domingo, 22 de setembro de 2013

Patriotismo ou nacionalismo? por Joe Sobran

               

Joseph Sobran: Patriotism or Nationalism?, Sobran's, 16 de outubro de 2001 via  The Southerner Avenger 

Tradução e foto: O Retrógrado Lusófono

[Nota do tradutor: os trechos em negrito foram destacados por mim e expressam ideias que são desenvolvidas neste  ensaio de Lawrence Auster que também traduzi]

Esta é uma temporada de patriotismo [N. do T: pouco mais de um mês após os atentados de 11 de setembro], mas também de algo que é facilmente confundido com  o patriotismo, a saber, o nacionalismo. A diferença é vital. 

G.K. Chesterton certa vez observou que Rudyard Kipling, o grande poeta do imperialismo britânico, sofria de "uma falta de patriotismo." Ele explicou: "Ele admira a Inglaterra, mas não a ama; pois admiramos as coisas com razões, mas as amamos sem razões. Ele admira a Inglaterra porque ela é forte, não porque é inglesa." 

Do mesmo modo, muitos americanos admiram a América por ela ser forte, não por ser americana. Para eles, a América tem de ser "o país mais poderoso da Terra", afim de ser digna de sua devoção. Se ela fosse apenas a segunda maior ou a décima-nona maior, ou, que Deus os livre, uma "potência de terceira categoria", ela praticamente não teria valor. 

Isto é nacionalismo, não patriotismo. O patriotismo é como um amor à família. Uma pessoa ama sua família por ser sua família, não por ser "a família mais poderosa da Terra" (o que quer que isto possa significar) ou por ser "melhor" do que outras famílias. Uma pessoa não se sente ameaçada quando outras pessoas amam suas famílias deste mesmo modo. Pelo contrário, ela respeita o amor delas e sente-se reconfortada em saber que elas respeita o seu. Ela não sente que sua família ganha destaque por meio de brigas com outras famílias. 

Enquanto o patriotismo é uma forma de afeto, o nacionalismo, já se disse várias vezes, está baseado no ressentimento e na rivalidade; muitas vezes se define por seus inimigos e traidores, reais ou supostos. Ele é militante por natureza e seu estilo típico é beligerante. O patriotismo, ao contrário, é pacífico, até ser forçado a lutar. 

O patriota também difere do nacionalista no seguinte sentido: ele sabe rir de seu país, do mesmo modo que os membros de uma família sabem rir dos defeitos uns dos outros. O afeto encara com naturalidade as imperfeições daqueles que ama; o irlandês patriota acha a Irlanda engraçadíssima, enquanto que o nacionalista irlandês não vê motivo nenhum para rir. 

O nacionalista tem que provar que seu país está sempre certo. Ele reduz seu país a uma ideia, a uma abstração perfeita, ao invés de um simples lar. Ele pode até achar incômodo o humor irreverente do patriota. 

O patriotismo é descontraído. O nacionalismo é rígido. O patriota sabe defender com lealdade seu país, mesmo quando sabe que ele está errado; o nacionalista tem que insistir que defende seu país, não porque é o seu, mas porque ele está certo. Como se ele o fosse defender mesmo que não tivesse nascido nele! O nacionalista fala como se "tivesse acontecido", por puro acaso, de ele ter nascido no país mais poderoso da Terra - ao contrário, digamos do pobre belga ou brasileiro. 

Como o patriota e o nacionalista muitas vezes usam as mesmas palavras, eles podem não perceber que eles as usam em sentidos muito diferentes. O patriota americano supõe que o nacionalista ama este país com um afeto como o que ele mesmo tem, sem conseguir perceber que o que o nacionalista realmente ama é uma abstração - "a grandeza nacional" ou algo assim. O nacionalista americano, por outro lado, é capaz de suspeitar do patriota, acusando-o de não ter fervor o bastante, ou até mesmo de "antiamericanismo."

Quando o assunto é guerra, o patriota percebe que o resto do mundo não pode ser transformado na América, porque a América é algo de específico e particular - as memórias e tradições que não podem ser mais transplantadas do que as montanhas e pradarias. Ele busca apenas  o contentamento doméstico e é rápido em fazer um acordo com um inimigo. Ele quer que seu país seja apenas forte o bastante para defender a si mesmo. 

Mas o nacionalista, que identifica a América com abstrações como liberdade e democracia, pode pensar que é exatamente a missão da América espalhar estas abstrações ao redor do mundo -- impô-las à força, se necessário.  Em sua cabeça, estas abstrações são ideais universais e elas não podem nunca estar realmente "seguras" enquanto não existirem, sem questionamentos, em toda parte; o mundo deve ser tornado "seguro para democracia" por "uma guerra para acabar com todas as guerras." Ainda escutamos versões destes temas Wilsonianos. Qualquer país que se recuse a se americanizar é "antiamericano" - ou um "estado pária." Para o nacionalista, a guerra é uma oportunidade bem-vinda de mudar o mundo. Esta é a receita para uma guerra sem fim.  

Em um tempo de histeria de guerra, o patriota indignado, sentindo que seu país está sob ataque, pode sucumbir às seduções do nacionalismo. Este é o perigo que enfrentamos agora. 

Joseph Sobran


Abraços

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