Joseph Sobran: Patriotism or Nationalism?, Sobran's, 16 de outubro de 2001 via The Southerner Avenger
Tradução e foto: O Retrógrado Lusófono
[Nota do tradutor: os trechos em negrito foram destacados por mim e expressam ideias que são desenvolvidas neste ensaio de Lawrence Auster que também traduzi]
Esta é uma temporada de patriotismo [N. do
T: pouco mais de um mês após os atentados de 11 de setembro], mas também de
algo que é facilmente confundido com o patriotismo, a saber, o nacionalismo. A
diferença é vital.
G.K. Chesterton certa vez observou que Rudyard
Kipling, o grande poeta do imperialismo britânico, sofria de "uma falta de
patriotismo." Ele explicou: "Ele admira a Inglaterra, mas não a ama; pois
admiramos as coisas com razões, mas as amamos sem razões. Ele admira a
Inglaterra porque ela é forte, não porque é inglesa."
Do mesmo modo, muitos americanos admiram a
América por ela ser forte, não por ser americana. Para eles, a América tem de
ser "o país mais poderoso da Terra", afim de ser digna de sua devoção. Se ela
fosse apenas a segunda maior ou a décima-nona maior, ou, que Deus os livre, uma
"potência de terceira categoria", ela praticamente não teria valor.
Isto é nacionalismo, não patriotismo. O
patriotismo é como um amor à família. Uma pessoa ama sua família por ser sua
família, não por ser "a família mais poderosa da Terra" (o que quer que isto
possa significar) ou por ser "melhor" do que outras famílias. Uma pessoa não se
sente ameaçada quando outras pessoas amam suas famílias deste mesmo modo. Pelo
contrário, ela respeita o amor delas e sente-se reconfortada em saber que elas
respeita o seu. Ela não sente que sua família ganha destaque por meio de brigas
com outras famílias.
Enquanto o patriotismo é uma forma de afeto, o
nacionalismo, já se disse várias vezes, está baseado no ressentimento e na
rivalidade; muitas vezes se define por seus inimigos e traidores, reais ou
supostos. Ele é militante por natureza e seu estilo típico é beligerante. O
patriotismo, ao contrário, é pacífico, até ser forçado a lutar.
O patriota também difere do nacionalista no
seguinte sentido: ele sabe rir de seu país, do mesmo modo que os membros de uma
família sabem rir dos defeitos uns dos outros. O afeto encara com naturalidade
as imperfeições daqueles que ama; o irlandês patriota acha a Irlanda
engraçadíssima, enquanto que o nacionalista irlandês não vê motivo nenhum para
rir.
O nacionalista tem que provar que seu país está
sempre certo. Ele reduz seu país a uma ideia, a uma abstração perfeita, ao
invés de um simples lar. Ele pode até achar incômodo o humor irreverente do
patriota.
O patriotismo é descontraído. O nacionalismo é
rígido. O patriota sabe defender com lealdade seu país, mesmo quando sabe que
ele está errado; o nacionalista tem que insistir que defende seu país, não
porque é o seu, mas porque ele está certo. Como se ele o fosse defender mesmo
que não tivesse nascido nele! O nacionalista fala como se "tivesse acontecido",
por puro acaso, de ele ter nascido no país mais poderoso da Terra - ao
contrário, digamos do pobre belga ou brasileiro.
Como o patriota e o nacionalista muitas vezes
usam as mesmas palavras, eles podem não perceber que eles as usam em sentidos
muito diferentes. O patriota americano supõe que o nacionalista ama este país
com um afeto como o que ele mesmo tem, sem conseguir perceber que o que o
nacionalista realmente ama é uma abstração - "a grandeza nacional" ou algo
assim. O nacionalista americano, por outro lado, é capaz de suspeitar do
patriota, acusando-o de não ter fervor o bastante, ou até mesmo de
"antiamericanismo."
Quando o assunto é guerra, o patriota percebe
que o resto do mundo não pode ser transformado na América, porque a América é
algo de específico e particular - as memórias e tradições que não podem ser
mais transplantadas do que as montanhas e pradarias. Ele busca apenas o
contentamento doméstico e é rápido em fazer um acordo com um inimigo. Ele quer
que seu país seja apenas forte o bastante para defender a si mesmo.
Mas o nacionalista, que identifica a América
com abstrações como liberdade e democracia, pode pensar que é exatamente a
missão da América espalhar estas abstrações ao redor do mundo -- impô-las à
força, se necessário. Em sua cabeça, estas abstrações são ideais universais e
elas não podem nunca estar realmente "seguras" enquanto não existirem, sem
questionamentos, em toda parte; o mundo deve ser tornado "seguro para
democracia" por "uma guerra para acabar com todas as guerras." Ainda escutamos
versões destes temas Wilsonianos. Qualquer país que se recuse a se americanizar
é "antiamericano" - ou um "estado pária." Para o nacionalista, a guerra é uma
oportunidade bem-vinda de mudar o mundo. Esta é a receita para uma guerra sem
fim.
Em um tempo de histeria de guerra, o patriota
indignado, sentindo que seu país está sob ataque, pode sucumbir às seduções do
nacionalismo. Este é o perigo que enfrentamos agora.
Joseph Sobran
Abraços
Nenhum comentário:
Postar um comentário
"Numa época de mentiras universais, dizer a verdade é um ato revolucionário."
George Orwell
"Até que os leões tenham seus próprios historiadores, as histórias de caçadas continuarão glorificando o caçador."
Eduardo Galeano
Desejando, expresse o seu pensamento do assunto exposto no artigo.
Agressões, baixarias, trolls, haters e spam não serão publicados.
Seus comentários poderão levar algum tempo para aparecer e não serão necessariamente respondidos pelo blog.
Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do autor deste blog.
Agradecido pela compreensão e visita.