“Porque
é uma função
de Estado… evitar que um
Povo seja levado aos braços da loucura espiritual… porque no dia em que esse tipo de arte de fato corresponder à concepção geral, uma das mais severas mudanças da humanidade terá começado; o desenvolvimento às avessas do cérebro humano”
de Estado… evitar que um
Povo seja levado aos braços da loucura espiritual… porque no dia em que esse tipo de arte de fato corresponder à concepção geral, uma das mais severas mudanças da humanidade terá começado; o desenvolvimento às avessas do cérebro humano”
Minha Luta
Adolf Hitler
É
sabido que o ditador nazista Adolf Hitler havia construído um
sólido padrão estético por trás de suas teorias sobre a pureza
da raça ariana. Sua abordagem estava centralizada na perfeição do
corpo físico ariano. Enfatizava um ideal de beleza e pureza de
formas que deixava de fora toda a arte moderna. A partir de 1933, a
Alemanha assistiu exposições patrocinadas pelo estado nazista que
mostravam a “arte decadente” contra a qual a cultura alemã
legitima deveria insurgir-se.
Na
Itália Fascista de Mussolini não foi bem assim. Keith Christiansen
sugere que podemos até mesmo falar de arte no Fascismo sem
referência à arte fascista. Na Itália, desde as lutas pela
unificação, a arte sempre esteve ligada à política e ao
nacionalismo, mas as reformas sociais que advogavam nunca estavam
associadas a nenhum regime político em particular. Naturalmente, a
partir de Mussolini temos um estilo de arte que será defendido pelo
Estado (notadamente o Futurismo de Marinetti). Entretanto, as
tentativas de uniformização não surtiam efeito, o que tornava as
artes na Itália facista surpreendentemente variadas se comparadas
às da Alemanha nazista(1).
Do tempo do regime de Mussolini fica apenas a lembrança amarga do medo de contrariar o governo, como no comentário que o então crítico de cinema e futuro cineasta famoso (no pós-guerra) Michelangelo Antonioni escreveu a propósito da estréia de um famoso filme ultra-anti-semita feito na Alemanha. Judeu Süss era o filme, e o comentário de Antonioni foi elogioso. Consta que, um mês depois, Antonioni escreveu outro artigo em que questionava a forma maniqueísta como o judeu era inserido na trama, assim como o excesso de violência desse personagem (2). (imagem acima, Les Demoiselles D'Avignon, de Pablo Picasso, 1907. Ao lado, Mariage des Masques, de James Ensor, 1910).
Comentários políticos moralizantes e slogans pejorativos eram dispostos nas paredes ao lado das obras e também no catálogo da exposição. O curioso é que essa desordenação das obras e os slogans reproduzem procedimento baseado numa idéia criada pelo Dadaísmo anos antes – cuja intenção havia sido mesmo chocar o público; um detalhe irônico, mas que dá a dimensão da problemática relação a certos comportamentos recorrentes quando se trata de questionar a validade do ponto de vista de alguém. Entretanto, a estratégia era apenas aparentemente caótica. As obras eram classificadas por temas, estes é que eram chocantes: “Fazendeiros Vistos Pelos Judeus”, “Insulto à Feminilidade Germânica”, “Zombando de Deus”. Tudo arrumado de forma a gerar protesto contra os judeus e contra a linha estética das obras. (imagem ao lado, O Grito, de Edvard Munch, 1893)
A intenção era mostrar a arte moderna como sendo o último capítulo de uma época de barbarismo enquanto, noutra exposição, mostrava-se aquilo que os nazistas propunham ser o nascimento de uma nova fase na cultura e na arte. Bem próximo dali, no Museu Casa da Arte Alemã, estavam expostas obras “puras” e/ou “apropriadas”, de artistas como Dürer, Cranach e Holbein, os favoritos de Hitler. Curiosamente, a freqüência foi bem menor aqui! A imprensa juntou-se aos nazistas contra a arte moderna, anunciando orgulhosamente que “a limpeza do templo da arte Alemã foi completo” (4). Joseph Goebbels, o Ministro da Propaganda, conseguiu fazer parecer que o público era o verdadeiro juiz da arte. Goebbels chamou de esnobes àqueles do povo que temiam questionar aos que ele chamava de “representantes da decadência e declínio” com sua “arrogância insolente”.
Inicialmente,
qualquer obra de arte moderna em qualquer área, música,
literatura, arquitetura, escultura ou pintura, era considerada
“degenerada”. Posteriormente, o critério se expandiu até
incluir qualquer objeto que tenha sido feito por judeus ou
comunistas. A definição de “arte degenerada” incluía tudo
que não se adequava ao ideal nazista. A idéia é “purificar”
os museus por toda a Alemanha. Muita coisa foi vendida, trocada ou
roubada. Hitler percebeu que a venda poderia ser proveitosa para
os cofres do partido… O que não tinha valor de troca ou venda
pelos bizarros padrões vigentes era simplesmente destruído. Em
20 de março de 1939, 1004 pinturas, 3825 aquarelas e muitos
desenhos e trabalhos gráficos foram queimados nos fundos do corpo
de bombeiros de Berlin - a partir da anexação da Áustria, em
março de 1938, a caçada pela arte “impura” começou lá
também. (imagem acima, As Mães, xilogravura de Kaette
Kollwitz, 1923. Muito admirada na Alemanha, o trabalho de Kollwitz
era direcionado aos problemas sociais; Ao lado, cartaz para uma
das exposições de Arte Degenerada; No final do artigo,
Metrópolis, Tríptico de Otto Dix, 1927/8. Dix mostra a
burguesia alemã numa busca alienada pelo prazer. Ela procura
esquecer os farrapos humanos e mendigos, fruto dos horrores da 1ª
Guerra Mundial)
Na
música, Bach, Beethoven, Brahms, Wagner e Haendel eram
considerados promotores da superioridade ariana. Toda música
escrita por judeus ou simpatizantes foi banida. O expressionismo
abstrato na música, assim como o atonalismo, foi considerado
degenerado. O jazz também foi incluído nesta lista (imagem
abaixo, à esquerda, cartaz da exibição da Música
Degenerada; à direita, Retrato de Emy, Karl
Schimdt-Rotluff, 1919). Após as leis raciais de 1933, todos os
músicos tinham que se registrar. Como resultado, muitos tiveram
seus trabalhos censurados e suas carreiras encerradas. Também
houve, para a música, uma exposição nos moldes daquela
direcionada à pintura e escultura. Mendelssohn, Mahler e
Schoenberg, foram usados como exemplo de música impura.
Mas
o que propunham os nazistas? Que tipo de imagens deveriam ocupar
as retinas do povo alemão? O regime nazista de alguma forma foi
capaz de criar uma "arte alemã"? Estava essa arte
realmente articulada com a tradição? Na verdade, a iconografia
da pintura no regime nazista, dito Nacional Socialista, era
bastante limitada. Poucos temas, muito repetidos, eram suficientes
para expressar toda a mensagem. Peter Adam afirma que os temas do
regime não eram apenas a expressão direta de idéias políticas,
mas estavam também na base daquele sistema político em todos os
aspectos (5). Os temas: natureza, vida no campo, a mulher alemã,
retratos femininos, o homem alemão, o trabalhador, retratos do
partido, retratos de Hitler, pinturas anti-semitas e abertamente
doutrinárias. Como afirmou Hitler, em discurso no Dia do Partido,
em Nuremberg no ano de 1935…
“Enquanto
estamos certos
de expressar corretamente
na política o espírito e a fonte
da vida de nosso povo, também acreditamos ser capazes de
reconhecer seu equivalente
cultural e realizá-lo”
de expressar corretamente
na política o espírito e a fonte
da vida de nosso povo, também acreditamos ser capazes de
reconhecer seu equivalente
cultural e realizá-lo”
No Brasil de Getúlio Vargas, que oscilava entre o nazi-fascismo e a política de boa vizinhança do presidente norte-americano Franklin D. Roosevelt, as coisas não foram tão neutras quanto se poderia esperar. Mais especificamente no Rio de Janeiro quando, em 1942, por iniciativa da Galeria Askenazy, foi realizada uma exposição desse tipo. Também chamada de Arte Degenerada, reuniu originais de artistas como Kaethe Kollwitz, Lovis Corinth, Max Slevogt, Kokoschka, Kandinsky, Chagall, Paul Klee e Woller, entre outros - tendo sido rasgada uma tela de Woller, que, aliás, vivia então no Brasil (6).
(1) CHRISTIANSEN, Keith. Italian
painting.
Beaux Arts Editions. 1992, pág. 300.
(2) RENTSCHLER, Eric. The Ministry of Illusion. Nazi cinema and its afterlife. Massachusetts: Harvard Univ. Press, 1996. Págs. 153-4.
(3) ADAM, Peter. The arts of the third Reich. London: Thames and Hudson, 1992. P. 122
(4) Idem, pág.125.
(5) Ibidem, pág. 129.
(6) NAVARRA, Rubem C. "A Arte Degenerada". Jornal de Arte. Campina Grande, 1966, págs. 165-72 In LEITE, José Roberto Teixeira. 500 Anos da Pintura Brasileira – Uma Enciclopédia Interativa. 1999. CD-ROM.
(2) RENTSCHLER, Eric. The Ministry of Illusion. Nazi cinema and its afterlife. Massachusetts: Harvard Univ. Press, 1996. Págs. 153-4.
(3) ADAM, Peter. The arts of the third Reich. London: Thames and Hudson, 1992. P. 122
(4) Idem, pág.125.
(5) Ibidem, pág. 129.
(6) NAVARRA, Rubem C. "A Arte Degenerada". Jornal de Arte. Campina Grande, 1966, págs. 165-72 In LEITE, José Roberto Teixeira. 500 Anos da Pintura Brasileira – Uma Enciclopédia Interativa. 1999. CD-ROM.
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Outros exemplos de obras degeneradas :
Inferno de Pássaros, Max Beckmann A Noite, Max
Beckmann
O
Vendedor de Fósforos, Otto Dix
Queremos Pão!, Otto Dix
Soldado Ferido, Otto Dix Guerra de Trincheiras,
Otto Dix
Caim
ou Hitler no Inferno, George Grosz A Explosão, George Grosz
Os Pilares da Sociedade,
George Grosz
"Porque é uma função do Estado ... evitar que um Povo seja levado aos braços da loucura espiritual ... porque no dia em que esse tipo de arte de fato corresponder à concepção geral, uma das mais severas mudanças da humanidade terá começado; o desenvolvimento às avessas do cérebro humano", Adolf Hitler.
Realmente, é dever do Estado o bem da povo. E arte degenerada não se engloba como sendo benfeitor dos costumes e gostos sociais. Portanto, é mister que o Estado coíba esta pornografia, blasfêmias e mau gosto que pululam nas coletividades humanas.
Realmente, é dever do Estado o bem do povo. Portanto deve ensinar, exortar e promover o belo, o certo, o verdadeiro, o limpo, o justo sem relativismos, sem ideologias tresloucadas, sem fundamentação em modismos passageiros. Mas sempre calcado na Verdade, na Vida e nas Virtudes.
Hitler foi um profeta, porque anteviu com lucidez que quando as pessoas invertessem e relativizassem o certo, o belo, o justo, estariam perdidas. É o que vemos hoje, uma sociedade em degradação geral. E descendo mais.
Abraços
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"Até que os leões tenham seus próprios historiadores, as histórias de caçadas continuarão glorificando o caçador."
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