O cérebro vadio das vadias: a indomável opção pelo nada
Sidney Silveira
Há uma escala na
relação da inteligência com as coisas — que pode ir da compreensão extática de
elevadas verdades até a mais agônica recusa do ser, quando as convicções de uma
pessoa se tornam impermeáveis a todas as evidências em contrário. Neste caso, a
alucinação ganha contornos sistêmicos e é quase impossível sair da ciclofrenia,
ou seja: da loucura circular que até pouco tempo os manuais de psiquiatria
chamavam de psicose maníaco-depressiva. Em situações tais, as certezas do indivíduo
transformam-se na expressão cabal de um delírio. Então, o caminho
apresenta-se desimpedido para que o afastamento da realidade se dê em progressão
geométrica, até gerar taras e monomanias de todos os tipos possíveis e
inimagináveis.
Interessa-nos aqui
mencionar o que chamaremos de delírio
político, caracterizado por um estado crepuscular frenético no qual o
sujeito sonha de olhos abertos, projetando sobre a coletividade um falso ideal
que não é outra coisa senão a tentativa de moldar tudo e todos à imagem e
semelhança de sua própria perda do senso comum. Neste quadro, é completa a
irredutibilidade da convicção delirante a qualquer tentativa de dissuasão. O sujeito constrói a sua visão do mundo a
partir dos destroços de si próprio, e nestes casos não há psicotrópico ou
remédio de tarja preta que dê jeito, pois o problema não é clínico. É
espiritual, noético. O alucinado amansa, é claro, porque o medicamento atua
sobre o sistema nervoso central, mas continua sem manter contato com a realidade
dos valores que conformam a sua humana condição.
Traço típico da
personalidade do delirante político é forjar analogias entre situações
essencialmente distintas, sem ter a menor noção de que se trata de uma petição de princípio, ou seja, do ato de
inserir indevidamente a conclusão nas premissas de que parte. Para tanto, o
delirante conta com o terrível auxílio de dois fatores: a hipertrofia da
sensibilidade, que pode levá-lo a histrionismos patéticos, e a intransigência
autoritária típica dos estados paranóicos, nos quais qualquer objeção é
rejeitada instintivamente — e o objetor, tido como inimigo a ser desqualificado
a qualquer custo. O delírio torna-se sistema vital gerador da incrível e absurda
coerência entre as idéias-fixas que o modelam e a conduta do
sujeito.
O Brasil das
“manifestações” — termo eufemístico que serve de antolhos para o delirante
político não ver os crimes que, direta ou indiretamente, comete ou
apóia — tem dado mostras veementes de como esse
tipo de personalidade brutal, insana, tornou-se endêmica. Na prática, o caminho
para chegarmos à presente situação foi palmilhado por décadas de desinteligência
daquilo que alguns filósofos medievais chamavam de saluberrima veritas, ou seja: o núcleo
de verdades constituintes da essência humana. Não existe nenhum exagero em dizer
que há cinqüenta anos estamos sendo educados para o desespero, e o desespero é a
indomável opção pelo nada.
As marchas das vadias são um dentre tantos
retratos de que, no Brasil atual, delírios megalômanos, pretensiosos e de
maligna puerilidade ganharam voz “política”. Nestes eventos vê-se algo
insólito, levando-se em conta toda a história humana: pessoas a ostentar publicamente a própria
depravação como um troféu — circunstância reveladora de que, em suas pobres
almas, a vaidade alcançou estranho e superlativo grau. Em breves palavras, este
é o signo distintivo de um peculiar transtorno da personalidade, no qual a
referência tirânica ao próprio umbigo vira bandeira social, tendo como adereço
publicitário suplementar algumas tetas murchas, de espontânea feiúra. Coerentes
e fiéis às premissas hedonísticas que lhes servem de sustentáculo,
essas criaturas têm da liberdade uma erudita concepção vaginal-peniana, e também
anorretal.
Para o bem de
todos e felicidade geral da nação, alguém poderia prendê-las por vadiagem
cerebral explícita. Mas não apenas por isto, é claro: os vários delitos
constantes do Código Penal cometidos por elas em eventos dignos de enrubescer um
Calígula — enquanto, com funesta benemerência, a grande imprensa as chama de
“manifestantes” — já há tempos ultrapassaram os limites suficientes para o
Ministério Público denunciá-las. Desta vez, com a naturalidade cênica de quem
tira meleca do nariz, à luz do dia essas vadias enfiaram crucifixos nas suas
asseadas vaginas, como também os introduziram amavelmente nos gulosos ânus dos
seus companheiros de utopia. Quebraram símbolos religiosos, berraram palavrinhas
de ordem, simularam masturbação com a cabeça da imagem de Nossa Senhora e
levaram a cabo (e pelo cabo) outras de suas lúdicas atividades, por acaso
contrárias à lei.
A devoção à imbecilidade é a religião
dessas meninas-moças.
Religião que se propaga como rastilho de pólvora numa sociedade psicótica, ao
mesmo tempo em que representa a narcolepsia social em forma de coletivismo
anárquico.
Como se vê, o
gigante brasileiro acordou. Pena que era um demônio de quinta
categoria.
Abraços
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