terça-feira, 17 de setembro de 2013

O Sucesso do Mínimo


Leitura recomendada
[Nadando contra a Maré... Vermelha]
O Sucesso do "Mínimo":
A Volta do Exílio da Alta-Cultura
Em 1979 o governo João Figueiredo promulgou a Lei da Anistia. Durante um debate que estendeu-se à toda a nação a tal "Anistia Ampla, Geral e Irrestrita" virou realidade.
Decantada em verso e prosa (como Elis Regina "O Bêbado e a Equilibrista " de Bosco e Blanc, ou a versão de "No Woman, No Cry" de Gilberto Gil) a anistia do governo militar permitiu a volta de centenas de exilados e auto-exilados ao país. Todo o país aguardou, festivamente e recebeu mesmo de braços abertos todos aqueles que "partiram num rabo de foguete" de modo a fechar de uma vez a chaga da divisão havida nos anos 60 e seguir em frente. 
Infelizmente não aconteceu nada disso, pelo contrário. Começava aí o capítulo mais marcado da decadência da cultura no País. Decadência que foi não foi somente cultural, mas política e econômica.
 
Economicamente, o modelo adotado durante o regime militar, de cariz fascista/socialista em que um Estado forte "comanda" a economia criando toda a infra-estrutura e sendo dono de boa parte da indústria de base, dava sinais de esgotamento. A inflação comia o poder dos salários, como Beth Carvalho anunciava "depois que inventaram o tal cruzeiro, eu trago um embrulhinho na mão, e deixo um saco de dinheiro" (Saco de Feijão). Nos 80, década tida como "perdida", a inflação atingiria os dois dígitos mensais.  Na política, o modelo de bi-partidarismo, com Arena e MDB também se esgotava. Com a volta dos anistiados chegaria mesmo ao fim, dando lugar a um pluripartidarismo de araque, em que somente as legendas  de esquerda proliferaram.
Nada disso poderia ter tido êxito se não houvesse uma desconstrução cultural cuidadosamente planejada em ação.
 
O motivo era simples: nem todos que voltaram como o Fernando Gabeira, por exemplo, o fizeram para retomar suas vidas, viver e redescobrir o país. Nada disso, voltaram mesmo para "acertar contas" com seus algozes dos anos 60. Começava aí a guerrilha cultural - um dos flancos mais "modernos" da causa esquerdista, herdada diretamente dos protestos de Maio de 1968 (por isso Zuenir Ventura refere-se a ele como "O ano que não terminou") - em que o "movimento" se reagrupava e entrava num momento de análise dos erros e acertos.
 
Desta auto-análise saíram as conclusões do fracasso dos anos 60:
- O movimento foi elitista e intelectual, nunca atingiu o povão.
- O conservadorismo, principalmente da classe média, que obrigou o exército a  agir para resguardar a democracia.
- O exército, claro, a instituição que tirou-os do destino quase alcançado.
 

Para o primeiro caso, os "intelectuais" do partido escolheram um menino do povo - Luís Inácio da Silva, o Lula, líder de um movimento grevista inédito desde os anos 60 - a quem poderiam doutrinar para ser seu agente.
 
Para o terceiro, a única alternativa seria criminalizar os que impediram a vitória nos ano 60. Para isso mesmo a própria Lei da Anistia teria de ser revogada. Mas isso só poderia ser feito com o poder nas mãos...Por isso nada foi feito durante algum tempo.
 
Para o segundo, a tarefa era mais árdua e de longo prazo. Teria de ser combatida seguindo os passos de Antonio Gramsci. Desarmar os inimigos por dentro. Deslocar o eixo do senso comum. Para isso teriam de dominar os "formadores de opinião" do país. Nada que os manuais de tomada comunista já não conhecessem: obter o apoio do "beautiful people", dos intelectuais, promover os amigos, companheiros de viagem e idiotas úteis a formadores de opinião. Criar o "primeiro casal de coelhos", enfim, depois a coisa se reproduziria por si mesma.
 
As décadas seguintes correram céleres a partir destas premissas. A "queda" do comunismo em 1989 forneceu a cortina de fumaça ideal. Não se lutava mais a favor do comunismo, mas contra uma potência mundial hegemônica e perigosa. A formação do Foro de São Paulo, fortaleceu ainda mais os "vingadores" do continente, unindo-os a partir de Cuba. Ao meio da década dos 90, com a adoção do "politicamente correto", introduzido sob os auspícios do governo FHC, a dominação acelerava-se.
 
Mas eis que em 1996, alguém consegue perceber o que se passa lança o seu "J'accuse": "O Imbecil Coletivo" de Olavo de Carvalho.  "Fomos descobertos", devem ter pensado. Olavo foi combatido, debatido e sobreviveu incólume. Em terra de cego quem tem olho é rei? Não no Brasil.
 
À surpresa inicial e ao primeiros anúncios de primeira página sobre os debates acerca do livro ou de seu autor - que já proliferavam nos cadernos de cultura dos principais jornais do país - foi lançada uma "fatwa" (parecida com aquela lançada contra Salman Rushdie pelos "Versos Satânicos"): Ninguém poderia debater com Olavo, ninguém deveria citar Olavo, muito menos respondê-lo. Olavo de Carvalho deveria ser solenemente ignorado.
 
Olavo tentou, neste meio tempo, unir o que poderia ser a resistência contra a tomada avassaladora da esquerda no país, como setores do exército, dos liberais e dos conservadores. Não resultou.
 
Ao mesmo tempo, mesmo com a proliferação dos cursos que promovia em diversos locais no país (tenho o privilégio de ter sido um dos organizadores do curso em Porto Alegre, em 2004 e 2005)  , Olavo começou a ser combatido "por dentro", perdendo seu lugar como colunista em vários veículos importantes do país. Em 2005 deixa o país para um auto-exílio nos Estados Unidos.
 
A esta aparente vitória de seus retratores, começa uma tímida reação: Curso On-Line de Filosofia e o True-Outspeak. Com este último, Olavo conseguiu expandir a sua influência a niveis imagináveis.
 
Em 2013 um "olavette" de peso foi incluído à lista, e causa furor: João Woerdenbag, o Lobão. Ex-Blitz, famoso apoiador de campanhas do PT, Lula e etc, descobre a pólvora e lança um petardo. Com o nome de "Manifesto do Nada Na Terra do Nunca", espanta aos próceres da esquerda pelo conteúdo e enfurece-os pelas entrevistas onde cita Olavo de Carvalho.
 
Neste mesmo ano de 2013, enfim, é lançado um livro - que nem é inédito, pois trata-se de um "the best of" do Olavo, com os melhores textos publicados em diversos jornais e revistas do país entre 1997 e 2012 - "O Mínimo Que Você Precisa Saber Para Não Ser Um Idiota", organizado pelo jovem aluno Felipe Moura Brasil. Sem publicidade, sem investimento em divulgação, é alçado aos primeiros lugares em vendas em todos as listas importantes do país.
 
À isso , somem-se as dezenas de entrevistas que o autor concedeu aos mesmos veículos que tentaram ostracizá-lo no passado, para imensa satisfação do seu público.
 
Estas reações, por espontâneas e marcantes, fazem concluir-me duas coisas:
- O Brasil ainda tem esperança, apesar de tudo. Há uma nova geração que percebe a verdade, mesmo depois de décadas de doutrinação, e que vai em sua busca.
- E sim, a Cultura parece ter voltado de seu exílio ao país.


Abraços

Nenhum comentário:

Postar um comentário

"Numa época de mentiras universais, dizer a verdade é um ato revolucionário."
George Orwell

"Até que os leões tenham seus próprios historiadores, as histórias de caçadas continuarão glorificando o caçador."
Eduardo Galeano

Desejando, expresse o seu pensamento do assunto exposto no artigo.
Agressões, baixarias, trolls, haters e spam não serão publicados.

Seus comentários poderão levar algum tempo para aparecer e não serão necessariamente respondidos pelo blog.

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do autor deste blog.

Agradecido pela compreensão e visita.