domingo, 23 de fevereiro de 2014

Dormindo com a Wehrmacht (1/3)

A colaboração horizontal

Livro editado na França esclarece um fato obscuro do país: as jovens que se prostituíram com os soldados alemães durante a Ocupação nazista
Ivan Claudio

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Sem bombas: Um soldado alemão namora uma francesa diante da Torre Eifell: Paris tornou-se uma espécie de parque de diversões sexuais durante a Segunda Guerra Mundial.

Turistas de todo o mundo invadem as mesinhas redondas do Café de Flore, no Boulevard Saint-Germain, em Paris, na fantasia de reviver a aura dos anos do existencialismo. Nem suspeitam que, durante a Segunda Guerra Mundial, essas mesmas mesinhas eram ocupadas por outro tipo de boêmio. Engalanados em suas fardas cinzas, encimadas por colarinhos verdes, os oficiais da Wehrmacht, as forças armadas nazistas, usufruíam da noite parisiense como privilegiados turistas de guerra. Vindos do front oriental, eles aproveitavam horas de puro deleite e diversão. E isso na melhor das companhias - charmosas e elegantes mulheres francesas. Calcula-se que durante os quatro anos da Ocupação, quando a região norte da França ficou sob o poder da Alemanha (Paris incluída), 100 mil mulheres francesas se tornaram prostitutas ocasionais para servir à clientela nazista. Nesse período, nasceram 200 mil crianças bastardas. Esse episódio, que ficou conhecido como "a colaboração horizontal" está vindo à luz agora com detalhes inéditos no livro 1940- 1945 - Années erotiques Tome 2 - de la grande prostituée a la revenche dês mâles (1940-1945 - Anos eróticos Vol. 2 - da grande prostituta à vingança dos machos). O seu autor é o historiador francês Patrick Buisson.

             

Buisson é conselheiro do presidente francês Nicolas Sarkozy e diretor do canal a cabo Histoire. No ano passado, ele deixou o país estarrecido com as revelações do primeiro volume da série, intitulado Vichy ou os infortúnios da virtude (Vichy era a capital do governo francês durante a Ocupação). Buisson repete a dose ao se aprofundar nesse período tabu da recente história do seu país. Segundo suas pesquisas, a simpatia de parte das mulheres francesas pelos soldados nazistas começou primeiro na elite. Mas, como as camadas populares se espelham no estilo de vida dessa elite, tal simpatia logo se alastrou - chegando até as donas de casa interioranas, cujos maridos se encontravam no front (no total, foram dois milhões de soldados franceses). Daí para as adolescentes, foi apenas o tempo de uma troca de olhares. Além do encanto, havia também a penúria financeira dessas mulheres das classes mais pobres.

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O livro abre com as suntuosas festas oferecidas aos oficiais alemães de grande patente na embaixada da Alemanha, borbulhantes de champanhe, atrizes e cantoras da moda. Logo, a sociedade parisiense repetiria o ritual, especialmente nas chamadas "quintas-feiras de Florence", acontecidas no Hotel Bristol. Florence Gould era casada com o milionário das ferrovias Frank Jay Gould e promovia encontros culturais que passaram a incorporar os alemães francófonos, entre eles os escritores e militares Ernst Jünger e Gerhard Heller. "Pelo menos duas vezes Florence baixou a guarda: primeiro diante do major da aeronáutica Ludwig Vogel, um homem robusto de 30 anos", escreveu Buisson. O segundo amante foi o próprio Jünger, "coqueluche dos salões". O exemplo de Florence foi seguido por muitas estrelas parisienses, como a atriz Mireille Balin, do filme O demônio da Argélia, que largou o marido, o cantor italiano Tino Rossi, para viver um romance com o oficial Birl Desbok. Ela passou a exibi-lo como "um troféu sexual", segundo Buisson.

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O caso mais escandaloso foi o da atriz Arletty, que justificaria assim a sua colaboração horizontal: "Meu coração é francês, mas meu traseiro é internacional." Esse foi o lema adotado nas ruas pelas prostitutas, cujo trabalho foi favorecido por uma lei que legalizava as chamadas "maison close". Os prostíbulos de luxo, enumerados em guias escritos em alemão, passaram a funcionar a pleno vapor, satisfazendo ideologia higienista dos nazistas - segundo eles, o sexo praticado nas casas de tolerância era mais fácil de controlar do ponto de vista sanitário. Buisson colheu o depoimento de Fabienne Jamet, dona do bordel One-Two-Two, um dos mais frequentados na época: "Jamais, na França, os prostíbulos foram tão bem cuidados quanto na presença dos alemães." Chamados no passado de "boches" (cabeças duras), os nazistas passaram a receber tratamento especial porque, entre outras coisas, tinham o hábito de presentear as francesas com flores e chocolates. Além disso, o que a mulher de um soldado francês ganhava em um dia prostituindo-se era três vezes mais do que ela recebia do governo como auxílio de sobrevivência. Para seduzir o inimigo, as mulheres tingiam os cabelos de preto, porque acreditavam que assim ficariam mais exóticas para os alemães.

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Nesse período, entre 500 mil e 1,2 milhão de nazistas passaram pela França e foi nas classes populares que eles se mostraram mais bem-sucedidos em seus galanteios. "Faxineiras, copeiras, enfermeiras, cozinheiras, costureiras, professoras, funcionárias dos correios, balconistas, colegiais: ela tem muitas faces, mas uma só figura. Ela é aquela que dorme com o inimigo", escreveu Buisson. Com a França libertada em agosto de 1944, veio a reação: 20 mil jovens foram humilhadas, apedrejadas, cuspidas e tiveram as cabeças raspadas em praça pública. Eram as "tondues" (raspadas), uma delas eternizada com o filho nos braços em célebre foto de Robert Capa. Depois da "colaboração horizontal", chegava a vez da "vingança dos machos", feridos no que havia de mais sagrado em seu orgulho patriótico: a virilidade.

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1940-1945 Années Érotiques (Anos Eróticos), o livro é uma profunda análise das paixões francesas durante a 2ª GM com os militares alemães. Uma pesquisa magistral de mais de mil páginas, realizada pelo cientista político, historiador e sociólogo Patrick Buisson. Nesta obra, Buisson certamente prejudica o mito popular de que no tempo de Paris ocupada por tropas alemãs foi um período sombrio de privação implacável, perseguição e resistência.

        
       
A maioria das meninas eram tão encantadas com os invasores arianos que fizeram um grande esforço para fazê-los se sentir em casa, inclusive aprendendo alemão, colocando em performances de suas músicas clássicas favoritas, até mesmo pintando o cabelo de preto para fornecer um contraste exótico para seus clientes predominantemente loiros.

Médicos alemães examinaram as prostitutas três vezes por semana para garantir que não haviam doenças, evitando qualquer surto de doença venérea considerado um "ato de sabotagem".

Isto seguiu-se a uma tradição napoleônica. Este imperador francês ordenou o registro e inspeção de saúde bi-semanal de todas as prostitutas no início do século 19.

Apesar dos enormes lucros envolvidos, Buisson sugere que não foi apenas o incentivo financeiro que fez as mulheres francesas acolherem os alemães com tanto calor.

        

Elas foram realmente impressionadas com o charme e o comportamento cavalheiresco de muitos dos oficiais teutônicos.

Buisson diz: "Tudo indica que aos novos clientes que chegaram no verão de 1940, foram dadas uma forma favorável de tratamento que o poder sedutor do Reichsmark por si só não pode explicar totalmente."

Em suma, as mulheres muitas vezes preferiram os invasores alemães que seus próprios compatriotas.

Muitas tem boas lembranças dos galantes e bonito soldados, especialmente membros de unidades de elite nazistas, como a SS.

A atividade sexual, muitas vezes chegar a um frenesi antes do início de uma ofensiva militar, como aconteceu no verão de 1941, antes da invasão da Rússia, quando as tropas desfrutando de uma vida confortável em Paris sabia que sua próxima parada seria a Frente Oriental.

Recordando alguns de seus clientes favoritos, Madame Jamet (dirigente do One Two Two) disse: "Lembro-me este SS, todo de preto, tão jovem, tão bonito, muitas vezes de uma inteligência extraordinária, que falou perfeito o francês e o inglês."

Enquanto se preparavam para embarcar em caminhões que dirigem para fora de Paris, Madame Jamet disse que ela gritou para eles: "Você é louco, você vai se matar. Tudo que você tem a fazer é enviar o Hitler de tomar o seu lugar na linha de frente."

Para ler mais : http://www.dailymail.co.uk/femail/article-1175836/Sleeping-enemy-How-horizontal-collaborators-Paris-brothels-enjoyed-golden-age-entertaining-Hitlers-troops.html
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Documentário francês "Amour et sexe sous l'Occupation" (Amor e Sexo na Ocupação)
Ano: 2011.
Duração: 80 minutos.
Diretor: Isabelle Clarke e Daniel Costelle.
Uma ideia de Patrick Buisson, com a voz de Anouchka Delon.
Produção CC & C de Louis Vaudeville.

Sinopse: O documentário mostra um lado pouco conhecido sobre fatos ocorridos durante a 2ª GM na França e explora esses anos de caos, onde a proximidade com a morte fortaleceu o desejo de felicidade individual, o prazer e a transgressão. São as relações íntimas das mulheres francesas prostitutas ou não com o ocupante invasor alemão.

Julho 1940: Os alemães se estabeleceram como senhores sobre a França derrotada. Os soldados alemães impressionam com o seu poder militar os franceses devido a vitória rápida e indiscutível. Uma operação de sedução entre ambas as partes entra em pleno andamento. Bordéis e casas de show abundam e lucram com os novos clientes alemães. Os bordéis mais exclusivos tornam-se um lucrativo mercado negro dirigido por aproveitadores da guerra. É nesta a multidão de cabarés e boates que acontece o documentário. Foi um período em que cerca de 200.000 nascimentos foram o resultado de casos de amor ilícito com o inimigo. Quando chega o verão de 1944, a euforia da libertação, por vezes, se transforma em acerto de contas: milhares de mulheres francesas são humilhadas, espancadas publicamente como castigo por terem colaborado, espionado e dormido com o inimigo alemão.

https://www.youtube.com/watch?v=7BYRgRnW6ZU

Veja também partes 2 e 3:

http://desatracado.blogspot.com.br/2014/02/dormindo-com-wehrmacht-23.html

http://desatracado.blogspot.com.br/2014/02/dormindo-com-wehrmacht-33.html

http://desatracado.blogspot.com.br/2014/01/crimes-dos-herois.html

http://desatracado.blogspot.com.br/2014/01/milhares-de-alemas-estupradas-pelos.html

Abraços 

4 comentários:

  1. Boa noite Cobalto!
    Tem um detalhe , a mulher Francesa é mais ardente , louca por amor e sexo, do que qualquer outra na Europa.
    EDUARDO-SP

    ResponderExcluir
  2. Disso também não sabia. Tem alguma fonte ?

    Abraços, caro eatmyump

    ResponderExcluir

"Numa época de mentiras universais, dizer a verdade é um ato revolucionário."
George Orwell

"Até que os leões tenham seus próprios historiadores, as histórias de caçadas continuarão glorificando o caçador."
Eduardo Galeano

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