo, atrair esta política para rumos tão distantes daquilo que o interesse nacional americano recomendaria, conseguindo, ao mesmo tempo, convencer os americanos de que os interesses dos Estados Unidos e de Israel são mais ou menos idênticos", escrevem os dois pesquisadores.

Este texto de 83 páginas, que foi publicado on-line no site da Harvard, no quadro da série dos "documentos de trabalho", não foi retirado do site apesar dos protestos das associações pró-israelenses; contudo, a universidade mandou acrescentar um parágrafo em margem no qual ela indica que o texto é de responsabilidade exclusiva dos seus autores.

A tese vai no contrapé do raciocínio habitual nos Estados Unidos, segundo o qual a ameaça terrorista aproximou mais ainda Israel e a América. Para os dois universitários, que contam entre os animadores da escola "realista" em matéria de política internacional, se os Estados Unidos enfrentam problemas com o terrorismo, "isso se deve em boa parte ao fato de eles serem aliados de Israel, e não o inverso".

Da mesma forma, os Estados Unidos "não precisariam se preocupar tanto" com a ameaça iraquiana ou síria, se isso não representasse um perigo para a segurança de Israel. Um Irã dotado da bomba atômica não constituiria um "desastre estratégico" tão grande, uma vez que o regime de Teerã sabe que ele se exporia a uma resposta fulminante.

Desde o fim da guerra fria, estimam os pesquisadores, Israel deixou de aparecer como "um trunfo estratégico" capaz de ajudar a conter a expansão soviética na região, tornando-se muito mais um "fardo". Para os dois professores, que na época manifestaram sua oposição à guerra no Iraque, o lobby foi, junto com o governo israelense, não o único fator, e sim "um elemento crítico" na decisão de derrubar o regime de Saddam Hussein pelas armas.

"Operações de espionagem"

Os autores lembram que Israel é o principal país beneficiário da ajuda econômica e militar dos Estados Unidos, cerca de US$ 500 (R$ 1.074,90) por habitante, por ano, enquanto a sua renda per capita é equivalente àquela da Espanha ou da Coréia do Sul. Israel recebe a quantia de uma vez só, diferentemente de outros países, o que lhe permite investi-la e faturar as taxas de juros. Os outros países são, na sua maioria, obrigados a abastecer em equipamentos militares junto aos Estados Unidos, o que não é o caso de Israel, que faz viver sua indústria militar.

Mas nem por isso o Estado judeu se comporta como um "aliado leal", acusam Stephen Walt e John Mearsheimer. Ele vendeu tecnologia sensível para a China. Os autores citam também um relatório do organismo orçamentário do Congresso (GAO), segundo o qual, entre todos os aliados, Israel é o país que "vem se dedicando a operações de espionagem entre as mais agressivas contra os Estados Unidos".

Dois membros da principal organização de lobby, o Aipac (American Israel Public Affairs Committee) que se define ela mesma como "o lobby da América pró-israelense", respondem a processo por terem transmitido informações confidenciais sobre o Irã que eles haviam obtido junto ao analista do Pentágono Larry Franklin. Este último foi condenado, em janeiro, a 13 anos de prisão.

Logo quando foi publicado, o texto suscitou críticas virulentas, principalmente em relação ao trecho que questiona os círculos de reflexão e a imprensa pela sua parcialidade em favor de Israel. John Mearsheimer indicou à reportagem de "Le Monde" que nenhuma publicação americana aceitou reproduzi-lo.

Os dois pesquisadores iniciaram este trabalho em 2002, depois de terem ficado impressionados pela maneira com que Ariel Sharon havia ignorado os pedidos do presidente Bush para suspender a operação de retomada de controle das cidades da Cisjordânia, embora tal operação prejudicasse a imagem dos Estados Unidos perante o mundo árabe.

"A nossa ambição é de contribuir para que os Estados Unidos sigam uma política que atende ao interesse nacional americano", diz. "Nós não achamos que a guerra no Iraque corresponda a este interesse. Na época, parecia claro que esta política era conduzida, em grande parte, pelo lobby israelense. Por isso, pareceu-nos fazer sentido escrever a este respeito e abrir o debate".

Fonte : http://www.alfredo-braga.pro.br/discussoes/criticapolitica.html

Abraços

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