O vocabulário diabólico da Unesco
As coisas terríveis às quais aludirei neste texto estão documentadas no livroMaquiavel Pedagogo, de Pascal Bernardin (publicado em português pela VIDE Editorial): são ideias sistematicamente defendidas e propagadas, em documentos oficiais, por cientistas e pedagogos da Unesco. Se não refiro cada uma delas a seu específico lugar é por falta de tempo, e por saber que esse grosso trabalho já está feito e publicado. Por outro lado, mesmo que não houvesse provas textuais, há uma coisa que deveria trazer-me o benefício da dúvida: muito do que vou dizer aqui pode provocar no leitor, como provocou em mim, lembranças de uma idade mais inocente, em que um pervertido obteve permissão de meus pais para estuprar minha consciência, assim aviltando o nome e a glória da profissão de professor.
Não tratarei aqui dos
fins das acções da Unesco. Ela possui um ideário que é, de resto, o mesmo
da ONU, e que não deixa de ter muito em comum com a mentalidade jornalística
brasileira (ou, o que dá no mesmo, com os liberais americanos e europeus).
Tudo o que se diz nos documentos da organização é sempre justificado pela
necessidade de acabar com o preconceito, a discriminação, o
atraso cultural da sociedade, etc. Não preciso dizer que, múltiplas
vezes, vemos essas lindas palavras ligadas à célula familiar
(transmissora de preconceitos), às religiões e às culturas nacionais e
tradicionais ("preconceito étnico"). Numa palavra, a Unesco sonha com uma "ética
universal" (sic) fundamentada nos chamados direitos humanos -
explicitamente, no internacionalismo, no materialismo,
cientificismo, pacifismo radical ("não-violência") e
ecologismo. Esse, porém, não é o meu objecto, porque já vem sendo
discutido com seriedade por autores como o Mons. Juan
Claudio Sanahuja.
Para eliminar os preconceitos e demais mazelas das nações, os pedagogos da Unesco vêm estudando, há décadas, uma disciplina chamada Psicologia Social (muitas vezes aludida com o nome genérico de "Ciências Sociais", mas facilmente interpretada no contexto como significando especificamente a Psicologia). O meu objectivo aqui é explicar o significado concreto da terminologia (vaga e de difícil interpretação, aos olhos de um leigo) que está a ser utilizada nos documentos da Unesco e, consequentemente, no ensino universitário de Pedagogia.
O conceito-chave é, evidentemente, educação. A palavra tem um sentido muito específico, que é delineado pelas exigências que dela se fazem. Os maníacos da Unesco admitem que todo projecto educacional é determinado pelo seu objectivo, pelo seu fim; e neste caso, dizem eles, o fim não pode ser um "intelectualismo elitista", que privilegie o "académico". A educação visa, ao contrário, ao desenvolvimento social. "Desenvolvimento social" quer dizer a construção de um certo tipo de sociedade, em que as pessoas se comportam desta ou daquela forma - e isso remete, evidentemente, à "ética universal" de que falei acima. A ideia é, numa primeira fase, desenvolver uma educação multicultural, isto é, uma educação que facilite a convivência de diversas "culturas" (no sentido de "sociedades distintas"). Em seguida, passar-se-á a uma educação intercultural, que deveria ser chamada "unicultural", pois visa à ética supra citada. A oposição multicultural x intercultural é importantíssima, pois diz respeito a uma fase de transição e ao objectivo propriamente dito.
Ora, uma "educação" que
pretende produzir um conjunto de atitudes, visando ao "desenvolvimento social",
não pode prescindir de um método adequado - o qual, como vimos, não pode ser o
método tradicional, cuja fundamentação "académica" é pouco eficaz na criação de
culturas (os cientistas enfatizam bastante a ineficácia "prática" do
método tradicional, "intelectualista" e "elitista"). Aqui entram as "Ciências
Sociais", e por isso é que será feito um estudo intitulado A Mudança de
Atitudes ("atitude" significa o comportamento, a conduta, behavior).
A educação tem de tornar-se não-cognitiva ou, como os pedagogos preferem,
activa, multidimensional, experimental. Isso deve-se a
psicólogos comportamentais (behaviorists) terem demonstrado
experimentalmente a eficácia de acções na mudança de
comportamento.
Descobriu-se, por exemplo, um fenómeno chamado dissonância cognitiva. Suponha que uma pessoa faz um pouco por acidente, algo incompatível com alguma das suas crenças. Não encontrando razão plenamente confessável para o acto, a mente tenderá a justificá-lo a posteriori (o que se chama normalmente de racionalização). Isto é particularmente comum em confissões escritas. Um prisioneiro americano que odiava a China comunista foi induzido a escrever um elogio do país, como uma espécie de jogo. O seu texto foi publicado na prisão e muito elogiado. Em alguns dias, o americano passou a defender convictamente o regime*. A dissonância cognitiva mostra que existe um modo praticamente seguro de mudar rapidamente o comportamento das pessoas. E esse não é o único método. A título de exemplo, há um outro chamado norma de grupo, que significa basicamente que se um grupo de pessoas começa a discutir um fenómeno, tenderão a adoptar um consenso. O que interessa aos "pedagogos" é que esse consenso não precisa ser verdadeiro. Pode ser influenciado de diversos modos. O mais simples é a inserção de uma figura de autoridade no grupo: as pesquisas mostram que em praticamente todos os casos a figura de autoridade determina o resultado da "discussão", e ainda assim permanece o efeito de "consenso".
Esses dois conceitos são especialmente relevantes porque o primeiro é a origem do uso pedagógico do psico drama, enquanto o segundo resultou em diversas práticas de grupo. Toda a vez que temos encenações em salas de aula, apresentações teatrais ou simulações das mais variadas, é o psicodrama que está em jogo. Os cientistas da Unesco sabem que o psicodrama tem imenso sucesso na "modificação de atitudes" e comemoram. A criança que joga lixo no chão, depois de fazer o papel de um herói ecológico que passa sermão na plateia inteira, tende a tornar-se uma "ecochato" fanático (para a Unesco, um exemplo de santidade). Isso dá-se porque o psico drama é uma eficaz técnica hipnótica, usada por terapeutas para transformar crenças e hábitos. As práticas de grupo manifestam-se nos supostos "debates" (que, como sabemos, são filtrados e controlados pelo professor para chegar à conclusão esperada). Também se estimula todo tipo de actividade que atribua mais autoridade ao grupo do que aos pais ou à tradição (ambas fontes de "preconceitos"). Segundo os psicólogos, é muito fácil influenciar a opinião dos grupos de jovens, o que os torna autoridades desejáveis em relação aos pais.
Quando se fala de educação
multidimensional, também surge a ideia de que a educação não deve "apenas"
transmitir "informações", mas atingir a totalidade da personalidade.
Fala-se que toda educação pressupõe a dimensão dos valores, e que se
deve assumi-los e trabalhar neles. O significado concreto disso é que a educação
deve moldar o comportamento dos estudantes, e essa formatação deve ser
completa: emoções, convicções, hobbies, sonhos, tudo deve ser
influenciado o quanto possível dentro do quadro dos "valores" da
Unesco.
Ensinar uma doutrina não é o
bastante, nem é desejável, porque uma doutrina precisa persuadir a
inteligência. O melhor é "modificar atitudes", isto é, condutas, de preferência
sem que o sujeito perceba que está a ser induzido. Deve sentir que está a
fazer tudo porque quer. A mudança é subreptícia. Repito que tudo isso
está dito nos documentos da Unesco.
Quando escolas promovem
actividades práticas (um outro jeito de dizer activas ou
experimentais), que colocam os estudantes numa posição ideologicamente
comprometida, isso não deve ser encarado como acidental. Os pedagogos que
citei preconizam explicitamente actividades extra curriculares que ajudem
a interiorizar as "atitudes" apropriadas. Quando se fazem discussões em
grupo sobre temas "actuais", com intromissões subtis do professor, não se
trata de coincidência. A Unesco vem promovendo artigos, manuais pedagógicos
e cursos de actualização, que ensinam os professores a fazer exactamente
isso. E o poder dessa coisa sobre a mente de crianças e adultos está
documentado. É a mais extensa lavagem cerebral já feita na História, com um grau
elevadíssimo de sucesso. A primeira coisa que pretendo com este texto é divulgar
a terminologia pseudopedagógica que vem sendo utilizada para esconder essas
técnicas de manipulação mental.
Em segundo lugar, eu gostaria
também que os leitores pensassem sobre os efeitos que essa pedagogia teve nos
seus próprios casos. Quaisquer pessoas que estiveram na escola nas últimas duas
décadas devem ter sido submetidas a técnicas como as que descrevi. Quanto mais
jovem a pessoa, pior, pois os métodos desenvolveram-se e
disseminaram-se. Lembrem-se de que essa educação visa simplesmente a
desenvolver reflexos condicionados, e despreza totalmente o desenvolvimento
intelectual. Lembrem-se também de que, com o tempo, tendemos a nos
dessensibilizar e achar natural que sempre reajamos a tudo de modo automático e
semi-consciente.
Achamos normal nunca termos
lido os Lusíadas, não sabermos diferenciar uma oração subordinada de uma
coordenada, não conseguirmos escrever um texto sem erros grotescos, demoramos
para fazer uma conta simples, não sabermos as diferenças factuais entre um
debate e um discurso, o nunca termos lido uma fonte primária de algum evento
histórico etc.
Isto significa que há
grandes probabilidades das minhas e das tuas capacidades
linguísticas, matemáticas, etc. estarem numa situação tenebrosa. É
urgente que desenvolvamos uma grande desconfiança de nossas próprias
inteligências, e que corramos contra o tempo para corrigir esse processo. É
igualmente urgente que aqueles que possuem filhos passem, além
de consciencializar as crianças a respeito dessas técnicas, a vigiar cada
passo de seus professores e cobrar às escolas fazendo tanto escândalo
quanto
possível.
Quando falarem de
"multidimensionalidade", digam que é manipulação. Quando falarem de "habilidades
sociais" digam que é engenharia social, estupro intelectual e abuso de menores.
Quando falarem de "valores", digam que quem ensina valores aos seus filhos são
vocês, e que não vão aceitar que pressionem e induzam as crianças contra a
família. O seu filho é um ser humano. Não deixe a escola adestrá-lo como um
animal.
* A mesma técnica é aplicada
diariamente na escola, quando se pede que alunos escrevam redacções sobre temas
que desconhecem totalmente. É claro que, antes da redacção, eles têm uma "aula"
em que o professor lhes diz exactamente tudo o que devem pensar a sobre o
assunto. Depois de escrever o texto, as crianças adoptam aquelas opiniões como
se as tivessem formado sozinhas, com grande convicção.
Notas de Pascal Bernardin
Notas de Pascal Bernardin
English: Flag of the United
Nations Educational, Scientific and Cultural Organization (UNESCO) Español:
Bandera de la UNESCO Français : Drapeau de l'UNESCO Deutsch: Flagge der
Organisation der Vereinten Nationen für Bildung, Wissenschaft, Kultur und
Kommunikation (UNESCO) (Photo credit: Wikipedia)
Publicado no site Ad Hominem e Admirável Mundo Novo
Abraços
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George Orwell
"Até que os leões tenham seus próprios historiadores, as histórias de caçadas continuarão glorificando o caçador."
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