Alcântara, acordo indigno
Em dias, Congresso votará cessão da Base de Lançamentos aos EUA. Tratado bloqueia desenvolvimento tecnológico do país, impede-o de buscar certos parceiros e permite que Washington armazene, no Maranhão, até mesmo armas nucleares e químicas.
Por Roberto Amaral | Imagem: Dario Castillejos
O governo Temer assinou, à socapa, um acordo chamado de “Salvaguardas Tecnológicas” com o governo dos EUA, mediante o qual cedemos nossa Base de Lançamentos de Alcântara, de localização privilegiada, e assumimos compromissos que alienam nossa soberania. O texto reproduz, quase ipsis litteris, aquele negociado pelo governo FHC e rejeitado pelo governo Lula e pelo Congresso Nacional. A assinatura de agora se fez e a tramitação no Congresso se faz, mais uma vez, sem debate com a sociedade ou audiência à comunidade científica. A grande imprensa não se motivou. E o governo do capitão tem pressa em sua aprovação, pois pretende apresentá-lo como oferenda a Trump, antes de seu filho Eduardo assumir a prometida embaixada em Washington – cargo para o qual suas qualificações são um mistério. Com o acordo o Brasil terá jogado a última pá de cal no seu programa espacial, com graves e irrecuperáveis prejuízos para sua soberania, sua economia, seu desenvolvimento e suas responsabilidades diante do Atlântico Sul.
Após três décadas de investimentos e muitas perdas humanas, o Brasil se prepara para o réquiem de seu programa espacial, no qual investe desde 1961. Sem falar nas grandes potências espaciais, fomos seguidamente superados por países emergentes que iniciaram seus projetos em tempos contemporâneos ao nosso, como China, Índia, Israel, Coreia do Sul, Coreia do Norte e Irã.
O Brasil não tem programa espacial completo: não domina as tecnologias nem de fabricação de satélites estacionários nem de foguetes de lançamento, e a rigor não tem base de lançamento. Na verdade, o que nos resta é uma área favorecida geograficamente que, ao preço de banana, cedemos aos interesses estratégicos dos EUA.
Diferentemente do que crê o senso comum, mantido desinformado, programa espacial não é sinônimo de ficção científica, tampouco necessidade exclusiva de um restrito grupo de nações endinheiradas: as comunicações civis e militares, a vigilância das fronteiras terrestres e marítimas, o sensoriamento geral do território, a pesquisa do subsolo, a vigilância ambiental, a previsão do tempo, tudo isso hoje depende de programa espacial. Quem não o tem, é obrigado a alugar os serviços de terceiros e assim pagar pela espionagem de si mesmo. Hoje nosso programa de satélites é desenvolvido em parceria com a China, sem notícia de transferência de tecnologia. Os satélites (programa CBERS) partem de base de lançamento chinesa e levados ao espaço por foguete chinês. A China, que iniciou seu programa em 1956, já em 2002 levava o homem ao espaço.
O objetivo dos EUA, nesse acordo, dito simplesmente de “Salvaguardas Tecnológicas”, mais do que dispor de uma base de lançamentos (de que não carecem), é impedir que o Brasil tenha seu próprio programa espacial, pois isso não é permitido em seu “quintal”, e somos seu “quintal” hoje, também por decisão do atual governo, subalterno aos seus interesses.
As razões para o veto ao nosso programa são de ordem geopolítica. Faça-se justiça às autoridades americanas: elas jamais negaram esse intento. Quando das negociações do Brasil com a República da Ucrânia, visando à criação da Alcântara Cyclone Space – binacional destinada à produção conjunta de um foguete lançador, o Cyclone-4 – e seu lançamento a partir de Alcântara, os EUA informaram àquele país que não se opunham ao projeto, desde que não houvesse transferência de tecnologia, mas que continuavam entendendo que o Brasil não deveria ter programa espacial. Era um veto explícito, com todas as consequências óbvias. Quando a binacional Alcântara Cyclone Space – ACS, da qual fui diretor brasileiro, se instala e começa a funcionar, o Departamento de Estado comunica a prévia proibição de lançamento, de nossa base, de satélite (e este era o objetivo da joint venture) contendo qualquer sorte de equipamento de origem estadunidense, o que, de saída, nos afastava de algo como 60% do mercado internacional de lançamentos.
Pelo acordo, ao fim e ao cabo, o Brasil não adquirirá tecnologia, não produzirá tecnologia e não disporá seja de veículos lançadores, seja de satélites. Sua única riqueza é a localização privilegiada de Alcântara, cedida.
Tudo isso está documentado em telegramas que o Departamento de Estado enviou à sua embaixada em janeiro de 2009 e vazados pelo WikiLeaks em 2011.
O objetivo do acordo é impedir que o Brasil tenho acesso à tecnologia de lançamentos – de que tanto necessita, como demonstra a frustração do projeto do VLS – e, assim, desenvolva seu próprio programa, limitadamente comercial. O acordo, que o Congresso está prestes a aprovar, não só proíbe o Brasil de ter acesso à tecnologia dos EUA, como à de qualquer país com o qual venha a estabelecer acordo. O texto que está no Congresso estabelece que o Brasil firmará (o teor é imperativo) acordos com outros países nos mesmos termos do firmado com os EUA, ou seja, impeditivos de transferência de tecnologia. Proíbe mesmo que o Brasil venha a utilizar em seu Programa recursos provenientes de acordos semelhantes. O item 2 do Artigo III determina que “O Brasil (…) não poderá usar tais recursos [provenientes da cessão da base] para aquisição, desenvolvimento, produção, teste, emprego ou utilização de sistemas da Categoria I do MTCR (…)”, ou seja, mísseis capazes de carregar carga útil de 500 quilos a uma distância de mais de 300 quilômetros. MTRC é a sigla inglesa de Regime de Controle de Mísseis, ou, Missels Tecnhology Central Regime.
O rol de restrições unilaterais – e eis a grande característica do Acordo, a unilateralidade de direitos norte-americanos contra obrigações, e só obrigações brasileiras – nos impede de firmar outros acordos (Artigo III) com países que uma das partes tenha designado como terrorista. Ficamos, assim, à mercê das conveniências estratégico-militares dos EUA que podem considerar quem quiser e a qualquer tempo como “terrorista”, como já consideraram o Iraque e podem amanhã considerar a China. Não param aí as restrições, e aqui não é possível arrolá-las todas. Assim, pela Alínea B do mesmo Artigo III, o Brasil se compromete a não permitir o ingresso de “equipamentos, tecnologias, mão de obra ou recursos financeiros no Centro Espacial de Alcântara oriundos de países que não sejam parceiros membros do MTCR”. Entre os muitos países ausentes do MTRC estão a China, com quem partilhamos o programa CBERS de desenvolvimento de satélites, e Israel.
Os negociadores brasileiros, que tudo aceitam, não nos resguardam do mau uso da Base pelos EUA – notoriamente, a nação mais belicosa que a humanidade já conheceu. O acordo não faz referência a prévio licenciamento ambiental, nem a salvaguardas brasileiras quanto ao conteúdo importado e embarcado pelos EUA. Não há proibição de uso militar, de transporte de ogivas nucleares ou de lançamento de gases tóxicos ou nocivos à saúde humana ou ao meio ambiente.
O Brasil não poderá inspecionar, visualmente, as cargas destinadas aos veículos lançadores dos EUA. O Artigo VII dispõe que os equipamentos lançadores dos EUA serão transportados e ingressarão no Brasil em containers fechados e lacrados; de seu conteúdo as autoridades brasileiras receberão, tão só, declaração das autoridades americanas. Caso requerido pelo Brasil, esses containers somente poderão ser abertos por participantes norte-americanos (cujo numero não é limitado) que não podem autorizar exame técnico ou inspeção visual. Que resta às nossas autoridades além de nada – nem mesmo autoridade?
Há mais limitações ao exercício da soberania brasileira em Alcântara.
São criadas as “Áreas restritas” (item 14 do Artigo II) “às quais o governo do Brasil (…) somente permitirá acesso a pessoas autorizadas pelo governo dos EUA, a fim de assegurar que de maneira ininterrupta possam monitorar, inspecionar e controlar o acesso”. O item VI ordena: “O acesso a áreas restritas deverá ser controlado pelo governo dos EUA (…) pelos licenciados norte-americanas, por meio de crachás a serem elaborados pelo governo dos EUA”.
O item 3 do Artigo VI diz que “O Brasil deverá (sempre o caráter impositivo) permitir que servidores do governo dos EUA (…) tenham acesso, a qualquer tempo, para inspecionar nas áreas Controladas, nas áreas Restritas ou em outros locais (…); tais inspeções ou verificações poderão ocorrer sem aviso ao governo do Brasil ou da representação brasileira”.
Trata-se, pois, de acordo leonino, que só interessa a uma das partes pois apenas uma assegura direitos que são exercidos sobre a renúncia da outra parte. O país é posto de cócoras. O acordo, além de humilhante, é o atestado de óbito de nosso Programa Espacial. Fiquem claras, para o registro das responsabilidades históricas, as consequências da aprovação, iminente, desse mostrengo que a diplomacia brasileira, em sua hora mais triste, acaba de ressuscitar. E fique claro o comprometimento de nossas forças armadas, com seu silêncio aprovador. O Brasil será o único país em suas dimensões e sua importância política a renunciar a ter um programa espacial.
Continua a razia – Em mais uma ação lesiva ao funcionamento do já abalado Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia, o governo prossegue em seu projeto de fundir a CAPES e o CNPq em uma só autarquia vinculada ao MEC, além de transformar a FINEP em uma carteira do BNDES. Os dois absurdos são defendidos pelo estapafúrdio ministro da Educação e contam com a aquiescência do MCTI.
Fonte: https://outraspalavras.net/desigualdades-mundo/alcantara-acordo-indigno/
O Acordo de Salvaguardas Tecnológicas - AST (entrega agora se chama "acordo") com os Estados Unidos sobre o uso do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA) foi aprovado em votação nominal na Comissão de Relações Exteriores ("para Combate do Comunismo") e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados que "por acaso" tem como presidente o deputado Eduardo Bolsonaro. Foram votos 21 favoráveis e 6 contrários.
O projeto ainda precisa passar pelas comissões de Ciência e Tecnologia e Constituição e Justiça, além de ser aprovado no plenário da Câmara. O texto também deve passar pelo Senado.
O documento foi assinado pelo presidente Jair Bolsonaro durante a visita ao presidente americano Donald Trump, em março deste ano.
Abraços
terça-feira, 15 de outubro de 2019
3 comentários:
"Numa época de mentiras universais, dizer a verdade é um ato revolucionário."
George Orwell
"Até que os leões tenham seus próprios historiadores, as histórias de caçadas continuarão glorificando o caçador."
Eduardo Galeano
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A guerra síria: menina síria expõe mentiras da mídia sobre a "retirada americana" da Síria
ResponderExcluirhttp://northerntruthseeker.blogspot.com/2019/10/the-syrian-war-syrian-girl-exposes.html
Quem é o dono do Federal Reserve? Leia a história chocante sobre o papel do BIS, do Banco Mundial e do FMI no controle de ativos mundiais.
https://dinamicaglobal.wordpress.com/2019/10/16/esclarecendo-quem-dita-as-regras-sobre-a-humanidade-o-cartel-do-federal-reserve-oito-familias-sao-donas-do-bis-dos-estados-unidos-fmi-banco-mundial/
Quando as minorias governam, as nações estrangulam e morrem. Vemos isso acontecendo hoje, em todo o mundo. Pior que isso, e algo para se preocupar: quando as minorias se tornam maiorias, geralmente matam os proprietários anteriores.
https://www.johnkaminski.org/index.php/john-kaminski-american-writer-and-critic-2/227-the-tyranny-of-minorities
Eventos de "orgulho LGBT" na Polônia usam atores pagos.
Usando câmeras e microfones ocultos, 'Invasion' revela que as manifestações LGBT e de rua do orgulho gay em toda a Polônia estão sendo financiadas por manipuladores políticos desonestos. Os participantes pagos do 'Pride' viajaram de ônibus para várias cidades e vilas ... e, de fato, com os mesmos personagens LGBT, aparecendo continuamente nos diferentes eventos da Polônia, no teatro marxista cultural encenado.
https://www.henrymakow.com/2019/10/polands-lgbt-pride-events-use-paid.html
Desde a década de 1950, estudos empíricos de hierarquias étnicas acompanharam mudanças nos recursos de vários grupos étnicos, incluindo sua representação na elite. Esses estudos muitas vezes destacaram a super-representação dos brancos protestantes nos mais altos estados empresariais e militares, mas erraram ao negligenciar as diferenças entre os grupos em termos de comprometimento e organização. Baseado no modelo de Blalock que define o poder de um grupo por seus recursos, multiplicado por sua mobilização, F. Salter propôs uma estimativa teórica da influência judaica, comparada à de afro-americanos e americanos. em infra-estruturas étnicas EUA: uma análise evolutiva da hierarquia étnica em uma democracia liberalem 1998. Os judeus são muito mais mobilizados do que essas duas outras populações étnicas (hesita em descrever como "grupo" os americanos brancos). Salter salienta que as organizações étnicas especificamente dedicadas a defender os interesses étnicos dos americanos brancos são fundamentalmente grupos políticos marginais e com poucos recursos e pouca influência sobre o mainstream.
https://www.blancheurope.com/2019/10/09/culture-de-la-critique-conclusion-ou-vont-le-judaisme-et-loccident/
Jesus, que era da Galiléia ("Galil ha Goyim" em hebraico, que significa "Gentio [= não-judeu] Distrito") foi consistentemente representado pelos primeiros cristãos nas catacumbas romanas como cabelos louros. Aqui ele está sendo traído com um beijo "amigável" por dinheiro por Judas, que estava trabalhando para o sumo sacerdote.
https://www.johndenugent.com/jesus-and-the-landlord/
"Se eu matasse um animal da maneira empregada por judeus e muçulmanos, eu iria - e com razão - me encontrar no tribunal, enfrentando pesadas multas e / ou prisão. O que está errado para um ser humano está errado para todos! Não há espaço para padrões duplos em uma sociedade como a Austrália que afirma honrar a lei e se considera compassiva."
https://www.germanvictims.com/2019/10/brutal-and-merciless-slaughter-of-animals-by-jews-and-muslims/
“A presunção de que os animais não têm direitos, a insana suposição de que nossas ações em relação a eles são sem significado moral, a idéia de que não temos obrigações em relação aos animais é a barbárie e a desumanidade verdadeiramente ultrajantes do Ocidente, cujas raízes podem ser encontradas em Judaísmo!"
Filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788 - 1860)
Em vários aspectos, o presidente Bolsonaro deixa muito a desejar.
ResponderExcluirMas, infelizmente, ele era a única escolha.
Pois, se o Haddad tivesse ganho, a situação do nosso país estaria muito pior. :(
"Em vários aspectos" não! Em todos os aspectos.
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