Publicado no Diário da Liberdade
Publicado no Alerta Total – Jorge Serrão
A oligarquia financeira contra Strauss-Kahn ou
Conspiração não é teoria, é prato de todo dia
Adriano Benayon * – 20.05.2011
A arbitrária prisão de Strauss-Kahn, sem que tenha havido reação de
monta da opinião pública mundial, é exemplo emblemático da tirania
imperial anglo-americana. Há dois fatores principais a explicar a aceitação
ou a indiferença diante de fato de tal gravidade: a desinformação e a
covardia.
Os conduzidos pela mídia metem-se a dar opiniões. Aventam várias
pretensas explicações, como: o homem teria enlouquecido; era viciado em
sexo; os homens não sabem conter a libido etc.
Não pensam nas razões lógicas: 1) Strauss-Kahn foi envolvido em complô,
porque incomodava os banqueiros ávidos em sugar, ainda mais, os povos
da Europa, esmagados por dívidas suscitadas por esses banqueiros; 2)
liderava as pesquisas para a eleição presidencial da França, muito à frente
de Sarkozy, instrumento da oligarquia anglo-americana.
A muito poucos ocorre que Strauss-Kahn pode estar sendo submetido
injustamente a terríveis humilhações, sofrendo danos morais e materiais,
tendo sua reputação destruída, sem ter cometido falta alguma. Linchado
publicamente, porque desagradou os concentradores mundiais.
O que também contribui para que tantos descartem o óbvio e o lógico, em
favor de julgamentos apriorísticos? Antipatia em relação aos que
alcançaram altas posições, quando apanhados em supostos delitos. Chega
a haver a exploração demagógica desse sentimento, por parte do sistema
de poder - que vive só de injustiças e hipocritamente faz o povo acreditar
que nos EUA figurões são punidos, e que o caso indicaria mais uma virtude
do sistema de governo desse país.
Entretanto, os membros e servidores mais altos da oligarquia, regiamente
pagos fizeram mil fraudes nos bancos, nas agências reguladoras, no FED e
no Tesouro dos EUA e não foram punidos, mesmo tendo causado a brutal
depressão que dura desde 2008. Essa se traduz na duplicação do número
de desempregados, na supressão de benefícios sociais e em mais de dez
milhões de pessoas perdendo suas casas para os bancos.
A falsa crença na democracia estadunidense - formada através da lavagem
cerebral gigantesca por parte dos formadores de opinião - ignora, por
completo, a realidade ali implantada, a saber, o estado policial a
serviço da oligarquia.
Vamos aos fatos. Nenhum de nós é Deus para saber – hoje, ou mesmo
daqui a meses – se aconteceu o suposto atentado sexual atribuído ao
diretor-geral do FMI. Quem quer que afirme ter isso realmente ocorrido
não tem base alguma.
Não houve flagrante, o que já basta para demonstrar o absurdo da prisão
“preventiva”. Além disso, como apontaram observadores, não é comum
uma camareira de um hotel de luxo entrar num apartamento "pensando
que estava vazio". Ademais, passaram-se três horas entre o alegado
atentado e a comunicação à polícia. Depois de o advogado de Strauss-
Kahn ter informado que este deixara o hotel antes do horário alegado, é
que a polícia o retificou para uma hora a mais.
O jornal London Evening Standard mencionou, em 18.05.2011, que
Strauss-Kahn falara, duas semanas antes, com jornalistas do Libération,
de Paris, sobre a possibilidade ser montada contra ele uma armação, em
que ofereceriam, para acusá-lo, 500 mil a 1 milhão de euros a uma
mulher estuprada num estacionamento, por exemplo.
Ora, como a pretensa vítima não fez queixa imediata? Por que, se
Strauss-Kahn estava no hotel, não foi confrontado com a tal camareira e
com eventuais testemunhas?
De fato, os EUA tornaram-se um estado policial e, já antes disso, os
serviços secretos do País organizaram o assassinato do presidente John
Kennedy, em 1963, o de Robert Kennedy, sagrado candidato na
Convenção de seu partido (1968), e o do Papa João Paulo I (1978).
Procederam, ainda, à implosão das torres gêmeas (2001), quando os
aviões com islâmicos foram apenas ingrediente para fomentar o terror no
seio da população e “justificar” as agressões ao Afeganistão e ao Iraque.
Ao lado do uso campeante de drogas, da prostituição disseminada, por
exemplo, em toda Nova York, combinam-se, há muito tempo, nos EUA,
resquícios do puritanismo com um feminismo agressivo e fascista, de tal
modo que se tornou corriqueiro mulheres simularem atentados sexuais
para obter consideráveis vantagens pecuniárias.
Um conhecido – insuspeito até por não ser crítico consistente do
imperialismo anglo-americano - narrou-me fato, vivido em Nova York,
quando trabalhou na ONU. Estava com seu diretor, num prédio,
aguardando o elevador, quando este parou no andar, nele estando
somente uma mulher e de boa aparência. Meu conhecido moveu-se para
o elevador, quando seu chefe segurou-o pelo braço. Só depois que o
elevador passou novamente, um tanto cheio, os dois o adentraram.
Explicou-lhe o diretor: se a mulher resolvesse, ao saírem, atirar-se ao
solo e gritar, poderia depois exigir quantia absurdamente alta para retirar
queixa de tentativa de estupro.
Atribui-se a Strauss-Kahn ser chegado a conquistas, mas se ele, com 62
anos, até hoje nunca fora acusado de tentar estuprar alguém, é
inverossímil que agora o tenha feito com uma camareira de hotel, ao que
se diz, pouco atraente. Altamente situado e rico, Strauss-Kahn, não
deveria encontrar muita dificuldade em ter amantes. Por fim, não é
plausível que se expusesse a um incidente do tipo, mormente sabendo
que poderosos interesses preparavam algo contra si.
Já se podem explicitar os motivos para destituir o chefe do FMI que
estava transformando a instituição. Antes, relembre-se que só têm sido
envolvidas em tais escândalos personalidades que agiram em favor, seja
de seu país, seja de outros povos sugados pela oligarquia.
Julien Assange também foi acusado de crime sexual, por duas mulheres,
na Europa. Não está preso, mas chegou a ser, na Inglaterra, cérebro do
império. Assange não ocupa função pública, nem nacional nem
internacional. É o fundador do Wikileaks. O que ele tem em comum com
Strauss-Kahn? Ter contrariado a oligarquia financeira.
O mesmo que o ex-Procurador-Geral e ex-Governador do Estado de Nova
York, Eliot Spitzer. Este se notabilizou por combater efetivamente as
falcatruas dos financistas de sua cidade, grande centro da finança mundial,
e se afastou após ter sido acusado de estar com prostitutas.
Vejam este trecho de artigo de Daniel Tencer, publicado em GLOBAL
RESEARCH, 28.07.2008 (tradução minha):
“O FED (Reserva Federal) – o órgão quase autônomo que controla a oferta
de moeda dos EUA – é um “esquema tipo Ponzi”, que criou bolhas após
bolhas na economia dos EUA e precisa tornar-se responsável por suas
ações, diz Eliot Spitzer ...
Segundo Ratigan, o FED trocou maus créditos bancários por US$ 13,9
trilhões em dinheiro, que deu aos bancos em apuros. Spítzer construiu
reputação como ‘o xerife de Wall Street’, por ter, quando procurador-geral,
perseguido seriamente os crimes empresariais, e depois renunciou ao
cargo de governador do Estado por causa de revelações de que pagou
prostitutas. Spitzer pareceu concordar com Ratigan em que o resgate
daqueles bancos representa o maior roubo e a maior ocultação de crime de
todos os tempos.”
A desmoralização Spitzer, Assange e agora a de Dominique Strauss-Kahn
(DSK) são de grande interesse do sistema de poder tirânico da oligarquia.
Desde 1945/46, quando o FMI começou a operar, nenhum de seus
diretores foi vítima de escândalo desse tipo. Por que agora DSK o foi?
Antes dele todos se tinham mantido dentro da rígida ortodoxia, de o FMI
agir inflexivelmente com os países com dívidas infladas por regras e
procedimentos fraudulentos.
Ao ser preso, de forma humilhante, dentro do avião em que seguiria para
Paris, DSK ia a reunião sobre a gravíssima crise dos países europeus mais
afetados pelos desmandos financeiros dos grandes bancos, que levaram
esses países a elevadíssimas dívidas públicas.
Fontes bem informadas junto a serviços de inteligência dos EUA indicaram
que os maiores banqueiros da Europa estariam por trás da trama contra
DSK, pois este se mostrou contrário a impor privatizações e políticas que
arrasariam ainda mais as economias dos países endividados, prejudicandoos
com danos ainda maiores ao emprego e à produção.
Recomendo aos fluentes em inglês acessar o site “Global Research” e ler o
artigo de Paul C. Roberts, de 18.05.2011, “The Strauss-Kahn Frame-up:
The American Police State Strides Forward”. Roberts é excelente
economista e ocupou alta posição na administração de Ronald Reagan.
Roberts cita, nesse artigo, recentes declarações de Joseph Stiglitz, prêmio
Nobel, ex-diretor do Banco Mundial e notável critico dos desmandos que
levaram ao colapso financeiro em 2007-2008, bem como declarações do
próprio DSK, as quais implicavam sentença de morte para este último,
porquanto desnudam a perversidade do sistema financeiro dominante,
verdadeira bomba de nêutrons sobre as estruturas produtivas dos países.
Concluindo, a brutal e injustificável prisão de Strauss-Kahn constitui marco
decisivo na questão de se a oligarquia anglo-americana continuará
desfrutando de seu poder tirânico sem objeção efetiva de quem quer que
seja. O processo na “Justiça” norte-americana é do gênero prenunciado, há
mais de cem anos, por Franz Kafka, na obra “Das Prozess”, e uma reedição
dos processos da tirania nazista.
Os franceses, inclusive de outros partidos que não o de DSK, deveriam
insurgir-se contra a absurda detenção do diretor-presidente de uma
instituição financeira internacional, o FMI, que tem todo direito a
imunidades semelhantes às diplomáticas, e só está nos EUA, por ter essa
instituição sede ali.
Aliás, todos os países deveriam retirar seus diplomatas e funcionários da
ONU em Nova York, por falta de garantias para estes exercerem livremente
suas atividades. Os latino-americanos, além disso, teriam de retirar seus
diplomatas também da OEA, sediada em Washington, DC.
Deveria haver intensa campanha na França, por parte dos verdadeiros
socialistas e dos reais amantes da liberdade, para exigir a liberação de
Strauss-Kahn e para insistir em que ele seja candidato, capaz que é de
derrotar Sarkozy. A exposição do golpe - e de quem lucra se esse golpe
policialesco tiver êxito – contribuiria para a vitória eleitoral de DSK.
Vejamos se há gente dotada de coragem e de decência ou se vai
prevalecer a covardia, somada aos interesses dos rivais e de grupos que
não desejam DSK à frente da França.
Em tempo: Strauss-Kahn foi liberado, sob pagamento da fiança no valor de
US$ 1,6 milhão, pouco depois de ter renunciado ao cargo de diretor-geral
do FMI. Antes, havia sido rejeitado o pedido nesse sentido. Não terá sido a
renúncia ao cargo, a condição para poder responder ao processo em
liberdade?
* - Adriano Benayon é Doutor em Economia. Autor de “Globalização
versus Desenvolvimento”, editora Escrituras. abenayon@brturbo.com.br
Fonte : http://www.atuario.com.br/aa-artigos/20110420_adriano_benayon_%20politica_exterma.pdf
Abraços
Nenhum comentário:
Postar um comentário
"Numa época de mentiras universais, dizer a verdade é um ato revolucionário."
George Orwell
"Até que os leões tenham seus próprios historiadores, as histórias de caçadas continuarão glorificando o caçador."
Eduardo Galeano
Desejando, expresse o seu pensamento do assunto exposto no artigo.
Agressões, baixarias, trolls, haters e spam não serão publicados.
Seus comentários poderão levar algum tempo para aparecer e não serão necessariamente respondidos pelo blog.
Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do autor deste blog.
Agradecido pela compreensão e visita.