segunda-feira, 4 de novembro de 2013

A esquerdização do Evangelho




Capítulo 8
A Mensagem de Fátima contra
a linha do partido
     Qual foi o efeito global para a Igreja das mudanças inesperadas, e assaz dramáticas que começaram no século XX? Como escritores católicos têm observado, aquilo que os Católicos testemunharam especialmente ao longo dos últimos 40 anos representa uma espécie de “estalinização da Igreja Católica Romana” - o que tem uma semelhança arrepiante com aquilo que, nessa altura, foi chamado “a Adaptação” da Ortodoxia Russa às exigências do Regime Estalinista.

     A subversão da Igreja Ortodoxa por Stálin é, sem dúvida, uma das evoluções que a Santíssima Virgem previu, em Fátima, para a Rússia. Foi precisamente por isso que a Senhora veio pedir a Consagração da Rússia ao Seu Imaculado Coração: para que esta nação abraçasse a única e verdadeira religião e a única e verdadeira Igreja, e não a Igreja Ortodoxa cismática - fundada em rebelião humana contra Roma, afastada do Corpo Místico de Cristo há mais de 500 anos - sendo, por esse fato, constitucionalmente incapaz de evitar a sua Adaptação total ao Estalinismo.

     A Adaptação Ortodoxa começou oficialmente quando o Metropolita Sergio, da Igreja Ortodoxa Russa, publicou um “Apelo” no Izvestia de 19 de Agosto de 1927. O Apelo de Sergius, como veio a ser conhecido, esboçou uma nova base para a atividade da Igreja Ortodoxa Russa - que o leigo russo Boris Talantov descreveu como «uma Adaptação à realidade ateia da U.R.S.S.». Por outras palavras e como se depreende da argumentação, a Igreja tinha que encontrar uma maneira de viver com a “realidade ateia” da Rússia estalinista. Logo, Sergius propusera o que ficou conhecido, abreviadamente, como a Adaptação.

     A Adaptação constou, antes de mais, de uma separação errónea entre as chamadas necessidades espirituais do Homem - necessidades puramente religiosas -, e as suas necessidades sócio-políticas. Isto é, uma separação entre a Igreja e o Estado: a Igreja servia para satisfazer as necessidades puramente religiosas dos cidadãos da União Soviética, mas sem tocar na estrutura sócio-política que tinha sido edificada pelo Partido Comunista.

     A Adaptação exigiu uma nova administração da Igreja na Rússia, segundo linhas de orientação esboçadas logo depois de ter sido publicado o apelo de Sergius. Na prática, isso traduzia-se num acordo de não criticar a ideologia oficial da União Soviética sob o regime de Stálin, o que se iria refletir em todas as atividades da Igreja: toda e qualquer oposição da Igreja Ortodoxa Russa ao regime soviético seria, daí em diante, considerada um desvio da sua atividade puramente religiosa, e uma forma de contra-revolução que nunca mais seria permitida nem tolerada.

     Efetivamente, devido ao seu silêncio, a Igreja Ortodoxa tornou-se um “braço longo” do Estado Soviético. Com efeito, Sergius continuaria a defender esta traição e, inclusivamente, a apelar à condenação dos seus próprios colegas ortodoxos, sentenciados a campos de concentração por alegadas atividades contra-revolucionárias. Talantov, que condenara totalmente a Adaptação, descreveu-a deste modo: «Na realidade, toda a atividade religiosa foi reduzida a ritos externos. A pregação que faziam, nas igrejas, aqueles Clérigos que seguiam estritamente a Adaptação ( o Desvio, seria mais apropriado ) era totalmente afastada da vida real e, portanto, não tinha influência alguma nos ouvintes. Como resultado, tanto a vida familiar, social e intelectual dos crentes como a educação da geração mais nova permaneceram fora da influência da Igreja. Ora, não se pode louvar a Cristo e ao mesmo tempo, na vida familiar e social, mentir, fazer o que é injusto, usar de violência e sonhar com um paraíso na terra»1. ( percebem a incoerência do estado laico ? )

     E era isto o que a Adaptação envolvia: a Igreja calar-se-ia sobre os males do regime estalinista, tornar-se-ia uma comunidade puramente “espiritual”, “em sentido abstrato”, já não exprimiria oposição ao regime, já não condenaria os erros e mentiras do Comunismo, tornando-se deste modo uma Igreja do Silêncio - como era frequentemente chamado o Cristianismo para lá da Cortina de Ferro.

     O Apelo de Sergius provocou um cisma na Igreja Ortodoxa Russa. Os verdadeiros crentes que rejeitaram a Adaptação, que denunciaram o Apelo e que permaneceram ligados ao Metropolita Joseph - e não a Sergius - foram presos e enviados para campos de concentração. O próprio Boris Talantov teria eventualmente morrido na prisão como prisioneiro político do Regime Estalinista, e, entretanto, a Igreja do Silêncio era transformada - efetivamente - num órgão do KGB. Stálin arrasou a Igreja Ortodoxa Russa: todos os verdadeiros crentes ortodoxos foram mandados para campos de concentração, ou executados e substituídos por operativos do KGB.( as sinagogas ficaram intocadas )

     Pouco antes de morrer, em Agosto de 1967, Talantov escreveu o seguinte sobre a Adaptação:
     A Adaptação ao ateísmo implantada pelo Metropolita Sergius terminou com a (foi completada pela) traição que a Igreja Ortodoxa Russa sofreu, por parte do Metropolita Nikodim e de outros representantes oficiais do Patriarca de Moscovo sediado no estrangeiro. Esta traição, irrefutavelmente provada pelos documentos citados, tem que ser tornada conhecida de todos os crentes, na Rússia e no estrangeiro - porque tal atividade do Patriarcado, assente na cooperação com o KGB, representa um grande perigo para todos os crentes. Na verdade, os chefes ateus do povo russo e os príncipes da Igreja uniram-se contra o Senhor e contra a Sua Igreja2.
     Talantov refere-se aqui ao mesmo Metropolita Nikodim que induziu o Vaticano a entrar no Acordo Vaticano-Moscovo - mediante o qual (como mostramos no capítulo 6) a Igreja Católica foi forçada a não falar sobre o Comunismo no Concílio Vaticano II. Logo, o mesmo prelado ortodoxo que atraiçoou a Igreja Ortodoxa veio a ser o instrumento de um acordo que atraiçoou também a Igreja Católica. Durante o Vaticano II, certos eclesiásticos católicos em cooperação com Nikodim concordaram em que a Igreja Católica se tornaria também numa Igreja do Silêncio.

     E assim, a partir do Concílio, a Igreja Católica tem-se tornado incontestavelmente silenciosa em quase toda a parte; não só quanto aos erros do Comunismo - que a Igreja deixou de condenar quase por completo, mesmo em relação à China vermelha que cruelmente persegue a Igreja -, mas também quanto aos erros do Mundo em geral. Relembramos que, na sua alocução inaugural do Concílio, o Papa João XXIII admitiu abertamente que o Concílio (e depois dele a maior parte da Igreja) já não condenaria os erros; antes se abriria ao Mundo, numa apresentação “positiva” do Seu ensino aos “homens de boa vontade”. O que se lhe seguiu - e que o próprio Papa Paulo VI teve de admitir - não foi a conversão esperançosa dos “homens de boa vontade”, mas sim aquilo a que o próprio Paulo VI chamou «uma verdadeira invasão da Igreja pelo pensamento mundano». Por outras palavras - tanto quanto isto seja possível na Igreja Católica (que nunca pode falhar completamente na Sua missão) -, tratou-se de um tipo de Adaptação sergiana do Catolicismo Romano. ( estas informações valem como perigoso alerta às denominações evangélicas no Brasil )

     Ora, de acordo com esta Adaptação da Igreja Católica, por volta do ano 2000 a Mensagem de Fátima estaria firmemente subjugada às exigências da nova orientação: já tinha sido determinado por certos membros do aparelho de estado do Vaticano que a Rússia não seria mencionada ( assim como não se dá mais nenhuma menção à maçonaria e ao judaísmo ) em cerimônia alguma de Consagração que o Papa pudesse realizar, em resposta aos pedidos da Virgem. No número de Novembro de 2000 da revista Inside the Vatican, um Cardeal proeminente, identificado apenas como «um dos conselheiros mais próximos do Santo Padre», é citado deste modo: «Roma receia que os Ortodoxos Russos pudessem considerar uma ‘ofensa’ o fato de Roma fazer uma menção específica da Rússia numa tal oração - como se a Rússia precisasse especialmente de ajuda, quando o Mundo inteiro, incluindo o Ocidente pós-Cristão, enfrenta problemas profundos (…)». O mesmo Cardeal-conselheiro acrescentou: «Vamos ter cuidado para não nos tornarmos demasiado estreitos de espírito».

     Em suma: “Roma” - isto é, alguns poucos membros do aparelho de estado do Vaticano que aconselham o Papa - decidiu não honrar o pedido específico de Nossa Senhora de Fátima, com receio de ofender os Ortodoxos Russos; “Roma” não deseja dar a impressão de que a Rússia deverá converter-se à Fé Católica, por meio da sua Consagração ao Imaculado Coração de Maria, porque isto seria assaz contrário ao novo “diálogo ecumênico” lançado pelo Concílio Vaticano II. A Consagração (e conversão) da Rússia pedida pela Mãe de Deus também seria contra o acordo diplomático do Vaticano (na Declaração de Balamand de 1993), segundo o qual o regresso dos Ortodoxos a Roma é uma “eclesiologia antiquada” - afirmação que, como demonstramos, contradiz rotundamente o dogma católico, infalivelmente definido, de que tanto hereges como cismáticos não podem salvar-se, se estiverem fora da Igreja Católica. Então, em Janeiro de 1998 e de harmonia com este notório afastamento do ensino católico, o próprio Administrador Apostólico do Vaticano para a Rússia, o Arcebispo Tadeusz Kondrusiewicz, afirmou publicamente: «O Concílio Vaticano II declarou que a Igreja Ortodoxa é a nossa Igreja gêmea e tem os mesmos meios para a salvação. Portanto, não há motivo algum para uma política de proselitismo»3.

     Devido a este abandono de facto do ensino continuado da Igreja - de que os hereges, cismáticos, judeus e pagãos têm de unir-se ao rebanho católico se quiserem salvar-se -, uma Consagração da Rússia ao Imaculado Coração de Maria para obter a sua conversão estaria, evidentemente, fora de questão, pelo menos aos olhos daqueles que promovem a nova orientação da Igreja.

     E foi assim que no dia 13 de Maio de 1982, e outra vez a 25 de Março de 1984, o Papa consagrou o Mundo ao Imaculado Coração de Maria, mas sem qualquer menção à Rússia; em caso algum participaram os Bispos de todo o Mundo - não tendo, portanto, sido cumprido nenhum dos dois requisitos de que a Irmã Lúcia se fez voz ao longo de toda a sua vida. Reconhecendo-o claramente, o próprio Papa fez alguns comentários - intrigantes - durante e depois da cerimônia de 1984: durante a cerimônia, diante de 250.000 pessoas na Praça de São Pedro, o Santo Padre acrescentou espontaneamente o seguinte ao texto já preparado: «Iluminai especialmente aqueles povos cuja consagração e confiada entrega Vós esperais de nós»4; e horas depois da cerimônia, segundo noticiou o Avvenire, jornal dos Bispos italianos, o Santo Padre rezou na Basílica de São Pedro, diante de 10.000 testemunhas, pedindo a Nossa Senhora que abençoasse «aqueles povos para quem Vós Mesma estais à espera do nosso ato de consagração e de confiada entrega»5. A Rússia não foi consagrada ao Imaculado Coração de Maria, e o Papa sabe-o: persuadido, evidentemente, pelos seus conselheiros, o Papa dissera ao Sr. Bispo Cordes, dirigente do Conselho Pontifício para os Leigos, que tinha omitido qualquer menção à Rússia porque «seria interpretada como uma provocação pelos dirigentes soviéticos»6.

O aparecimento da “Linha do Partido” sobre Fátima

     Mas os Fiéis não abandonariam facilmente a Consagração da Rússia, porque era óbvio que, durante o período 1984-2000, a Rússia não experienciara a Conversão religiosa que a Virgem tinha prometido, como fruto de uma adequada Consagração ao Imaculado Coração de Maria. Muito pelo contrário: apesar de certas mudanças políticas, a condição material, moral e espiritual da Rússia apenas piorou desde a dita “consagração” de 1984.

     Repare-se nestas provas, que fornecem apenas um esboço da gravidade da situação da Rússia pelo ano 2000 (e que só tem vindo a piorar desde então, como veremos):
  • Uns 16 anos depois da Consagração, a Rússia tem a taxa mais alta de abortos no Mundo inteiro. O Padre Daniel Maurer, CJD, que passou os últimos oito anos na Rússia, diz que, estatisticamente, a mulher russa terá em média oito abortos durante os seus anos férteis - embora o Padre Maurer creia que o número real andará à volta de 12 abortos por cada mulher; ele falou mesmo com mulheres que chegaram a fazer 25 abortos. A principal razão para números tão arrepiantes é que outros métodos de contracepção (que são imorais, de qualquer modo) nem foram difundidos na Rússia, nem são de confiança. Isto deixa o aborto como «o meio mais barato para limitar o tamanho da família». Atualmente na Rússia os abortos são gratuitos; mas os nascimentos não o são7.
  • A taxa de natalidade russa está a baixar, e a população da Rússia está a diminuir ao ritmo de 700.000 pessoas por ano - acontecimento sem precedentes numa nação civilizada durante «uma época de paz»8.
  • A Rússia tem o consumo de álcool mais alto do Mundo9.
  • O satanismo, o ocultismo e a feitiçaria estão em ascensão na Rússia, como até Alexy II, o Patriarca Ortodoxo Russo, admite publicamente10.
  • A homossexualidade está à rédea solta, quer em Moscovo quer por toda a parte do país. Com efeito, em Abril de 1993, nove anos depois da “consagração” de 1984, Boris Yeltsin permitiu que a homossexualidade fosse despenalizada. A homossexualidade é agora “legal” na Rússia11.
  • A Rússia é um centro mundial de eleição para a difusão de pornografia infantil. A Associated Press apresentou um relatório sobre uma rede de pornografia infantil, com sede em Moscovo e ligada a uma outra rede de pornografia infantil no Texas. Citando AP: «A lei russa não distingue entre pornografia infantil e pornografia que envolva adultos, e trata a produção e difusão de ambos como um crime menor - disse Dmitry Chepchugov, chefe do departamento do Ministério do Interior Russo para os crimes de alta tecnologia. A polícia russa frequentemente se queixa do caos legal que fez da Rússia um centro internacional de produção de pornografia infantil. “Infelizmente, a Rússia transformou-se num contentor de lixo mundial de pornografia infantil ” - disse Chepchugov aos jornalistas em Moscovo»12.
  • Agora os Russos vêem avidamente os programas de televisão “da vida real”. Nos shows “da vida real” mais depravados, câmaras de vídeo filmam a vida pessoal íntima de ‘casais’ russos, incluindo a sua atividade sexual. Apesar dos murmúrios de desaprovação de velhos Comunistas, partidários de uma linha dura, os telespectadores russos “nunca se fartam” desta pornografia. O programa «gaba-se de uma taxa de audiências de mais de 50%, e milhares de Russos aguentam temperaturas abaixo de zero e esperam, em fila, durante mais de uma hora, só para espreitarem [essa ‘vida real’] através duma janela do apartamento. Milhões já visitaram esse site da Internet - que bloqueia frequentemente sob o peso do tráfego»13.
  • Quanto à situação da Igreja Católica: em 1997, a Rússia decretou uma lei nova sobre “liberdade de consciência” que deu um estatuto privilegiado à Ortodoxia Russa, ao Islamismo, Judaísmo e Budismo, que foram consideradas “as religiões tradicionais” da Rússia; por seu turno, era necessário às paróquias católicas obterem a aprovação dos burocratas locais, só para terem o direito de existir. Como resultado:
  • O minúsculo Sacerdócio católico na Rússia, uns 200 Sacerdotes, é formado quase inteiramente por Clérigos nascidos no estrangeiro, sendo, a muitos deles, concedidos vistos de entrada no país com um prazo apenas de três meses - enquanto os homens de negócios recebem vistos de entrada de seis meses14.
  • Há apenas dez Sacerdotes nascidos na Rússia em todo o país - cinco na Sibéria e cinco no Cazaquistão -, tendo 95% dos Sacerdotes e Freiras nascido no estrangeiro. Na opinião franca do Senhor Arcebispo Bukovsky, a Igreja Católica «é pequena (…) e será sempre pequena»15.
  • Os Católicos constituem menos de metade de 1% da população russa, enquanto os Muçulmanos russos ultrapassam 10 vezes mais o número de Católicos. Segundo notícia da Rádio Free Europe, o Catolicismo é visto, na Rússia, como «um tipo de esquisitice inexplicável - qual a razão por que um Russo haveria de ser católico?»16.
  • Segundo o Vaticano, há 500.000 Católicos na Rússia, a maioria dos quais estão na Sibéria - para onde Stálin enviara os seus avós17.
     Dado este tipo de evidências, não era possível - pura e simplesmente - que se desvanecesse facilmente a interrogação sobre se a Consagração da Rússia teria sido feita do modo pedido por Nossa Senhora de Fátima ou não. Portanto, na perspectiva dos executores da nova orientação da Igreja - a Adaptação da Igreja ao Mundo -, algo tinha que ser feito com respeito a Fátima. E, em especial, algo tinha que ser feito com respeito a um Sacerdote canadiano, de nome Padre Nicholas Gruner, cujo apostolado de Fátima se tinha tornado uma voz de peso para milhões de Católicos que estavam convictos de que a Consagração da Rússia ‘descarrilara’ devido aos planos de certas personagens do Vaticano. Era tão simples quanto isto: Fátima e “o Sacerdote de Fátima” tinham que ser enterrados de uma vez por todas.

     O processo começou já há muito, em 1988, no momento em que - conta Frère François - «uma ordem veio do Vaticano dirigida às autoridades de Fátima, à Irmã Lúcia, a diversos eclesiásticos incluindo o Padre Messias Coelho e um sacerdote francês [evidentemente, o Padre Pierre Caillon] muito devoto de Nossa Senhora, ordenando a todos que deixassem de importunar o Santo Padre com o assunto da Consagração da Rússia». O Padre Caillon, devoto de Fátima, confirmou a emissão desta ordem: «uma ordem veio de Roma, que obrigava todos a dizerem e a pensarem: “A Consagração está feita. Tendo o Papa realizado tudo o que está ao Seu alcance, dignou-se o Céu aceitar este gesto”»18. Foi por esta altura (1988-1989) que muitos Apostolados de Fátima - que tinham persistido em que a Consagração da Rússia ainda não fora feita - inverteram inesperadamente as suas posições e declararam que a Consagração de 1984 tinha cumprido os desejos do Céu. Lamentavelmente, até mesmo o Padre Caillon logo a seguir mudou o seu testemunho e começou a dizer que a Consagração de 1984 tinha cumprido os pedidos da Santíssima Virgem.

     Foi também por essa época que começaram a circular cartas, alegadamente da Irmã Lúcia, escritas à máquina e geradas por computador. Destas cartas - manifestamente incríveis - ficou típica a de 8 de Novembro de 1989, dirigida ao Senhor Noelker e que contém a afirmação da “Irmã Lúcia” de que o Papa Paulo VI consagrou o Mundo ao Imaculado Coração de Maria durante a sua breve visita a Fátima em 1967 - uma Consagração que nunca aconteceu, como a Irmã Lúcia decerto sabia, porque testemunhou pessoalmente a visita inteira19.

     Deste modo emergiu a Linha do Partido na Mensagem de Fátima. A que chamamos, exatamente, “a Linha do Partido”? Vladimir Ilyich Lénin ( judeu ) disse certa vez: «A mentira é sagrada e o engano será a nossa principal arma.» Portanto, não era surpresa nenhuma que o Pravda, na qualidade de órgão oficial do Partido Comunista Soviético, estivesse cheio de mentiras - embora a palavra russa Pravda signifique “verdade”. Então, um jornal chamado “Verdade” estava sempre cheio de mentiras: porque, como dizia Lénin, «A mentira é sagrada e o engano será a nossa principal arma.»

     Ora um mentiroso não convencerá ninguém com as suas mentiras, se usar ao peito um grande cartaz a dizer “Mentiroso!”. Nem sequer um palerma acreditaria em tal homem. Para o mentiroso convencer as pessoas de que as suas mentiras são verdade, então a verdade tem que ser redefinida. É isto mesmo o que quer dizer a frase de Lénin «a mentira é sagrada (…)». A mentira torna-se “verdade” e é-lhe servilmente dada adesão, em vez da verdade. Como dizem as Sagradas Escrituras ao pronunciarem a maldição no livro de Isaías: «Ai daqueles que ao mal chamam bem, e ao bem, mal, que mudam as trevas em luz e a luz em trevas.» (Is. 5:20). Às trevas da falsidade é dada a aparência da luz da verdade - e é este um dos erros fundamentais da Rússia.

     Mas este truque de transformar uma mentira em “verdade” não tem a sua origem na Rússia nem nos Comunistas; a sua origem é o demônio, que é o Pai das Mentiras. São Paulo fala do demônio sob a aparência de um anjo de luz. Para ser mais específico, ele está a referir-se ao Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo: «Mas ainda que alguém - nós mesmos ou um anjo do Céu - vos anuncie outro Evangelho além do que aquele que vos tenho anunciado, esse seja anátema.» (Gal. 1:8). É o demônio, aparecendo sob o aspecto de um anjo de luz, que dá a aparência da verdade, de modo a enganar por meio da mentira. E foi daqui que o erro - “a mentira é sagrada” e “a falsidade é a verdade” - se originou.

     O Padre Paul Kramer relata uma conversa que teve com o General Daniel Graham, do Exército dos E.U.A. «O General Graham disse que uma vez esteve na Rússia com um oficial soviético e que esse oficial soviético lhe perguntou: “O Senhor não deseja a paz?” E o General respondeu: “Não! Porque eu conheço a vossa definição de paz. Não quero esse gênero de paz.” Enquanto conversavam, passaram por um cartaz gigante que mostrava soldados armados de espingardas. No cartaz havia a legenda: “Pobieda kommunista eta mir.” Que em português é: “A vitória comunista é a Paz.”»

     Segundo o ensino marxista, o Estado comunista faz a guerra para fomentar a revolução e emprega todos os meios possíveis de engano - guerra total - de modo a subjugar o Mundo inteiro ao Comunismo. Uma vez que a guerra total se tenha efetuado e que o Comunismo seja vitorioso sobre todo o planeta, haverá então a versão comunista de “paz”. Mas, na realidade, o que é a Paz? A Paz é definida com mais precisão por Santo Agostinho: «A Paz é a tranquilidade da ordem». Qual é a definição correta? Não se trata de um assunto de avaliação subjetiva. São Tomás de Aquino explica: «ens et verum convertunter», que é uma maneira erudita de dizer que a verdade é convertível com a realidade - ou seja, aquilo que é objetivamente real é, por essa mesma razão, objetivamente verdadeiro. Por outras palavras: a verdade é aquilo que é, enquanto uma mentira é aquilo que não é. Aquilo que não é não pode ser verdade. Logo, se alguém diz, por exemplo, que o branco é preto, tal afirmação é uma mentira - por mais alta que seja a autoridade daquele que faz a afirmação.

     Segundo a doutrina marxista, todavia, a verdade é aquilo que promove a revolução comunista. E o que é que promove a revolução comunista? Tudo o que tiver sido decidido constituir a Linha do Partido: aquilo que o Partido dita para ser verdadeiro passa a ser a verdade”, mesmo se, efetivamente, for uma mentira. Deste modo, se a Linha do Partido afirma “que o preto é branco”, é nisso, portanto, que todos os membros do Partido têm de acreditar - simplesmente porque assim foi decidido pelo Partido: “que o preto é branco”.

     Ora, tal como houve uma espécie de “Estalinização” da Igreja, no sentido de uma Adaptação da Igreja ao Mundo, assim também há-de haver uma espécie de Linha do Partido estalinista sobre Fátima: uma versão da Mensagem de Fátima ditada pelas cúpulas e à qual todos os membros da Igreja da Adaptação pós-conciliar têm de aderir. Essencialmente, a Linha do Partido sobre Fátima resume-se a isto: A “Consagração da Rússia” foi levada a cabo por completo, pelo que todos devem deixar de pedir que ela se faça. Temos “a paz”, tal como foi vaticinado por Nossa Senhora de Fátima. A Rússia está a realizar a “conversão” que Nossa Senhora prometeu. Logo - segundo a Linha do Partido - nada na Mensagem de Fátima ficou por fazer: e Fátima pertence agora ao passado.

     Como veremos, todos os termos entre vírgulas altas - “consagração da Rússia”, “paz” e “conversão” - foram redefinidos, para a Linha do Partido se acomodar a Fátima. Portanto, em tudo o que diga respeito a Fátima, é-nos agora pedido que acreditemos o equivalente a “o que é preto é branco” - porque é essa a Linha do Partido.

A ditadura do Secretário de Estado do Vaticano

     Ora cada Linha do Partido requer um ditador, um chefe do Partido que a imponha. De onde, exatamente, dentro do aparelho de poder do Vaticano, proveio a Linha do Partido sobre Fátima? E as evidências são esmagadoras: proveio do Secretário de Estado do Vaticano. Neste ponto, ser-nos-ia útil uma breve história dos antecedentes.

     Em primeiro lugar, no estado próprio das coisas - aquilo a que Santo Agostinho chamava “a tranquilidade da ordem”, ou seja, a Paz -, a Igreja não é uma ditadura. A ditadura é uma instituição bárbara. Como diz Eurípides, «entre os bárbaros, todos são escravos salvo um». Disse Nosso Senhor que «os chefes das nações governam-nas como seus senhores» (Mt. 20:25); e disse também aos Seus apóstolos: «Não seja assim entre vós». Apesar disso, a tranquilidade da ordem - a Paz da Igreja - tem sido perturbada enormemente no período pós-conciliar. O que vemos na Igreja de hoje é que há membros da Cúria Romana (não o Papa, mas alguns dos seus ministros no Vaticano) que governam sobre os seus súbditos com um despotismo oriental. Mais precisamente, exercem o seu despotismo sobre certos súbditos que desafiam a Linha do Partido, enquanto a Igreja, na Sua generalidade, padece à beira de um colapso de Fé e de disciplina que estes mesmos potentados ignoram.

     Como aconteceu tudo isto? A partir da restruturação da Cúria Romana, por volta de 1967, por ordem do Papa Paulo VI - mas que, na realidade, foi planeada e efetuada pelo Cardeal Jean Villot -, era possível que os dirigentes dos vários Dicastérios Romanos se comportassem como ditadores. É que antes do Concílio Vaticano II a Cúria Romana estava estruturada como uma monarquia: O Papa era o Prefeito do Santo Oficio, enquanto o Cardeal encarregado dos assuntos do quotidiano do Santo Oficio ocupava o segundo lugar. Os outros dicastérios eram de um grau mais baixo. Assim, enquanto na sua própria autoridade e jurisdição, e de acordo com aquele princípio de subsidiariedade20, estavam subordinados ao Santo Oficio, também o Santo Oficio estava subordinado diretamente ao Papa - ordenação que estava inteiramente de harmonia com a Divina Constituição da Igreja. O Papa, Vigário de Jesus Cristo na terra, era Quem estava à frente da cadeia hierarquizada de governação.

     Todavia, depois do Vaticano II, o Cardeal Villot engendrou a restruturação da Cúria Romana. Muito antes de Gorbachev ter anunciado o seu programa de perestroika na União Soviética, já a Igreja efetuava a sua própria perestroika na Cúria Romana. O Santo Oficio foi ‘rebatizado’ - mas, muito mais significativamente do que isso, o Santo Oficio perdeu a sua posição máxima dentro da Cúria. A Cúria foi reestruturada de modo a que o Cardeal Secretário de Estado ficasse acima de todos os outros dicastérios, incluindo o outrora chamado Santo Oficio - que, renomeado e reestruturado, passava agora a ser chamado Congregação para a Doutrina da Fé (CDF); e o Papa deixara de ser o Prefeito: agora, a Congregação (a CDF) é governada por um Cardeal Prefeito (atualmente, o Cardeal Ratzinger), sob a autoridade do Secretário de Estado.

     Com o sistema anterior de governação - sob a autoridade do Papa e do Seu Santo Oficio -, a Fé e a Moral eram os fatores primordiais que determinavam a política curial. No ‘arranjo’ pós-conciliar, porém, às ordens do Cardeal Secretário de Estado e do seu dicastério, o Secretariado de Estado, é a Linha do Partido - ou seja, a política do Secretário de Estado - o supremo fator determinante na formulação dos planos de ação da Igreja; mesmo o anterior Santo Oficio (agora CDF) está subordinado ao Secretário de Estado. Logo, como consequência desta restruturação, o Santo Padre, o Supremo Pontífice, é reduzido a uma figura decorativa que dá a sua aprovação - como quem apõe um carimbo - às decisões que lhe são apresentadas como um fait accompli pelo Secretário de Estado. É bom que se retenha na memória: O Papa foi reduzido a uma simples figura decorativa, ao serviço da ditadura do Secretário de Estado21.

     Ora, no registo maçônico requerido pela lei italiana, pode encontrar-se o nome de Jean Villot - o mesmo Villot que dirigiu a reorganização curial. Depois de o Cardeal Villot falecer, foi encontrada na sua biblioteca particular uma mensagem manuscrita do Grão-Mestre da Loja Maçônica a que Villot pertencia, a louvá-lo por ter mantido as tradições da Maçonaria22. Como comentou um Sacerdote francês que vivia em Roma: «Pelo menos havia uma área em que ele era tradicional.»**

O uso da falsa “obediência” como modo de
impor a Linha do Partido


     Em 1917, no mesmo ano em que Nossa Senhora apareceu em Fátima, São Maximiliano Kolbe estava em Roma - onde viu os Maçons mostrando a sua hostilidade aberta à Igreja Católica e manifestando-se com cartazes que anunciavam a sua intenção de se infiltrarem no Vaticano, de modo que Satanás pudesse reinar a partir do Vaticano e que o Papa fosse seu escravo23. Gabavam-se também, ao mesmo tempo, de que haviam de destruir a Igreja. A intenção dos Maçons em destruirem a Igreja encaixa-se perfeitamente no bem conhecido preceito maçônico: «Destruiremos a Igreja por meio da santa obediência». Ora, tal como mostramos em capítulo anterior, o Bispo Graber de Regensburg (Alemanha) recolheu outros testemunhos semelhantes de Maçons ilustres, e a própria Permanent Instruction of the Alta Vendita declarou descaradamente: «deixai o Clero marchar sob o vosso estandarte, mas acreditando sempre que marcha sob o estandarte das Chaves Apostólicas». Isto é: a exigência de “obediência” seria utilizada de modo ditatorial, para enfraquecer insidiosamente a verdadeira obediência e a própria Fé.

     E a reorganização da Cúria, em 1967, seria um instrumento para efetuar esse objectivo, por sujeitar toda a Igreja à Linha do Partido do Secretário de Estado - inclusive a Linha do Partido sobre Fátima -, sob o aspecto de uma falsa “obediência” a uma autoridade que, sem qualquer dúvida, excedera os limites estabelecidos pelo próprio Deus. Como demonstraremos em breve, foi o Cardeal Sodano que, literalmente, ditou a “interpretação” do aspecto visionário do Terceiro Segredo de Fátima - aquele que foi dado a público sem as palavras da Santíssima Virgem que o explicavam.

O Secretário de Estado
faz da Mensagem de Fátima um alvo a atingir


     Esse facto faz-nos bem presente o exato papel do Secretário de Estado ao impor a Linha do Partido a respeito de Fátima. Como fizemos notar, este processo envolveria a Mensagem de Fátima em geral e, em particular, talvez o seu maior propugnador dentro da Igreja: o Apostolado de Fátima do Padre Nicholas Gruner.

     Já em 1989, o então Secretário de Estado Cardeal Casaroli (o grande propagador da Ostpolitik) comunicara a Sua Excelência Reverendíssima D. Gerardo Pierro - à época, Bispo da Diocese de Avellino (Itália) e do Padre Gruner - aquilo a que o Bispo chamara “sinais de preocupação” sobre o Apostolado de Fátima do Padre Nicholas Gruner. O Padre Nicholas Gruner foi ordenado Sacerdote em Avellino, em 1976, para uma comunidade franciscana que acabou por não se constituir como se esperava. Desde 1978, e com a devida autorização do Bispo, o Padre Gruner passou a residir no Canadá, onde se tornou o chefe de um pequeno Apostolado de Fátima que, desde então, veio a crescer até se tornar o maior do seu gênero no Mundo inteiro. Porém, desde que a Linha do Partido quanto à “consagração” de 1984 foi imposta pela tal ordem anônima de 1988, era inevitável que o Apostolado do Padre Gruner e o Secretário de Estado haviam de entrar em colisão - do mesmo modo que a orientação tradicional e a nova orientação da Igreja colidiram depois do Concílio Vaticano II.

     A técnica basilar para tentarem ver-se livres do Padre Gruner foi criar um cenário canónico fictício, dentro do qual, tendo sido ordenado ao Padre Gruner que encontrasse algum outro Bispo que o incardinasse fora de Avellino, qualquer tentativa sua de incardinação, em qualquer lugar que fosse, ser-lhe-ia bloqueada por meio de tortuosas maquinações, sem precedentes e ‘por baixo da mesa’: deste modo o Padre Gruner seria forçado a “voltar” a Avellino e a abandonar o seu Apostolado. Após ter bloqueado, sucessivamente, a incardinação do Padre Gruner por três Bispos - de boa vontade e amigos da causa de Fátima -, o aparelho de poder do Vaticano (num procedimento complexo que fica para além do objectivo deste livro24) declarou, finalmente, a sua decisão: ou o Padre Gruner “voltava” a Avellino, ou seria “suspenso” por “desobediência”. Em suma: o Padre Gruner ficou sob a ameaça de “suspensão” por não ter conseguido fazer aquilo que os seus próprios acusadores o tinham sistematicamente impedido de fazer - ou seja, encontrar outro Bispo que o incardinasse25.
     Enquanto serpenteavam através dos tribunais do Vaticano os vários apelos canónicos do Padre Gruner contra estas acções inauditas contra si movidas, o seu Apostolado de Fátima continuava a florescer. Pelo ano 2000 e em particular por meio da sua revista The Fatima Crusader (A Cruzada de Fátima), o Apostolado tornou-se a voz mais forte e mais persistente na Igreja, tanto em prol da Consagração da Rússia como da divulgação do Terceiro Segredo.

     Além disso, o Papa veio complicar para os conspiradores o cenário de Fátima por eles criado, com a Sua decisão de beatificar Jacinta e Francisco, numa cerimônia a realizar em Fátima a 13 de Maio de 2000. Tal intenção de beatificar os dois pastorinhos cedo se tornou pública - em Junho de 1999 - e este encaminhar dos acontecimentos provocou claramente uma luta interna no seio do aparelho de poder do Vaticano. É o que revela a concepção - de avanços e recuos, curiosa e confusa - dos planos para a cerimônia da beatificação, o que é muito invulgar para o Vaticano. Em primeiro lugar, o Secretário de Estado, Cardeal Angelo Sodano, anunciou em Outubro de 1999 que a beatificação da Jacinta e do Francisco teria lugar em 9 de Abril de 2000 na Praça de São Pedro, em cerimônia conjunta com mais outras quatro beatificações. A imprensa portuguesa refere que o Cardeal Patriarca de Lisboa fora informado pelo Vaticano de que era “totalmente impossível” para o Papa vir a Fátima para a beatificação dos pastorinhos e que o assunto estava “encerrado”. O Cardeal Patriarca disse aos jornalistas portugueses que estava convencido de que esta “impossibilidade” de o Papa vir a Fátima se devia, exclusivamente, a uma decisão do Secretário de Estado do Vaticano - e de ninguém mais.

     Mas o Papa tinha outras ideias: Em Novembro de 1999, Sua Santidade - ultrapassando obviamente o Cardeal Sodano - informou diretamente D. Serafim, Bispo de Leiria, que deveria anunciar que, com efeito, o Papa viria a Fátima a 13 de Maio para efetuar as beatificações. O Bispo D. Serafim não divulgou o novo anúncio até Dezembro de 1999; depois, em Março de 2000, D. Serafim deixou escapar que «o Papa fará algo especial em relação a Fátima» - o que provocou uma especulação furiosa na imprensa sobre ir o Papa, por fim, divulgar o Terceiro Segredo. O Bispo D. Serafim foi de imediato repreendido publicamente pelo Cardeal Patriarca de Lisboa - possivelmente por ordem de alguém ao serviço do Secretário de Estado do Vaticano, que não queria que ninguém soubesse que o Papa considerava a hipótese de divulgação do Segredo. Mas foi rastilho aceso que ficou a arder26.

     E o Papa veio a Fátima a 13 de Maio de 2000 para beatificar a Jacinta e o Francisco. A vinda do Papa foi uma espécie de demonstração viva do conflito existente entre as duas visões da Igreja que temos estado a discutir. Depois das beatificações, o Papa fez uma Homilia evocando a Igreja intemporal. Nessa Homilia, muitas coisas que a Igreja parecia ter esquecido ao longo dos últimos quarenta anos foram subitamente relembradas:
     Por desígnio divino, veio do Céu a esta terra, à procura dos pequeninos privilegiados do Pai, «uma Mulher revestida com o Sol» (Ap. 12:1). Fala-lhes com voz e coração de mãe; convida-os a oferecerem-se como vítimas de reparação, oferecendo-se Ela para os conduzir, seguros, até Deus (…)
     Mais tarde, Francisco, um dos três pastorinhos privilegiados, exclamava: «Nós estávamos a arder naquela luz que é Deus e não nos queimávamos. Como é Deus? Não se pode dizer. Isto sim que a gente não pode dizer». Deus - uma luz que arde, mas não queima. A mesma sensação teve Moisés, quando viu Deus na sarça ardente. (…)
     «E apareceu no Céu outro sinal: um enorme Dragão» (Ap. 12, 3). Estas palavras da primeira leitura da Missa fazem-nos pensar na grande luta que se trava entre o bem e o mal, podendo-se constatar como o homem, pondo Deus de lado, não consegue chegar à felicidade, antes acaba por destruir-se a si próprio. (…)
     A Mensagem de Fátima é um apelo à conversão, alertando a humanidade para não fazer o jogo do “dragão” cuja «cauda arrastou um terço das estrelas do Céu e lançou-as sobre a terra» (Ap. 12:4).
     A meta última do homem é o Céu, sua verdadeira casa onde o Pai celeste, no Seu Amor misericordioso, por todos espera. Deus não quer que ninguém se perca; por isso, há dois mil anos, mandou à terra o seu Filho «procurar e salvar o que estava perdido» (Lc. 19:10 ). (…)
     Na sua solicitude materna, a Santíssima Virgem veio aqui, a Fátima, pedir aos homens para «não ofenderem mais a Deus Nosso Senhor, que já está muito ofendido». É a dor de mãe que a A faz falar: está em jogo a sorte de seus filhos. Por isso, dizia aos pastorinhos: «Rezai, rezai muito e fazei sacrifícios pelos pecadores, que vão muitas almaspara o inferno por não haver quem se sacrifique e peça por elas.» (ênfase acrescentada)
     O Papa - ao fazer uma relação directa da Mensagem de Fátima com o Livro do Apocalipse, e ao comparar o encontro dos videntes de Fátima com Deus ao de Moisés diante da Sarça Ardente - realizou uma surpreendente autenticação papal das aparições de Fátima, como sendo profecias divinas para o nosso tempo. Inesperada e repentinamente, Fátima esteve outra vez bem diante dos olhos de toda a Igreja.

     Houve, primeiro que tudo, a referência surpreendente do Papa à Mensagem de Fátima como um momento bíblico, o próprio cumprimento do capítulo 12, versículo 1 do Livro do Apocalipse, que fala da «Mulher revestida com o Sol». Aqui o Papa João Paulo II fez-se eco do Papa Paulo VI que, na sua carta apostólica Signum magnum, divulgada em Fátima a 13 de Maio de 1967, declarou:
     O sinal grandioso que o Apóstolo S. João viu no céu, «uma Mulher revestida com o sol», não sem fundamento o interpreta a sagrada Liturgia como referindo-se à Santíssima Virgem Maria, Mãe de todos os homens pela graça de Cristo Redentor. (…) Por ocasião das cerimónias religiosas em honra da Virgem Mãe de Deus que têm lugar nestes dias em Fátima, Portugal, onde Ela é venerada por numerosas multidões de fiéis pelo seu Coração maternal e compassivo, Nós desejamos uma vez mais chamar a atenção de todos os filhos da Igreja para o inseparável nexo existente entre a maternidade espiritual de Maria (…) e os deveres dos homens remidos para com Ela, como Mãe da Igreja.
     Mais surpreendente ainda, na Sua Homilia, o Papa João Paulo II explicitamente ligou a Mensagem de Fátima ao Apocalipse, capítulo 12, versículo 4 - que vaticina que a “cauda da dragão” arrastará um terço das estrelas do Céu e lançá-las-á sobre a terra. Como o Padre Gruner salientaria depois: «Na linguagem da Bíblia, as “estrelas do Céu” são aquelas pessoas que estão colocadas nos céus para iluminar o caminho dos outros até ao Céu. Esta passagem tem sido interpretada classicamente em comentários católicos significando que uma terça parte do Clero - isto é, Cardeais, Bispos, Sacerdotes - caem do seu estado consagrado para, na verdade, estarem a trabalhar para o demônio.» Por exemplo, o comentário de Haydock à Bíblia Douay-Rheims (em inglês) nota que a imagem de uma terça parte das estrelas do Céu tem sido interpretada como referindo-se aos «Bispos e pessoas eminentes que caem sob o peso de perseguição e se tornaram apóstatas (…) O demônio está sempre pronto, na medida em que Deus lho permita, para abrir guerra contra a Igreja e contra os fiéis servos de Deus.»

     Nesta conexão, tanto o Padre Gruner como o Dr. Gerry Matatics - estudioso bíblico católico (e outrora ministro presbiteriano) - e outros citaram o comentário ao Apocalipse (12:3-4) feito pelo Padre Herman B. Kramer, em The Book of Destiny (O livro do destino). Este livro foi publicado com imprimatur, em 1956 - providencialmente, apenas seis anos antes da abertura do Concílio Vaticano II. Quanto ao símbolo da terça parte das estrelas do Céu, o Padre Herman Kramer observa: «Isto significa a terça parte do Clero» - e acrescenta - «“a terça parte” das estrelas seguirá o dragão» - o que significa um terço do Clero, sendo as “estrelas” as almas consagradas da Igreja27. Portanto, um terço do Clero católico estará ao serviço do demônio, trabalhando para destruir a Igreja a partir do Seu interior. O comentário do Padre Herman Kramer salienta que o dragão vermelho - um sinal do demônio que também poderia simbolizar o Comunismo, por ser o vermelho a cor emblemática do Comunismo - traz grande aflição à Igreja minando-a a partir do Seu interior.

     O comentário continua dizendo que, por meio deste Clero apóstata, o demônio imporá provavelmente na Igreja «a aceitação de morais não-cristãs, doutrinas falsas, comprometimento com o erro, ou obediência a governantes laicos em violação de consciência.» E sugere ainda que «A significação simbólica da cauda do dragão revela que os Clerigos que estão prontos para a apostasia serão aqueles que ocupam posições de influência na Igreja, nomeações ganhas através da hipocrisia, do engano e da lisonja.» O Clero que segue o dragão - isto é, o demônio - incluiria aqueles «que deixavam de pregar a verdade ou de admoestar o pecador através de um bom exemplo; antes procuravam a popularidade por não serem rígidos e por serem escravos do respeito humano» tal como aqueles «que, receando prejudicar os seus próprios interesses, calavam as admoestações contra as práticas más na Igreja» e ainda os Bispos «que têm ódio aos Sacerdotes íntegros que se atrevem a dizer a verdade»28. O Padre Herman Kramer também observa o seguinte quanto ao estado da Igreja Católica nos tempos vaticinados no Apoc. 12:3-4:
     «A democracia apostólica fundada por Nosso Senhor terá dado lugar a uma monarquia absoluta, na qual o episcopado governa com um despotismo oriental. Assim, os Sacerdotes serão reduzidos a um estado de servilismo e de baixa adulação. O governo da razão, da justiça e do amor terá sido suplantado pela vontade absoluta do Bispo cujos actos e palavras, cada um deles, são para serem aceites sem se questionarem, sem se recorrer ao facto, à verdade ou à justiça. A consciência terá perdido o seu direito a guiar as acções dos Sacerdotes e será ignorada ou condenada. A diplomacia, a conveniência e outras fraudes serão elogiadas, como se fossem as maiores virtudes»29.
     Ora, nada disto é mencionado naqueles excertos da Mensagem de Fátima que até agora foram divulgados. Terá o Papa, com a sua alusão surpreendente ao Apocalipse 12:3-4, apresentado ao Mundo um vislumbre do conteúdo do Terceiro Segredo? Iria Ele divulgar o Segredo agora, em toda a sua inteireza?

     Mas - que infelicidade! - a homilia acaba e não é o Papa Quem discutirá o Terceiro Segredo. Tão depressa como tinha começado, acaba o regresso momentâneo do Papa à visão da Igreja de todos os tempos - para se erguer um dos principais divulgadores da nova visão da Igreja. É o Cardeal Angelo Sodano, Secretário de Estado do Vaticano - o mesmo Cardeal Sodano que, em vão, tentou impedir o Papa de ir a Fátima para beatificar a Jacinta e o Francisco. Por alguma razão estranha é Sodano - não o Papa - que irá anunciar que o Santo Padre decidiu revelar o Terceiro Segredo de Fátima:
     Na circunstância solene da sua vinda a Fátima, o Sumo Pontífice incumbiu-me de vos comunicar uma notícia. Como é sabido, a finalidade da vinda do Santo Padre a Fátima é a beatificação dos dois Pastorinhos. Contudo, Ele quer dar a esta Sua peregrinação também o valor de um renovado preito de gratidão a Nossa Senhora pela protecção que Ela Lhe tem concedido durante estes anos de pontificado. É uma protecção que parece ter a ver também com a chamada “terceira parte” do Segredo de Fátima.
     E então, o que até ali parecera tão estranho tornou-se, logo a seguir, perfeitamente explicável: a tarefa do Cardeal Sodano era preparar os fiéis para aceitarem a noção de que a Mensagem de Fátima - incluindo o Terceiro Segredo - devia agora ser considerada como coisa do passado. Este processo começaria com a “interpretação” do Terceiro Segredo feita pelo Cardeal:
     Tal texto constitui uma visão profética comparável às da Sagrada Escritura, que não descrevem de forma fotográfica os detalhes dos acontecimentos futuros, mas sintetizam e condensam sobre a mesma linha de fundo factos que se prolongam no tempo numa sucessão e duração não especificadas. Em consequência, a chave de leitura do texto só pode ser de carácter simbólico. (…)
     Segundo a interpretação dos Pastorinhos, interpretação confirmada ainda recentemente pela Irmã Lúcia, o «Bispo vestido de Branco» que reza por todos os fiéis é o Papa. Também Ele, caminhando penosamente para a Cruz por entre os cadáveres dos martirizados (Bispos, Sacerdotes, Religiosos, Religiosas e várias pessoas seculares), cai por terra como morto sob os tiros de uma arma de fogo. (ênfase acrescentada)
     Como os fiéis em breve virão a saber, isto é, pura e simplesmente, uma mentira. O «Bispo vestido de Branco» não aparece na visão «como morto»; ele é morto - como o texto da visão diz sem qualquer dúvida - ao modo de uma execução militar, em conjunto com muitos Bispos, Sacerdotes e Religiosos, no exterior de uma cidade meio em ruínas.

     Ora, porquê inserir as palavras “como morto” na “interpretação”? O Cardeal Sodano lança a mão de imediato:
     Depois do atentado de 13 de Maio de 1981, pareceu claramente a Sua Santidade que foi «uma mão materna a guiar a trajectória da bala», permitindo que o «Papa agonizante» se detivesse «no limiar da morte». (…)
     Depois, os acontecimentos de 1989 levaram, quer na União Soviética quer em numerosos Países do Leste, à queda do regime comunista que propugnava o ateísmo. (…)
     Embora os acontecimentos a que faz referência a terceira parte do Segredo de Fátima pareçam pertencer já ao passado, o apelo à conversão e à penitência, manifestado por Nossa Senhora no início do Século XX, conserva ainda hoje uma estimulante actualidade. (ênfase acrescentada)
     Muito simplesmente, Sodano preparava o terreno para uma “interpretação” da Mensagem de Fátima que a enterraria de uma vez por todas: a Mensagem culminou com a tentativa de assassínio de 1981 e com a “queda do Comunismo” em 1989 - acontecimentos esses que «pare[ce]m pertencer já ao passado». Para se assegurar este resultado, o “comentário” seria preparado antes de o texto efectivo do Terceiro Segredo ser divulgado:
     Para consentir que os fiéis recebam melhor a mensagem da Virgem de Fátima, o Papa confiou à Congregação para a Doutrina da Fé o encargo de tornar publica a terceira parte do segredo, depois de lhe ter preparado um adequado comentário.
     Mas por que motivo não estava pronto este comentário na devida altura, para a cerimônia de 13 de Maio? Afinal de contas, as notícias da divulgação iminente do Terceiro Segredo estavam a circular pelo menos desde Março de 2000: nesse mês, o Sr. Bispo D. Serafim anunciou que o Papa lhe tinha dito, durante uma sua visita a Roma, que o Santo Padre «far[ia] algo especial em relação a Fátima»30 quando lá fosse para a cerimônia de beatificação, em Maio de 2000.

     Curiosamente, o Papa insistiu com o Bispo D. Serafim para que não dissesse nada sobre este assunto enquanto estivesse em Roma, mas que esperasse até voltar a Fátima. Todavia, o assunto estava já no espírito do Papa desde Novembro anterior; então, porque é que não foi preparado nenhum “comentário” durante esse período (entre Novembro de 1999 e Maio de 2000)? Certamente um tal comentário poderia facilmente ter sido composto durante esse tempo.

     Há duas conclusões que se impõem: ou o Papa não tinha dito ao Cardeal Sodano da sua intenção de divulgar o Terceiro Segredo - e neste caso o Papa não confia em Sodano; ou o Papa disse-o a Sodano - após o que o Cardeal considerou que, de um ou de outro modo, poderia impedir a sua divulgação, na cerimónia de 13 de Maio de 2000. Isto explicaria o facto de o Cardeal Sodano não ter arranjado de antemão um comentário: porque pensou que não seria necessário, pois ele poderia impedir qualquer divulgação do Terceiro Segredo. Mas o Papa seguiu adiante - pelo que agora o Segredo teve de ser “manejado”, e de tal modo que a questão de Fátima pudesse ficar enterrada.

Uma conferência de imprensa
para anunciar a Linha do Partido de Sodano


     E é assim que chegamos à data fatídica de 26 de Junho de 2000 - data em que o Terceiro Segredo é “divulgado” numa conferência de imprensa do Vaticano, juntamente com um comentário preparado pelo Cardeal Ratzinger e por Monsenhor Tarcisio Bertone, Secretário da CDF, intitulado A Mensagem de Fátima (daqui em diante referido como AMF). Em AMF, a Linha do Partido sobre Fátima seria oficialmente promulgada - sob o comando direto do Cardeal Angelo Sodano.

     Antes de mais nada, foi dito aos fiéis que o texto que se seguia - de uma visão que tivera a Irmã Lúcia - era todo o conteúdo do Terceiro Segredo de Fátima:
     Depois das duas partes que já expus, vimos ao lado esquerdo de Nossa Senhora um pouco mais alto um Anjo com uma espada de fogo em a mão esquerda; ao cintilar, despedia chamas que parecia iam incendiar o Mundo; mas apagavam-se com o contacto do brilho que da mão direita expedia Nossa Senhora ao seu encontro: O Anjo apontando com a mão direita para a terra, com voz forte disse: PenitênciaPenitênciaPenitência! E vimos n'uma luz imensa que é Deus: “algo semelhante a como se vêem as pessoas n'um espelho quando lhe passam por diante” um Bispo vestido de Branco “tivemos o pressentimento de que era o Santo Padre”. Vários outros Bispos, Sacerdotes, Religiosos e Religiosas subir uma escabrosa montanha, no cimo da qual estava uma grande Cruz de troncos toscos como se fôra de sobreiro com a casca; o Santo Padre, antes de chegar aí, atravessou uma grande cidade meia em ruínas, e meio trémulo com andar vacilante, acabrunhado de dôr e pena, ia orando pelas almas dos cadáveres que encontrava pelo caminho; chegado ao cimo do monte, prostrado de joelhos aos pés da grande Cruz foi morto por um grupo de soldados que lhe dispararam vários tiros e setas, e assim mesmo foram morrendo uns trás outros os Bispos Sacerdotes, Religiosos e Religiosas e várias pessoas seculares, cavalheiros e senhoras de várias classes e posições. Sob os dois braços da Cruz estavam dois Anjos cada um com um regador de cristal em a mão, n'eles recolhiam o sangue dos Mártires e com ele regavam as almas que se aproximavam de Deus.
     A reação imediata de milhões de Católicos poderia resumir-se em duas palavras: - É tudo? Sem qualquer dúvida havia algo errado: nada neste texto correspondia ao que o próprio Cardeal Ratzinger dissera sobre o Terceiro Segredo, em 1984 - um ponto a que voltaremos em breve, nem continha coisa alguma que pudesse explicar a sua supressão misteriosa a partir de 1960.

     De suma importância é que esta visão obscura, escrita em quatro folhas de papel (de um caderno), não continha quaisquer palavras de Nossa Senhora. E, em especial, não continha nada que completasse a famosa frase dita por Nossa Senhora, ao terminar a porção da Mensagem de Fátima fielmente transcrita pela Irmã Lúcia nas suas memórias: «Em Portugal se conservará sempre o dogma da Fé etc.» A Irmã Lúcia acrescentou esta frase, incluindo o “etc.”, à sua quarta memória, como parte do texto integral da Mensagem. Este acrescento levou todos os estudiosos fidedignos de Fátima a concluir que essa frase assinalava o início da parte do Terceiro Segredo ainda por revelar, e que o Terceiro Segredo apontava para uma crise do dogma largamente espalhada na Igreja, fora de Portugal. Sem qualquer dúvida, a Santíssima Virgem tinha mais coisas para dizer que não foram postas por escrito, porque a Irmã Lúcia foi instruída no sentido de o manter em sigilo - até 1960, como sabemos.

     Todavia, com uma curiosa manobra, a AMF evitou qualquer discussão sobre a frase reveladora, ao recolher o texto da Mensagem de Fátima da Terceira Memória da Irmã Lúcia onde tal frase não aparece. AMF justifica-o deste modo: «Para a exposição das primeiras duas partes do “segredo”, aliás já publicadas e conhecidas, foi escolhido o texto escrito pela Irmã Lúcia na terceira memória, de 31 de Agosto de 1941; na quarta memória, de 8 de Dezembro de 1941, ela acrescentará qualquer observação». Qualquer observação? A frase-chave respeitante à conservação do dogma da Fé em Portugal não foi “qualquer observação” mas antes um elemento integrante das palavras ditas por Nossa Senhora, depois das quais Ela disse: «Isto não o digais a ninguém. Ao Francisco, sim, podeis dizê-lo.»

     Depois de ter viciosamente caracterizado um elemento integrante da Mensagem de Fátima como uma “qualquer observação”, aAMF trata de o ‘sepultar’ numa nota de rodapé que nunca mais é mencionada: «Na citada “Quarta Memória”, a Irmã Lúcia acrescenta: “Em Portugal se conservará sempre o dogma da Fé etc.”».

     Porque é que Sodano/Ratzinger/Bertone usaram de tanta esperteza para ocultarem esta frase-chave - a ponto de eles (tão obviamente!) se terem desviado do seu caminho só para a evitarem usando uma Memória anterior e menos completa do texto da Mensagem? Se não há nada a ocultar nesta frase, porque não se usou, simplesmente, a Quarta Memória e se tentou dar uma explicação do que essa frase quer dizer? Porque é que os autores da AMF fingiram tão obviamente que a frase é uma mera “observação”, quando bem sabem que ela aparece no texto integral como parte das palavras proferidas pela Mãe de Deus? Regressaremos a este comportamento suspeito num capítulo seguinte.

     Outro motivo de suspeição era que a visão do «Bispo vestido de Branco» não podia ser a carta, de uma só página, «em que a Irmã Lúcia escreveu as palavras que Nossa Senhora confiou aos três pastorinhos, como segredo, na Cova da Iria» - como o próprio Vaticano a descreveu, no já mencionado comunicado à imprensa de 1960. O texto da visão estende-se por quatro páginas que parecem ser folhas pautadas de um caderno.

     Outra circunstância suspeita é o facto de, a 26 de Junho, a mentira do Cardeal Sodano de 13 de Maio ter sido claramente exposta: o Papa é assassinado por um pelotão de soldados que o abatem a tiro, estando ele ajoelhado aos pés de uma grande Cruz de madeira, fora de uma cidade meio arruinada. O Papa não está “como morto”, como o Cardeal Sodano falsamente tinha afirmado em Maio; o Papa é morto. A visão, o que quer que ela significasse, não tem absolutamente nada a ver com o atentado de 1981. Os Fiéis - que já tinham sido enganados em Maio - continuavam agora claramente no processo de serem enganados.

     As muitas e muitas discrepâncias levantadas por este texto - que, por todo o Mundo, impeliam os Católicos a duvidar de ter-nos sido revelado o Segredo na íntegra - serão discutidas em capítulo mais adiante. Por ora, consideramos o “comentário” de Ratzinger/Bertone em AMF sobre a Mensagem de Fátima como um todo.

O Cardeal Sodano dita
a “Interpretação” do Terceiro Segredo


     Em primeiro lugar, AMF é, na verdade, uma concordância virtual de que a “interpretação” da Mensagem de Fátima - da qual o Cardeal Ratzinger e Mons. Bertone “encetar[ão] uma tentativa” (para citar as palavras do Cardeal Ratzinger) - foi ditada pelo próprio Cardeal Sodano. Não menos de quatro vezes, a AMF afirma que está a seguir a “interpretação” de Sodano do Terceiro Segredo - ou seja, que Fátima pertence ao passado:
     Antes de encetar uma tentativa de interpretação, cujas linhas essenciais podem encontrar-se na comunicação que oCardeal Sodano pronunciou, no dia 13 de Maio deste ano (…)
     Por tal motivo, a linguagem feita de imagens destas visões é uma linguagem simbólica. Sobre isto, diz o Cardeal Sodano (…)   
     Como resulta da documentação anterior, a interpretação dada pelo Cardeal Sodano, no seu texto do dia 13 de Maio, tinha antes sido apresentada pessoalmente à Irmã Lúcia. (…)
     Em primeiro lugar, devemos supor, como afirma o Cardeal Sodano, que «os acontecimentos a que faz referência a terceira parte do “segredo” de Fátima parecem pertencer já ao passado».
     E para o caso de o leitor ainda não ter conseguido entendê-lo, o objectivo fundamental da AMF é reforçado mais uma vez:
     Os diversos acontecimentos, na medida em que lá são representados, pertencem já ao passado.
     Ora vejamos: Não é curioso o facto de a interpretação da Mensagem vital dada ao Mundo pela Santíssima Virgem de Fátima não ter sido entregue nem ao Papa, nem mesmo à Congregação para a Doutrina da Fé (que se limitou meramente a macaquear a opinião do Cardeal Sodano), mas sim ao Secretário de Estado do Vaticano? Que autoridade tem o Cardeal Sodano para impor o seu ponto de vista à Igreja? Nenhuma, evidentemente. Mas o Cardeal Sodano tinha-se arrogado aquela autoridade, ao manter o ascendente pós-conciliar global de Secretário de Estado do Vaticano ao nível de um Papa de facto, quanto à governação diária dos assuntos da Igreja.

     Aqui seria oportuno fornecer outro exemplo revelador desta usurpação de autoridade pelo Secretário de Estado. Num artigo intitulado “O Papa, a Missa e a política dos burocratas do Vaticano” (da revista The Latin Mass, suplemento de Inverno, Janeiro de 2002), o jornalista italiano Alessandro Zangrando conta o episódio em que o Secretário de Estado do Vaticano impedira a publicação, em L'Osservatore Romano, dos elogios do Papa à Missa tradicional em Latim. Esse louvor fora expresso numa mensagem papal dirigida a uma assembleia da Congregação para a Adoração Divina e a Disciplina dos Sacramentos: «No Missal Romano de São Pio V, como em muitas liturgias orientais, há várias orações muito belas com que os Sacerdotes expressam o mais profundo sentido de humildade e reverência perante os Sagrados Mistérios - revelando essas orações a Própria Substância de cada Liturgia.»

     Alessandro Zangrando observou que, enquanto as mensagens pontifícias dirigidas às Congregações do Vaticano são normalmente publicadas logo a seguir à sua comunicação, esta não o foi: Só depois de o louvor do Papa à Missa Tridentina ter sido publicado no jornal secular italiano Il Giornale, é que o Secretário de Estado do Vaticano, inesperadamente (e em apenas 24 horas) divulgou o texto da mensagem do Santo Padre através do gabinete de imprensa do Vaticano - isto mais de um mês após a sua comunicação pelo Sumo Pontífice. E até hoje, ao contrário da prática normal, a mensagem do Papa à Congregação não foi publicada em L'Osservatore Romano, que é o jornal pontifício. Zangrando citou a conclusão do famoso “Vaticanista” (especialista nos assuntos do Vaticano) Andrea Tornielli: «O facto de, 24 horas depois da publicação do artigo [em Il Giornale], o Secretário de Estado do Vaticano ter tornado público o texto da carta do Santo Padre prova que houve uma verdadeira tentativa de “censura” às palavras do Papa… Mas “virou-se o feitiço contra o feiticeiro” e o resultado, inesperadamente, foi o oposto do que se desejava» - isto é: o elogio do Papa à Missa tradicional acabou por alcançar uma publicidade muito maior, mesmo na imprensa secular.

     E por aqui deduzimos que um outro elemento-chave da nova orientação da Igreja - o abandono da Sua liturgia tradicional em Latim - entrou em vigor forçado pelo Secretário de Estado que tentou censurar o elogio da Missa tradicional feito pelo Papa. Quem sabe quantas outras alocuções pontificias terão sido censuradas - e com êxito - pelo Secretariado de Estado do Vaticano? Este incidente é apenas uma amostra-tipo do modo como a governação da Igreja hoje opera, especialmente devido ao declínio da saúde fìsica do Papa.

O Cardeal Ratzinger executa
a Linha do Partido de Sodano


     Voltando ao “comentário” com estes factos em mente, qualquer um pode ver que a tal conferência de imprensa de 26 de Junho de 2000 teve um só propósito primordial: levar por diante a ordem do Cardeal Sodano com respeito à interpretação “correcta” da Mensagem de Fátima. Na própria altura em que os jornalistas saíram daquela sala, a Mensagem de Fátima - toda ela - destinava-se a ser enterrada. E, uma vez enterrada, a Mensagem já não impediria o Cardeal Sodano e os seus colaboradores de seguirem, de modo implacável, a nova orientação pós-Fátima da Igreja que inclui (como veremos) o importante assunto eclesial de louvar, jantar e conviver com tipos como Mikhail Gorbachev - depois de o Papa ter pedido desculpa ao Regime da China Vermelha, de se fazer pressão sobre os Católicos romenos para entregarem à Igreja Ortodoxa os direitos (que cabiam à Igreja Católica local) sobre as propriedades roubadas por Josef Stálin, de se apoiar e mesmo de se contribuir com dinheiro para um Tribunal Criminal Internacional, ateu e irresponsável, que, sob os auspícios das Nações Unidas, poderia pôr na justiça Católicos de qualquer nação por “crimes (não-especificados) contra a humanidade” - e outros que tais “triunfos” da diplomacia do Vaticano.

     Por outras palavras: cada último reduto na Igreja tem de se conformar com o novo modo de pensar e de falar ao Mundo - o que não quadra bem nem com a profecia de Nossa Senhora de Fátima sobre o Triunfo do Seu Imaculado Coração, nem com a difusão da devoção ao Seu Imaculado Coração, nem com a consequente conversão da Rússia por meio da intervenção do Imaculado Coração de Maria. Este tipo de conversa, pura e simplesmente, já não dá, mesmo supondo que vem da própria Mãe de Deus. Logo, a missão precisa que, a 26 de Junho de 2000, o Cardeal Ratzinger e Mons. Bertone deviam realizar era: encontrar uma maneira de desligar os Fiéis, de uma vez por todas, dos aspectos explicitamente católicos da Mensagem de Fátima, que tão claramente nos lembram a Igreja “triunfal” da “idade das trevas pré-conciliar”. Como o Los Angeles Times observaria, no dia seguinte, no seu título de caixa alta: «Igreja Católica revela o Terceiro Segredo: O maior teólogo do Vaticano demoliu “com luva branca” a história de uma Freira sobre a sua visão de 1917 que tem vindo a alimentar a especulação ao longo de décadas». Todo este “contorcionismo” foi tão flagrante que até mesmo um jornal secular e laico não podia deixar de reparar nisso. Vejamos as evidências deste crime contra a Virgem de Fátima e contra os santos videntes que Deus escolheu para receber a Sua Mensagem.

     Primeiro, foi a tentativa do Cardeal Ratzinger, em AMF, de eliminar o Triunfo do Imaculado Coração:
     Queria, no fim, tomar uma vez mais outra palavra-chave do «segredo» que justamente se tornou famosa: «O Meu Imaculado Coração triunfará». Que significa isto? Significa que este Coração aberto a Deus, purificado pela contemplação de Deus, é mais forte que as pistolas ou outras armas de qualquer espécie. O fiat de Maria, a palavra do Seu Coração, mudou a história do Mundo, porque introduziu neste Mundo o Salvador: graças àquele «Sim», Deus pôde fazer-Se homem no nosso meio e tal permanece para sempre.
     O leitor atento pode reparar de imediato que o Cardeal Ratzinger suprimiu (muito convenientemente) as duas primeiras palavras da profecia da Santíssima Virgem: Por fim. Esta censura clara e intencional feita à própria Mãe de Deus era necessária para a “interpretação” revisionista do Cardeal Ratzinger seguindo o tom das palavras ditadas por Sodano: isto é, que Fátima pertence ao passado.

     Portanto, «Por fim, o Meu Imaculado Coração triunfará» - depois do afastamento vantajoso das duas primeiras palavras - é agora entendido do seguinte modo: «Há 2000 anos, o Meu Imaculado Coração triunfou». A profecia de Nossa Senhora do que acontererá por fim é falsificada flagrantemente, para ser um mero reconhecimento do que já aconteceu há 20 séculos, no início da História do Cristianismo. Quatro acontecimentos futuros - o Triunfo do Imaculado Coração de Maria, a Consagração da Rússia, a conversão da Rússia e o período de Paz no Mundo que daí resultará - são astuciosamente convertidos em um só acontecimento, de há 2000 anos!

     Esta manipulação de uma mensagem que o próprio Deus enviou à terra por meio da Sua Mãe Santíssima haveria de fazer com que alguém, de entre os Fiéis, se levantasse e exigisse justiça em nome do Céu. Mas o Cardeal Ratzinger não acaba aqui a sua carnificina da Mensagem de Fátima; faz ainda muito pior do que isso. Referindo-se ao apelo de Nossa Senhora para que se estabeleça pelo Mundo inteiro a devoção ao Seu Imaculado Coração - do modo como “Deus quer” - o Cardeal Ratzinger apresentou esta zombaria:
     O «imaculado coração» é, segundo o evangelho de Mateus (5,8), um coração que a partir de Deus chegou a uma perfeita unidade interior e, consequentemente, «vê a Deus». Portanto, «devoção» ao Imaculado Coração de Maria é aproximar-se desta atitude do coração, na qual o fiat - «seja feita a vossa vontade» - se torna o centro conformador de toda a existência.
     Repare-se, primeiro, nas aspas que o Cardeal Ratzinger coloca em redor de devoção e de Imaculado Coração, que desnuda das suas maiúsculas - sinal seguro de que estas palavras estão prestes a adquirir um novo significado.

     Logo, «Deus quer estabelecer no Mundo a devoção ao Meu Imaculado Coração» deve ser entendido agora como «Deus quer que todos façam a Sua vontade»; desse modo, todos aqueles cujos corações estão abertos à vontade de Deus adquirirão o seu próprio “imaculado coração”. Assim, a devoção ao Imaculado Coração de Maria significaria a abertura do coração de cada um para com Deus, e não a difusão da Devoção ao Coração da Mãe Santíssima com o propósito de tornar o Mundo (especialmente a Rússia) católico. Imaculado com I maiúsculo torna-se imaculado com i minúsculo; e o Coração da Santíssima Virgem torna-se o coração de todos - pelo menos potencialmente. Como se um mágico dissesse: «-Abracadabra! Já está trocado!»

     Claro que há uma só palavra para descrever a diminuição do verdadeiro e único Imaculado Coração - concebido sem Pecado Original e irrepreensível de qualquer mancha de pecado pessoal -, descendo até ao nível do coração de qualquer pessoa que se arrepende dos seus pecados e que encontra a unidade interior com Deus. Só há uma palavra - e essa palavra é blasfêmia. Mais será dito sobre este ultraje em particular no capítulo seguinte.

     Já a conversão da Rússia, foi um pouco mais difícil fazê-la desaparecer. Não há muito que se possa dizer para obscurecer a afirmação bem clara da Mãe de Deus de que «O Santo Padre consagrar-Me-á a Rússia que se converterá». Mas, como abundantemente demonstramos, a conversão da Rússia deixou de ser aceitável para o aparelho de poder do Vaticano. A solução para este problema foi, simplesmente, evitar qualquer discussão deste assunto em AMF - embora as palavras de Nossa Senhora sejam citadas sem comentário. A conversão da Rússia? Qual conversão?

     Mas o insulto supremo foi o Cardeal Ratzinger ter citado, em AMF, uma única “autoridade” sobre Fátima: o teólogo flamengo Edouard Dhanis, S.J., que o Cardeal identifica como um «eminente conhecedor» de Fátima. Evidentemente que o Cardeal Ratzinger sabe bem que Dhanis, Jesuíta modernista, deve a sua celebridade a ter posto em dúvida as aparições de Fátima. Dhanis propusera que, no Segredo de Fátima, tudo o que fosse além de um apelo à oração e penitência tinha sido fabricado no espírito dos três pastorinhos, com base em coisas que tinham visto ou ouvido ao longo da sua vida. Logo, Dhanis categorizou com o nome de “Fátima II” tudo aquilo que ele, «eminente conhecedor», arbitrariamente rejeitou como invenções - sem sequer ter entrevistado uma única vez a Irmã Lúcia, nem ter estudado os arquivos oficiais de Fátima.

     Como Dhanis afirmou: «Considerando bem tudo isto, não é fácil declarar precisamente qual o grau de credibilidade que deve ser dado aos relatos da Irmã Lúcia. Sem questionar a sua sinceridade nem a solidez de julgamento que ela evidencia na sua vida do dia-a-dia, julgar-se-á prudente usar dos seus escritos apenas sob reserva. (…) Observemos também que uma pessoa boa pode ser sincera e mostrar sensatez nos seus juízos quotidianos, mas ter uma propensão para invenções inconscientes num determinado domínio ou, em qualquer um dos casos, uma tendência para contar velhas recordações de há vinte anos com embelezamentos e modificações consideráveis”31.

     Dhanis - que recusou examinar os arquivos oficiais de Fátima - levantou dúvidas sobre cada um daqueles aspectos da Mensagem de Fátima que não concordava com as suas inclinações neo-modernistas: à oração ensinada pelo Anjo, ele chamou-lhe “inexacta”; à visão do Inferno, disse ser uma “exagerada representação medieval”; à profecia de “uma noite iluminada por uma luz desconhecida” anunciando o advento da II Guerra Mundial, descreveu-a como “uma base para suspeição”. E quanto à consagração da Rússia, Dhanis declarou redondamente que “A Rússia não poderia ser consagrada pelo Papa sem que tal ato se revestisse de um certo ar de provocação, quer em relação à Igreja separada, quer em relação à União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Isto tornaria a consagração praticamente irrealizável…». Portanto, Dhanis declarou que a Consagração da Rússia era «moralmente impossível devido às reacções que viria, previsivelmente, a provocar»32.

     A desconstrução que Dhanis fez da Mensagem de Fátima é um exemplo típico de como os modernistas minam as verdades católicas, baseados em premissas inventadas por eles próprios. Assim (premissa inventada), se a Consagração da Rússia é moralmente impossível, como teria Nossa Senhora de Fátima pedido que se fizesse? Tendo assim feito a sua jogada contra a Irmã Lúcia, Dhanis extrai a conclusão “inevitável”: «Mas seria de crer que a Santíssima Virgem tivesse pedido uma consagração que, tomada rigorosamente à letra, era praticamente irrealizável? (…) Com efeito, tal pergunta parece requerer uma resposta negativa. (…) Logo, dificilmente parece provável que Nossa Senhora pedisse a consagração da Rússia (…)» Com base inteiramente na premissa inventada por Dhanis, o testemunho da Irmã Lúcia é classificado como ‘uma fraude’.

     É exactamente esta a linha adoptada pelo Cardeal Sodano e pelo seu aparelho de Estado do Vaticano: a Mãe de Deus nunca poderia ter pedido uma coisa tão diplomaticamente embaraçosa como uma consagração pública da Rússia; assim, devemos eliminar esta noção embaraçosa de uma vez por todas. É esta linha - a Linha do Partido - que o Cardeal Ratzinger aprovou no seu “comentário”, ao elogiar Dhanis como um “eminente conhecedor” de Fátima; e, continuando a Linha do Partido, o Cardeal Ratzinger afirma que o Terceiro Segredo em particular consta de «imagens, que Lúcia pode ter visto em livros de piedade e cujo conteúdo deriva de antigas intuições de fé». Por outras palavras, como se poderá saber, na verdade, quais as partes do Terceiro Segredo que são autênticas e quais as que são meramente memórias pessoais ou “intuições”? É claro que se isto for verdade quanto ao Terceiro Segredo, também pode ser verdade em relação a toda a Mensagem de Fátima.

     A astuta tentativa do Cardeal Ratzinger de enfraquecer insidiosamente a credibilidade da Irmã Lúcia, no seu grande respeito para com a Mensagem de Fátima, será novamente discutida no capítulo seguinte. Aqui basta dizer que a concordância evidente entre o Cardeal Ratzinger e Dhanis - de que todos os elementos especificamente proféticos da Mensagem de Fátima não são fiáveis - serve para o desqualificar quanto a fazer alguma “interpretação” do Terceiro Segredo ou de alguma outra parte da Mensagem de Fátima. Muito simplesmente, o Cardeal Ratzinger não acredita que a Mãe de Deus pediu a Consagração da Rússia, a conversão da Rússia à Fé Católica, o Triunfo do Imaculado Coração de Maria e o estabelecimento, pelo Mundo inteiro, da devoção (especificamente católica) ao único Imaculado Coração. Sendo este o caso, o Cardeal tinha o dever de dar a conhecer essa sua descrença e de se abster do assunto - em vez de fingir ser uma “interpretação” o que mais não é do que uma tentativa de desacreditar aquilo mesmo que aparenta estar a “interpretar”.

     O que ficou da Mensagem de Fátima depois de o Cardeal Ratzinger e de Mons. Bertone terem acabado com ela, a 26 de Junho de 2000? Neste ponto, o Cardeal Ratzinger, Mons. Bertone e o Padre Dhanis todos concordam: «O que permanece - dissemo-lo logo ao início das nossas reflexões sobre o texto do “segredo” - é a exortação à oração como caminho para a “salvação das almas ” [sic] e, no mesmo sentido, o apelo à penitência e à conversão.» A partir de 26 de Junho de 2000, a Mensagem de Fátima tornou-se uma “Fátima light”: uma receita diluída para a piedade pessoal, sem qualquer pertinência específica para o futuro.

     Então foi para isto que a Mãe de Deus veio à terra e se operou o Milagre do Sol? É interessante reparar que, mesmo na apresentação desta versão minimalista da Mensagem, o Cardeal Ratzinger não pôde escrever sobre a salvação das almas sem colocar certas palavras entre aquelas aspas enjoadas - que ele usou para, no seu comentário, se poder distanciar das palavras devoção, triunfo e imaculado. Parece até que essa ‘Fátima light’ não é suficientemente light, no seu conteúdo católico, para o paladar ecumênico dos eclesiásticos modernos.

     Quanto à advertência profética de Nossa Senhora de que «várias nações serão aniquiladas» se a Consagração da Rússia não for feita - é claro, como tudo leva a crer, que esperam que esqueçamos isto: não haverá nenhuma aniquilação de nações, «Fátima pertence ao passado». O Cardeal Sodano diz assim. O Cardeal Ratzinger concorda.

A Linha do Partido:
o que diz acerca da Consagração da Rússia


     Mencionámos já qual foi o papel do Arcebispo Bertone em AMF. Os seus principais contributos nesta farsa foram dois:

     Primeiro, Bertone promulgou a “ordem” (que, evidentemente, não obriga ninguém) de que os Fiéis devem cessar de pedir a Consagração da Rússia: «Por isso, qualquer discussão e ulterior petição [para que se faça a Consagração] não tem fundamento.»

     Para apoiar tal afirmação, Bertone referiu exactamente uma só peça como evidência: a “carta de 8 de Novembro de 1989”, manifestamente falsa e que já mencionámos, da “Irmã Lúcia” ao Senhor Noelker - a tal carta em que a “Irmã Lúcia” se refere a uma consagração do Mundo feita pelo Papa Paulo VI em Fátima, coisa que ela nunca testemunhou porque nunca aconteceu. Muito revelador é o facto de Bertone não identificar o destinatário da carta. Nem apresenta uma cópia para que o Mundo a examine - não fosse alguém reparar no erro fatal quanto à inexistente «consagração do Mundo» do Papa Paulo VI. Mais revelador ainda: a AMF não contém absolutamente nenhum testemunho direto da pessoa da Irmã Lúcia com respeito à Consagração, embora o próprio Bertone a tenha entrevistado sobre o Terceiro Segredo apenas dois meses antes, e ela estivesse perfeitamente disponível, tanto para o Cardeal Ratzinger como para todo o aparelho de poder do Vaticano, durante a cerimônia de Beatificação em Maio.

     E não é para admirar. A versão de AMF da “consagração da Rússia” - isto é, a versão do Cardeal Sodano - contradiz rotundamente uma vida inteira de testemunho contrário prestado pela Irmã Lúcia. Vejamos alguns exemplos.

     Há mais de 55 anos, em 15 de Julho de 1946, o eminente autor e historiador William Thomas Walsh entrevistou a Irmã Lúcia - o que é contado na sua importante obra, Our Lady of Fatima, que vendeu mais de um milhão de exemplares. Nessa entrevista, que aparece no final do livro, o Senhor Walsh perguntou-lhe pormenores específicos sobre o procedimento correto para a Consagração Colegial.
     Por fim chegámos ao assunto importante do segundo segredo de Julho, do qual tantas versões diferentes e incompatíveis têm sido publicadas. Tornou-se claro para Lúcia que Nossa Senhora não pediu a consagração do Mundo ao Seu Imaculado Coração. O que exigiu especificamente foi a consagração da Rússia. Ela não fez qualquer comentário sobre o facto de o Papa Pio XII ter consagrado o Mundo, e não a Rússia, ao Imaculado Coração [de Maria] em 1942. Mas disse mais de uma vez, e com ênfase deliberada: «O que Nossa Senhora quer é que o Papa e todos os Bispos no Mundo consagrem a Rússia ao Seu Imaculado Coração em um dia específico. Se isto for feito, a Senhora converterá a Rússia e haverá Paz. Se não for feito, os erros da Rússia espalhar-se-ão a todos os países do Mundo»33.
     A Irmã Lúcia é clara e directa. A consagração colegial pedida pelo Céu é a Consagração da Rússia, não do Mundo, e tem que ser feita pelo Papa em conjunto com os Bispos do Mundo no mesmo dia.

     Aliás, há ainda a revelação pouco conhecida de Nossa Senhora à Irmã Lúcia nos inícios dos anos 50, e que é contada em Il Pellegrinaggio delle Meraviglie, publicado sob os auspícios do episcopado italiano. A Santíssima Virgem Maria apareceu à Irmã Lúcia em Maio de 1952 e disse: «Dê-se conhecimento ao Santo Padre que continuo a esperar a Consagração da Rússia ao Meu Imaculado Coração. Sem a Consagração, a Rússia não se poderá converter, nem o Mundo terá a Paz»34.

     É assim que, 10 anos depois da consagração do Mundo do Papa Pio XII em 1942, temos Nossa Senhora a recordar à Irmã Lúcia que a Rússia não se converterá, nem haverá Paz, a menos que a Rússia seja consagrada pelo seu próprio nome.
     Trinta anos depois, em 1982, o testemunho da Irmã Lúcia continua inalterável. Em 12 de Maio de 1982, um dia antes da suposta consagração de 1982, o jornal oficial do Vaticano L'Osservatore Romano publicou uma entrevista da Irmã Lúcia, feita pelo Padre Umberto Maria Pasquale, Sacerdote salesiano, durante a qual ela diz ao Padre Umberto que Nossa Senhora nunca pediu a consagração do Mundo, mas só a consagração da Rússia:
     A certa altura, disse-lhe: « - Irmã, gostaria de lhe fazer uma pergunta. Se não puder responder-me, paciência! Mas se puder, ficaria muito agradecido se me esclarecesse um pormenor que também não parece claro a muita gente... Alguma vez Nossa Senhora lhe falou da consagração do Mundo ao Seu Imaculado Coração?»
     « -Não, Padre Umberto! Nunca! Na Cova da Iria, em 1917, Nossa Senhora prometeu: “Eu virei pedir a consagração da Rússia (…)” Em 1929, em Tui, tal como tinha prometido, Nossa Senhora voltou para me dizer que chegara o momento de pedir ao Santo Padre que fizesse a consagração daquela nação [a Rússia] (…)»
     Este testemunho foi confirmado pela Irmã Lúcia em uma carta escrita a mão ao Padre Umberto, que o Sacerdote também publicou. [Encontra-se, em baixo, uma cópia reproduzida fotograficamente].
     Aqui vai a transcrição da nota:
Rev.do Senhor P. Humberto, “Respondendo à sua pergunta esclareço: Nossa Senhora, em Fátima, no Seu pedido, só Se referiu à consagração da Rússia.” … Coimbra 13 IV-1980 (assinado) Irmã Lúcia
     Mais uma vez a 19 de Março de 1983, a pedido do Santo Padre, a Irmã Lúcia encontra-se de novo com o Núncio Pontifício, o Arcebispo Portalupi, o Sr. Dr. Lacerda e o Padre Messias Coelho. Durante este encontro, a Irmã Lúcia confirma que a Consagração de 1982 do Papa João Paulo II não cumpriu os pedidos de Nossa Senhora. Irmã Lúcia disse:
     No acto do oferecimento de 13 de Maio de 1982, a Rússia não apareceu como sendo o objecto da consagração. E cada Bispo não organizou na sua própria diocese uma cerimónia pública e solene de reparação e Consagração da Rússia. O Papa João Paulo II simplesmente renovou a consagração do Mundo efectuada pelo Pio XII a 31 de Octubro de 1942. Desta consagração podemos esperar alguns benefícios, mas não a conversão da Rússia35.
     Ela concluiu, «A Consagração da Rússia não foi feita como Nossa Senhora tinha exigido. Não o pude dizer publicamente mais cedo, por não ter tido autorização do Vaticano»36.

     Um ano depois, a 25 de Março de 1984, o Papa João Paulo II fez um ato de oferecimento, após o que consagrou outra vez “o Mundo”, não a Rússia. Tal como sucedeu com a consagração de 1982, «cada Bispo não organizou na sua própria diocese uma cerimônia pública e solene de reparação e Consagração da Rússia.» Com respeito a esta cerimonia, Frère François escreve: «Nos meses que se seguiram ao acto de oferecimento de 25 de Março de 1984, que foi apenas uma renovação do acto de 1982, os principais estudiosos de Fátima concordaram em dizer que a consagração da Rússia ainda não fora feita como o Céu desejava»37.

     Tal foi também a convicção do Padre António Maria Martins38 e do Padre Messias Coelho que, na véspera de 25 de Março de 1984, escreveu na Mensagem de Fátima, da qual ele é o redator: «Consagração da Rússia: Não será feita ainda nesta altura». Para além disto explicou: «Está certo que o maior contém o menor. Aparentemente, portanto, a “Consagração do Mundo” dará talvez a impressão de ter o poder de substituir a consagração específica da Rússia. O problema, todavia, não pode ser resolvido em termos lógicos, nem mesmo à luz de teologia sistemática»39.

     Estes teólogos basearam as suas afirmações não só no mero facto de que uma consagração da Rússia precisa de mencionar a palavra “Rússia”, mas também no testemunho da própria Irmã Lúcia.

     Na quinta-feira, 22 de Março de 1984, dois dias antes do ato de oferecimento, o Carmelo de Coimbra celebrou o 77º aniversário da Irmã Lúcia. Naquele dia recebeu, como era seu costume, a sua velha amiga Sr.a D. Eugénia Pestana. Depois de saudar a sua amiga carmelita, a Sr.a D. Pestana perguntou-lhe: «Então, Lúcia, no Domingo é a Consagração?» A Irmã Lúcia, que já tinha recebido e lido o texto da fórmula de consagração do Papa, fez um sinal negativo e declarou: «Aquela consagração não pode ter um carácter decisivo»40.

     O “carácter decisivo”, que é o selo da consagração própria, é a conversão milagrosa da Rússia. Se bem que a nova “orientação ecumênica” da Igreja confunda o ponto em questão, a conversão da Rússia quer dizer conversão ao Catolicismo. Isto não é senão um caso de senso comum, mas encontra-se no testemunho do Padre Joaquín Alonso, talvez o maior conhecedor de Fátima do século XX. O Padre Alonso, que teve muitas entrevistas com a Irmã Lúcia, escreveu em 1976:
     ... podíamos dizer que Lúcia tem pensado sempre que a «conversão» da Rússia não se entende só como um retorno dos povos da Rússia à religião cristã-ortodoxa, rejeitando o ateísmo marxista dos sovietes, mas antes que se refere pura e simplesmente à conversão total e integral, um retorno à única e verdadeira Igreja, a Católico-romana41.
     Numa entrevista de 1985 no Sol de Fátima, a Irmã Lúcia foi perguntada se o Papa tinha cumprido o pedido de Nossa Senhora quando consagrou o Mundo em 1984. A Irmã Lúcia respondeu: «Não houve a participação de todos os Bispos, e não houve nenhuma menção da Rússia.» Nessa altura perguntaram-lhe: «Assim, a consagração não foi feita como foi pedida por Nossa Senhora?», a que respondeu: «Não. Muitos Bispos não ligaram nenhuma importância a este acto»42.

     Até mesmo o Padre René Laurentin, camarada dos progressistas, admitiu em 1986 que «Irmã Lúcia não ficou satisfeita43 ... Lúcia parece pensar que a Consagração “não foi feita” como Nossa Senhora a queria»44.

     Mais tarde, em 20 de Julho de 1987, a Irmã Lúcia foi entrevistada à pressa fora do seu convento, quando foi votar. Nessa altura disse ao jornalista Enrique Romero que a Consagração da Rússia não se fizera como estava pedida45.

     Poderiam citar-se mais afirmações da Irmã Lúcia de que a consagração de 1984 não cumpriu as condições do Céu,46 mas o ponto está estabelecido; Mons. Bertone e o Cardeal Ratzinger, no seguimento da Linha do Partido de Sodano, confiaram inteiramente numa só carta, manifestamente falsa, para derrubar mais de cinquenta anos de testemunho firme da Irmã Lúcia sobre os pedidos do Céu quanto a uma consagração válida da Rússia. Eles não ousaram perguntar à Irmã Lúcia pessoalmente sobre o assunto - ou, se o fizeram, ela não lhes forneceu respostas que concordassem com a Linha do Partido47.

A Linha do Partido sobre Fátima e a Paz mundial

     Isto leva-nos à segunda parte da farsa de Mons. Bertone. Veio na forma desta afirmação:
     A decisão tomada pelo Santo Padre João Paulo II de tornar pública a terceira parte do «segredo» de Fátima encerra um pedaço de história, marcado por trágicas veleidades humanas de poder e de iniquidade, mas permeada pelo amor misericordioso de Deus e pela vigilância cuidadosa da Mãe de Jesus e da Igreja.
     É difícil encontrar palavras para expressar o carácter ofensivo desta afirmação absurda. Aqui a Linha do Partido do Sodano propõe seriamente que uma era inteira de veleidades humanas de poder e de iniquidade terminou com a “divulgação” da visão obscura do «Bispo vestido de Branco». Se assim foi, porque esperou o Vaticano quarenta anos para trazer a Paz mundial, quando tudo o que tinha a fazer, segundo Mons. Bertone, era organizar uma conferência de imprensa em 1960 para publicar esta visão obscura?

     O Cardeal Sodano evidentemente reconheceu que tinha que fornecer aos fiéis algum tipo de contrafacção para tomar o lugar do triunfo do Imaculado Coração, que nunca se realizou depois da “consagração da Rússia” em 1984. A conferência de imprensa de 26 de Junho de 2000 foi deste modo apresentada como a grande culminação da Mensagem de Fátima!

     Mas, de alguma maneira, tanto Mons. Bertone como o Cardeal Ratzinger não fizeram caso das implicações óbvias da carta da Irmã Lúcia ao Papa de 12 de Maio de 1982, a qual eles próprios (parcialmente) reproduziram fotograficamente em AMF:
     E se não vemos ainda, como facto consumado, o final desta profecia, vemos que para aí caminhamos a passos largos48. Se não recuarmos no caminho do pecado, do ódio, da vingança, da injustiça atropelando os direitos da pessoa humana, da imoralidade e da violência, etc. E não digamos que é Deus que assim nos castiga; mas, sim, quesão os homens que para si mesmos preparam o castigo.
     Esta carta de 1982 não faz, terminantemente, nenhuma menção da tentativa de assassínio de 1981; muito menos caracteriza a tentativa como qualquer tipo de cumprimento do Terceiro Segredo. Sem qualquer dúvida, um ano depois da tentativa a Irmã Lúcia ficou preocupada com um castigo global, em consequência da falta da Igreja não obedecendo aos imperativos da Mensagem de Fátima. Decerto ela não escrevia ao Papa sobre o triunfo do Imaculado Coração, mas antes sobre a aniquilação das nações.

     É muito curioso também que esta mesma carta da Irmã Lúcia (que Ratzinger e Bertone dizem que foi dirigida ao Papa João Paulo II) contém a frase: «A terceira parte do Segredo que tanto ansiais por conhecer». Porque é que o Papa ‘ansiaria tanto conhecer’ a terceira parte do Segredo, se já tinha o texto em sua posse no Vaticano, onde ele estava guardado desde 1957? Porque é que Sua Santidade ‘ansiaria tanto conhecer’ aquilo que, afinal, já tinha lido em 1981 (segundo afirmação de Bertone/Ratzinger) ou ainda mais cedo, em 1978, como o porta-voz da Santa Sé, Joaquín Navarro-Valls, declarou à imprensa portuguesa?

     É muito revelador que a expressão “que tanto ansiais por conhecer” tenha sido retirada pelo Vaticano da citação do original português da mesma carta, em todas as versões do Comentário de Ratzinger/Bertone em diversas línguas. A própria versão do AMF em língua portuguesa omite esta frase (“que tanto ansiais por conhecer”) da reprodução tipográfica portuguesa da carta original. Sem dúvida o aparelho de estado do Vaticano quis evitar um turbilhão de perguntas sobre de que modo estaria o Papa ansioso por conhecer uma coisa que já conhecia. Mas na altura em que os repórteres pudessem comparar as suas transcrições com a carta original em português, já a conferência de imprensa teria terminado - o que inviabilizava que fizessem quaisquer outras perguntas.

     Duas conclusões são possíveis: ou a carta não era realmente dirigida ao Papa ou, então, havia algo mais que fazia parte do Segredo e que o Santo Padre realmente desconhecia à data dessa carta, 12 de Maio de 1982. Como diz o célebre aforisma de Sir Walter Scott «-Oh, que emaranhada é a teia que começa por uma mentira»49! A primeira mentira - que Fátima pertence ao passado - conduz a uma teia emaranhada de outras mentiras para ocultar a primeira.

O Padre Gruner serve de alvo

     Mas havia mais a fazer nesta campanha de enterrar Fátima no passado. Que se podia fazer com o “Sacerdote de Fátima”, que tinha um apostolado cujas publicações e programas televisivos e radiofônicos sublinhavam com grande persistência e notável efeito que o aparelho de Estado do Vaticano, segundo a sua nova visão da Igreja, tinha virado as costas aos pedidos da Santíssima Virgem? Na conclusão desta conferência de imprensa de 26 de Junho de 2000, o Cardeal Ratzinger desviou-se do conteúdo para mencionar o Padre Nicholas Gruner pelo seu nome, insistindo que ele tem que «se-submeter ao Magistério da Igreja» na questão da Consagração da Rússia, que (conforme a Linha do Partido) teria sido nessa altura levada a cabo. Mas o Magistério da Igreja - o ofício docente categorizado da Igreja - não ensinou absolutamente nada sobre isto. Houve apenas a interpretação de Fátima de Sodano e a “tentativa” não vinculatória de AMF para diminuir a seriedade de todo o conteúdo profético específico da Mensagem de Fátima50 (deixando apenas a oração e a penitência).

     A aumentar esta perseguição, apenas uns poucos dias antes desta conferência de 26 de Junho, a Congregação do Clero do Vaticano tinha enviado ao Padre Gruner uma carta contendo a ameaça estarrecedora de que seria excomungado da Igreja Católica. Carta esta que foi seguida de um comunicado aos Bispos das Ilhas Filipinas (onde o apostolado do Padre Gruner é fortemente apoiado), a avisá-los de que o Padre Gruner seria excomungado a menos que (entre outras exigências) «se reconciliasse com as autoridades da Igreja» - isto é, voltasse à diocese de Avellino, fechasse as portas do seu apostolado para sempre e se submetesse à Linha do Partido sobre Fátima. Por seu lado, o Bispo de Avellino nunca precisou dos serviços do Padre Gruner, nunca o apoiou economicamente a partir de 1978, e nunca tomou quaisquer medidas para assegurar um visto de imigração adequado para o “regresso” a Avellino. O Bispo de Avellino não foi mais do que um peão no jogo de xadrez do Secretário de Estado. (Teremos mais para dizer sobre esta farsa nos capítulos que se seguem.)

     Nas suas afirmações sobre o Padre Gruner, no fim da conferência de imprensa de 26 de Junho, o Cardeal Ratzinger também assentou que o Padre Gruner certamente sofria de angoscia - a palavra italiana que significa extrema angústia do espírito. O Cardeal Ratzinger evidentemente sabia da ameaça de excomunhão, que, com efeito, provocaria angoscia em qualquer Sacerdote fiel que ama a Igreja. Mas a situação difícil do Padre Gruner é só emblemática do estado lamentável de toda a Igreja na época pós-conciliar: um Sacerdote que não cometeu nenhum delito contra a fé e a moral é pessoalmente ameaçado com excomunhão pelo próprio dirigente da Congregação do Clero, enquanto, por toda a Igreja, malfeitores em pele de Clérigos molestam acólitos ou difundem heresias, e os seus Bispos os deslocam de um lugar para outro ou ocultam as suas atividades e os protegem do castigo; e a Congregação do Clero não faz nada.

     Como se explica esta ultrajante disparidade de justiça? Parece-nos uma só explicação lógica, baseada no que já temos evidenciado: Na Igreja Católica da Adaptação pós-conciliar, tal como na Rússia estalinista, o único delito imperdoável é opor-se à Linha do Partido. E o Padre Gruner opôs-se à Linha do Partido sobre Fátima.

Nossa Senhora sai, Gorbachev entra

     Afirmamos que este escárnio e obscurecimento da Mensagem de Fátima - a Linha do Partido sobre Fátima - tinha por intenção enterrá-la de uma vez por todas, de tal modo que o Cardeal Sodano pudesse continuar a impor à Igreja a nova orientação. Aqui está um exemplo especialmente convincente do que queremos dizer:

     Tendo Fátima sido “demolida com luva branca” (para citar o Los Angeles Times) pelo Cardeal Ratzinger e Mons. Bertone em 26 de Junho, o aparelho de Estado do Vaticano, dirigido pelo Cardeal Sodano, pôs-se de imediato a tratar do que eles consideram assuntos sérios da Igreja. No dia seguinte, Mikhail Gorbachev sentou-se como convidado de honra entre os Cardeais Sodano e Silvestrini numa “conferência de imprensa” no Vaticano. Qual foi o propósito desta conferência de imprensa? Foi convocada para celebrar um dos elementos-chave da orientação nova da Igreja: a Ostpolitik, a política de “diálogo” e transigência com os regimes comunistas (incluindo a China vermelha) que perseguem a Igreja. A justificação imediata da conferência de imprensa foi a publicação póstuma das memórias do Cardeal Casaroli, o grande propagador da Ospolitik e antecessor do Cardeal Sodano em fazer cumprir a Linha do Partido do Secretário de Estado51.

     Numa autêntica tradição estalinista, não foram permitidas quaisquer perguntas da imprensa nesta curiosa “conferência de imprensa” - uma conferência de imprensa sem perguntas da imprensa! É evidente que o Vaticano queria assegurar-se de que ninguém se oporia à Linha do Partido com alguma pergunta sobre Fátima, ou por que razão o Vaticano honrava um indivíduo como Mikhail Gorbachev, um homem que admite que ainda é leninista e cujas fundações não lucrativas advogam o uso do aborto e da contracepção para eliminar quatro mil milhões de pessoas da população do Mundo52. Para já não falar da defesa pública que este indivíduo sanguinário fez da invasão soviética do Afeganistão, quando ainda estava à frente do Partido Comunista Soviético - uma campanha de genocídio que incluía a colocação de explosivos disfarçados como brinquedos, sucedendo assim que crianças afegãs perderam membros e cabeças53.

     Poderia haver uma demonstração mais dramática da oposição fundamental entre a Igreja de todos os tempos e a Igreja da Adaptação? Em 26 de Junho de 2000 Nossa Senhora de Fátima foi afastada, a Sua Mensagem do Céu audaciosamente censurada e revista por homens cuja vontade era consigná-la ao esquecimento. Nessa altura, um dia depois, Mikhail Gorbachev entrou no Vaticano para celebrar a nova orientação da Igreja, implementada pelo falecido Cardeal Casaroli e pelo seu sucessor, Cardeal Sodano.

     Gorbachev, figura preeminente da cultura da morte, foi honrado pelo Vaticano outra vez em 4 de Novembro de 2000, quando dirigiu uma alocução ao Papa e a outros prelados no “Jubileu dos Políticos” - um jantar de gala para cerca de 5.000 governantes das repúblicas seculares e ateias do Mundo. Os fotógrafos registaram para a posteridade o Papa escutando muito atentamente o discurso deste grande promotor do holocausto do aborto54. Esta mistura grotesca de um Jubileu - tradição espiritual da Igreja, derivada de um costume do Antigo Testamento - com discursos sobre assuntos laicos de políticos a favor do aborto, é absolutamente típica da nova orientação, que constantamente procura amalgamar a Igreja com o Mundo na grande Adaptação de Catolicismo Romano à “civilização moderna”.


Notas
1. “The Moscow Patriarchate and Sergianism” por Boris Talantov, in Russia's Catacomb Saints, (St. Herman of Alaska Press, Platina, California, 1982) pp. 463-486.

2. “The Moscow Patriarchate and Sergianism: An Essay by Boris Talantov,” encontrado em
www.orthodoxinfo.com/resistance/cat_tal.html

3. Comentários de 17 de Janeiro de 1998 na Conferência da Aid to Church in Russia, www.catholic.net/rcc/ Periodicals/Faith/1998-03-04/Russia.html. Reimpresso em The Catholic Dossier, Março/Abril de 1998, p. 4.

4. L'Osservatore Romano, 26-27 de Março de 1984, pp. 1, 6.

5. Avvenire, 27 de Março de 1984, p. 11.

6. Padre Fabrice Delestre, “Porquê não obedecer à Mãe de Deus como seria necessário?”, Semper, Revista da Fraternidade Sacerdotal São Pio X, Nº 49, Outono de 2000, p. 18 (em português)Veja-se também Frère François de Marie des Anges, Fatima: Joie Intime Événement Mondial (Edição francesa, Contre-Réforme Catholique, França, 1991), pp. 363-364. Frère François de Marie des Anges, Fatima: Tragedy and Triumph, pp. 168-172.

7. As observações do Padre Maurer apareceram numa entrevista em Catholic World Report, Fevereiro de 2001. Uma sinopse e comentário sobre esta entrevista foram publicados em “The Myth of a Converted Russia Exposed”, por Marian Horvat, Ph.D., Catholic Family News, Março de 2001.

8. Veja-se Mark Fellows, “This Present Darkness”, Part III, Catholic Family News, Outubro de 2000.

9. Com respeito ao álcool na Rússia, concluíram os investigadores: «o ritmo do consumo de álcool na Rússia, tradicionalmente entre os maiores no Mundo, e subindo significativamente nos anos 90, é um contributo principal para a crise de saúde do país ... o alcoolismo tem atingido proporções epidémicas, particularmente entre os homens ... Um estudo russo feito em 1995 concluiu que entre 25 e 60% dos operários embriagavam-se regularmente ... Em 1994 uns 53.000 pessoas morreram de envenenamento por álcool, um aumento de cerca de 36.000 desde 1991.» Nos dez anos que se seguiram à alegada conversão da Rússia, houve também um grande aumento no uso de drogas ilegais: «Em 1995 calcula-se que uns 2 milhões de russos usaram narcóticos, mais de vinte vezes o total encontrado dez anos antes em toda a União Soviética, e o número de viciados aumentou 50% cada ano em meados dos anos 90.» In Mark Fellows, “This Present Darkness”, Part II, Catholic Family News, Setembro de 2000.

10. “Satanism on the Rise in Russia” compilado por John Vennari. Veja-se www.fatima.org/satanism.html

11. “Russia Legalizes Homosexuality”, United Press International, 28 de Maio de 1993. Citamos o início do artigo: «Os ativistas homossexuais da Rússia celebraram na sexta-feira uma grande vitória para os direitos homossexuais na Rússia pós-Soviética, com a revogação do artigo 121º do código criminal soviético, que proibia o sexo consensual entre homens. “Isto é uma grande notícia para os homossexuais e as lésbicas na Rússia,” disse Vladislav Ortanov, editor da revista homossexual Moscovita Risk

12. “Activist Says Child Porn Prosecutions Will be Difficult in Indonesia, Russia”, Christine Brummitt, Associated Press, 9 de Agosto de 2001 (ênfase acrescentada).

13. “Big Brotherski goes too far for staid Russians”, Mark Franchetti, Sunday Times (Londres), 25 de Novembro de 2001.

14. “New Visa System Seen Choking Russia's Catholic Parishes”, Russia Reform Monitor, Nº. 485, 28 de Julho de 1998. E ainda “Catholic Clergy in Siberia Face Growing Visa Difficulties”, Catholic World News, 19 de Novembro de 1997.

15. Sarah Karush, “Foreign Priests Spark Controversy”, Associated Press, 12 de Fevereiro de 2002.

16. Radio Free Europe Report, 20 de Junho de 2001.

17. Ibid. Veja-se também Catholic News Service, 17 de Fevereiro de 2002.

18. Fatima: Tragedy and Triumph, pp. 189-190.

19. Para um bom estudo sobre a falsidade desta carta ao Sr. Noelker, veja-se Mark Fellows, “This Present Darkness”, Part II, Catholic Family News, Setembro de 2000.

20. O princípio que requer que a autoridade seja exercida ao nível mais baixo possível para evitar a tirania provocada pela centralização excessiva do governo. Por exemplo, o orçamento de uma cidade deve ser determinado pela respectiva câmara municipal, e não pelo governo central.

21. Sob a estrutura antiga, antes de 1967, o Papa presidia à Cúria Romana. Sob a estrutura nova, a partir de 1967, é a Secretaria de Estado que preside à Cúria Romana. O leitor é convidado a examinar o Annuario Pontificio de antes e depois de 1967 para ver a mudança na estrutura da Cúria Romana.

22. Um sacerdote francês mostrou o documento maçônico ao Padre Paul Kramer, um sacerdote americano, entre outros.

23. Paul Fisher, Their God is the Devil, (American Research Foundation, Washington, D.C., 1990) p. 40.

24. Veja-se Francis Alban e Dr. Christopher A. Ferrara, Fatima Priest, Quarta Edição (Good Counsel Publications, Pound Ridge, New York, 2000). Capítulos 12, 14, 17-22, e Apêndices I e II.

25. Para os pormenores dos “procedimentos” tortuosos e extensos para silenciar o Padre Gruner, o leitor pode consultar: Fatima Priest (Quarta Edição), A Law for One Man (ambos disponíveis em inglês de The Fatima Center, 17000 State Route 30, Constable, New York 12926) ou visite o site de Fátima na Internet: www.fatima.org

26. Sobre aos pormenores curiosos e confusos dos planos para a cerimônia da beatificação e assuntos relacionados com ela, veja-se o artigo na página 12 do Correio da Manhã de 14 de Outubro de 1999; o semanário Jornal de Leiria de 14 de Outubro de 1999, p. 24; o semanário A Ordem, 21 de Outubro de 1999, p. 1; o semanário oficial da Patriarcado de Lisboa Voz da Verdade de 31 de Outubro de 1999, na página 6, o artigo intitulado «Beatificação dos pastorinhos definitivamente em Roma»; o semanário oficial da Patriarcado de Lisboa Voz da Verdade 5 de Dezembro de 1999 intitulado «Papa volta a Portugal, Fátima, cenário da beatificação»; artigo em Euronotícias de 24 de Março de 2000, p. 8, intitulado «Bispo de Leiria-Fátima», 21 de Março, conferência de imprensa; o semanário Euronotícias de 24 de Março de 2000, na página 8 «Crise: O Bispo de Leiria-Fátima cria um mistério em redor da visita do Papa, sem dizer ao Patriarca o que concerne. Divulgará o Papa o Terceiro Segredo?» (tradução nossa);Euronotícias de 24 de Março, artigo na página 9 intitulado: «Análise: Pessoas que têm estudado as Aparições dizem que o Terceiro Segredo pode dizer respeito à destruição da Fé. A crise a partir do interior da Igreja seria o Terceiro Segredo» (tradução nossa).
27. Padre Herman Bernard Kramer, The Book of Destiny, (publicado pela primeira vez em 1955, publicado de novo por TAN Books and Publishers, Inc., Rockford, Illinois, 1975) pp. 279-284.

28. Ibid.

29. Ibid.

30. Neste ponto referimos o leitor outra vez aos artigos seguintes: em Euronoticias 24 de Março de 2000, p. 8, intitulado «Bispo de Leiria-Fátima» 21 de Março conferência de imprensa; semanário Euronoticias de 24 de Março de 2000, na página 8, «Crise: O Bispo de Leiria-Fátima cria um mistério em redor da visita do Papa sem dizer ao Patriarca o que concerne. Divulgará o Papa o Terceiro Segredo? (tradução nossa); Euronoticias de 24 de Março, um artigo na página 9 intitulado: «Análise: Pessoas que tem estudado as Aparições dizem que o Terceiro Segredo pode concernir a destruição da Fé. A crise no interior da Igreja seria o Terceiro Segredo» (tradução nossa).

31. A tese completa de Dhanis contra Fátima é explicada em The Whole Truth About Fatima - Volume I, Parte II, Capítulo 1 de Frère Michel. Todas as citações sobre a sua teoria falsa são provenientes deste fonte.

32. Ibid.

33. William Thomas Walsh, Our Lady of Fatima, (Image-Doubleday, New York, Imprimatur 1947) p. 221. Ênfase no original.

34. Il Pellegrinaggio delle Meraviglie, p. 440. Roma, 1960. Esta mesma obra, publicada sob os auspícios do episcopado italiano, afirma que esta mensagem foi comunicada ao Papa Pio XII em Junho. Aliás, o Canon Barthas mencionou aquela aparição na sua comunicação ao Congresso Mariológico de Lisboa-Fátima, em 1967; veja-se De Primordiis cultus marianae, Acta congressus mariologici-mariana in Lusitania anno 1967 celebrati, p. 517. Roma, 1970. Veja-se Fatima: Tragedy and Triumph, pp. 21 e 37.

35. Fatima: Tragedy and Triumph, p. 165.

36. Incluído num artigo da autoria do Padre Pierre Caillon, do Centre Saint-Jean, 61500 Sées (Orne), França. Este artigo foi publicado pelo jornal mensal Fidelité Catholique, B.P. 217, 56402 Auray Cedex, França. Tradução inglesa em The Fatima Crusader, número 13-14, (Outubro-Dezembro de 1983), p. 3.

37. Fatima: Tragedy and Triumph, p. 172.

38. Veja-se Fátima e o Coração de Maria, pp. 101-102. (tradução nossa)

39. Fatima: Tragedy and Triumph, pp. 172-173. Padre Messias Coelho, Mensagem de Fatima, Nº 157, Março, 1984, Mensagem de Fátima, N° 158, Maio, 1984.

40. Ibid., pp. 167-168.

41. La Verdad sobre el Secreto de Fatima, Fatima sin mitos, do Padre Joaquín Alonso, (2ª edição, Ejército Azul, Madrid, 1988), p. 78. Lê-se no espanhol original: « ... podríamos decir que Lucía ha pensado siempre que la “conversión” de Rusia no se entiende solo de un retorno de los pueblos de Rusia a la religión cristiano-ortodoxa, rechazando el ateismo marxista y ateo de los soviets, sino que se refiere pura y llanamente a la conversión total e integral de un retorno a la única y verdadera Iglesia, la católica-romana.»

42. Sol de Fátima, Setembro de 1985.

43. Chrétiens-Magazine, Março de 1987, Nº 8. Citado em Fatima: Tragedy and Triumph, p. 189.

44. Padre Laurentin, Multiplication des apparitions de la Vierge aujourd'hui, p. 45, Fayard, Setembro de 1988. Citado em Fatima: Tragedy and Triumph, p. 189.

45. Este testemunho da Irmã Lúcia foi incluído na edição do início de Agosto de 1987 de Para Tí, publicado na Argentina. Veja-se Escravidão mundial ou paz... A Decisão é do Papa, do Padre Nicholas Gruner (Immaculate Heart Publications, 1993), p. 203.

46. Para mais testemunhos, veja-se Capítulo VI de Fatima: Tragedy and Triumph.

47. A alegada entrevista de 17 de Novembro de 2001 entre o Arcebispo Bertone e a Irmã Lúcia é tratada amplamente no capítulo 14, “-Deixem-nos ouvir a testemunha, pelo amor de Deus!”

48. É interessante notar que a tradução inglesa de «vemos que para aí caminhamos a passos largos», «we are going towards it little by little with great strides» é claramente defeituosa. As palavras: “little by little” (pouco a pouco) não aparecem no português original, publicado na página 9 de AMF fornecido pelo próprio Vaticano.

49. “Marmion, A Tale of Flodden Field”, Canto 6, estrofe 17. Poema de Sir Walter Scott.

50. Note-se que o próprio Cardeal Ratzinger disse, com respeito à interpretação do Vaticano do Terceiro Segredo: «A Igreja não quer impor uma interpretação». Esta citação aparece em: “Final Secret of Vatican Published by Vatican”, Boston Herald, 27 de Junho de 2000; “Vatican's Secret is Out”, The Express, 27 de Junho de 2000; “Vatican Unease as it Reveals the Full Third Secret of Fatima”, Financial Times (Londres), 27 de Junho de 2000; “Fatima ‘Snapshot of Martyr's Past Century’”, The Irish Times, 27 de Junho de 2000.

51. Noticias da conferência de imprensa de 27 de Junho de 2000. “Gorbachev Helps Introduce Casaroli Memoirs”, Catholic World News, 27 de Junho de 2000.

52. Em Setembro de 1995, Gorbachev efetuou o seu “Fórum sobre o Estado do Mundo” em São Francisco. Mais de 4.000 pessoas da “elite” do Mundo pagaram $5.000 cada para assistir ao acontecimento, que durou 5 dias. Na sessão plenária de encerramento do fórum, um autor/filósofo pelo nome de Sam Keen forneceu um resumo e comentários finais sobre a conferência, o que revelou o ethos anti-vida e anti-cristão do Fórum. Aos participantes da conferência, disse Keen: «Houve uma concordância muito forte em que as instituições religiosas têm que assumir a responsabilidade primária pela explosão de população. Devemos falar muito mais claramente sobre a sexualidade, sobre a contracepção, sobre o aborto, sobre os valores que controlam a população, porque a crise ecológica, em resumo, é a crise de população. Corte-se a população em 90% e não haverá gente suficiente para fazer um grande estrago ecológico.» Veja-se “World's elite gather to talk depopulation,” John Henry Western, The Interim, Abril de 1996.

53. Veja-se a entrevista com o funcionário afegão Abdul Shams em Review of the News, Julho de 1985.

54. Fotografia publicada em Catholic Family News, Janeiro de 2001, p. 13.

Fonte : http://www.devilsfinalbattle.com/port/ch8.htm

Sabem qual a diferença entre democracia e comunismo ? O caminho.
Enquanto o comunismo vai direto ao objetivo, a democracia vai comendo pelas beiradas.

Reparem que o resultado é o mesmo : anticristianismo, destruição da família heteromonogâmica, imoralidades várias, inversão de valores, destruição das nacionalidades, perda de identidade social/familiar/moral/histórica, etc.

Acaso não foi assim nos países comunistas ?
Acaso não é o que está ocorrendo nos países democráticos ?

E repetindo : não existe isto de diálogo, cultura, religião ou sei lá o que judaico-cristão. O comunismo, criado por judeus, é arquiinimigo do cristão. Portanto, poderia haver este tal diálogo judaico-cristão ? Andarão juntos luz e trevas ?

Abraços 

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