sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Crianças de ontem e de hoje



Horrolezeiras

por Mírian Macedo

Horror: as rolezeiras são, em sua maioria, semi-analfabetas. A fala é na base do 'nóis pega os peixe". É só ouvir:  "Os meninos é muito vaidoso", "eles vai", "nóis entrá", "eles fez arrastão", "quem zuou foi os pulícia", e por aí vai.

O que choca é o fato da indigência gramatical não corresponder à realidade exterior: as rolezeiras são todas bem vestidas, bem cuidadas, usam aparelhos nos dentes, têm celulares 'da hora' e desfilam modelitos que estão longe de custar folclóricos 1,99. Por que, então, falam tão errado? Por que o desprezo pela norma culta? Por que isto é assim? É por serem meninas 'pobres, da periferia'? Então, tá.

Eu nasci em berço de ouro, fiz o primário em colégio francês, mas as vicissitudes da vida alteraram o que parecia ser um destino de princesa. Dificuldades financeiras da família obrigaram-me a estudar em escolas públicas e a morar na periferia de Brasília.

Eu vivi parte da infância e adolescência submetida a privação material de toda ordem, mas ninguém tirou de mim a alegria de sorrir (não sou amarga) e o gosto de aprender. Eu era (sempre fui) a melhor aluna da classe. Eu gostava de estudar, saber, perguntar, ler.

Por falta de dinheiro, nós não tínhamos quase livros de leitura e boa literatura em casa. Para mim, isto não foi nenhum problema: eu era rato de biblioteca (qualquer uma, da escola, biblioteca municipal, da universidade, onde fosse); minha ficha de retirada de livros em todas elas sempre foi um calhamaço de folhas e folhas grampeadas.

Na quarta-série do ginásio, eu concorri pelo meu colégio à disputa de Melhor Caderneta Escolar de todo o Distrito Federal, patrocinada pela Alitalia. O prêmio era uma viagem a Roma, fiquei em terceiro lugar entre dezenas de concorrentes. Minha média geral no colégio era 8,9.

Fiz o científico também em escola pública (eram boas, naqueles anos, entre as décadas de 60 e 70) e passei no primeiro vestibular para Jornalismo, na UnB. Formei-me com média 4, no total de 5, que era a nota máxima.

Quando eu era adolescente, eu tinha tudo para culpar 'a sociedade' por ser 'excluída', 'oprimida' e ' explorada': afinal, a vida era dura, a grana era curta, o ônibus era cheio, o guarda-roupa era modesto (mas eu era linda hehe).

Em vez de curtir o vitimismo, eu sempre inventava coisas para ganhar algum dinheiro. Aos 18 anos, no primeiro ano de faculdade, saí da casa de meus pais e fui morar sozinha. Trabalhava para pagar aluguel, comer, ir ao cinema. Fiz estágio no SESC, dei aula, até começar a trabalhar em jornal, em 1975. O dinheiro sempre foi curto. Depois, melhorou.

Hoje, com sessenta anos, três filhos e trinta e três anos de casada, eu tenho uma vida confortável, sem sobressaltos ou grandes dificuldades. Sou a rainha do lar, meu trabalho é cuidar de minha família. Não precisaria, se quisesse, abrir um livro.

Mas nunca parei de aprender, mesmo quando o tempo era (ainda é) quase nenhum, pelos cuidados com os filhos pequenos, a casa, a família. Atualmente, entre livros, sites, hangouts e palestras pela internet, ainda sou aluna (quase medíocre), desde 2009, do Curso Online de Filosofia de Olavo de Carvalho.

Quando reclamo que aqui em casa faltam estantes, meu filho brinca: "Não, mamãe, sobram livros". Costumo alardear que são três mil, mas dou desconto de 50%, faço por mil e quinhentos. Dois mil, fechado!


E vem esta garotada com este papo de "nóis pega os peixe"? Ora, vão rolezar numa biblioteca!

Fonte : http://doislobos.blogspot.com.br/2014/02/eis-o-futuro-do-brasil-parece-um.html

Se essa juventude é o futuro do país, estamos ferrados. E ainda tem louco considerando a democracia, o estado laico algo evolucional, de que o país melhorou e por aí vai.

Abraços

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