Inutilidade dos Partidos
Por Miguel Reale
Os partidos são os órgãos que os liberais oferecem para a manifestação da vontade coletiva. Mas o mais ligeiro exame revela a inconsistência dessa tese.
Os partidos, reunidos ou confundidos os mais disparatados interesses à sombra de uma promessa de programas ou, como é mais freqüente, sob o bafejo de um nome influente, vivem inteiramente separados da vida da Nação.
Os candidatos ao governo da causa pública saem dos conchavos secretos dos bastidores, e apresentam-se a um eleitorado heterogêneo, o qual quase sempre se desinteressa pelos pleitos, ou então paga com o voto um favor recebido, ou com o voto conquista um protetor para as horas amargas, quando não põe em leilão o inexpressivo título de cidadania. E, assim, o cidadão troca a própria liberdade pela ilusória soberania de um segundo, do segundo que o Estado lhe concede para votar secretamente, como quem se esconde para praticar um crime.
A um representante escolhido mediante tais processos falta contato direto com o povo para propor o que o povo deseja ou quer; falta responsabilidade para discutir com elevação; faltando independência para agir sem compromissos subalternos; falta energia moral para negar ao povo certas medidas que granjeiam as simpatias das massas, mas não convencem a inteligência do estudioso, nem satisfazem à consciência do justo.
Os partidos, em verdade, são órgãos imperfeitos e dispensáveis em toda a sociedade onde existem instituições criadas naturalmente pela comunhão permanente das atividades e das aspirações.
Os partidos políticos, em toda a parte, mas especialmente no Brasil, são órgãos artificiais transitórios, de vida intermitente, heterogêneo e exprimem forças dos grandes centros.
São artificiais porque surgiram, como o estudo da história o prova de sobejo, como sucedâneos das corporações, desde quando uma lei absurda proibiu, em nome da liberdade, que os produtores se reunissem livremente para tutela dos interesses profissionais. Mas mesmo fazendo abstração desse dado revela-se ao estudarmos a sua formação nos dias que correm. Os partidos nascem segundo as ambições deste ou daquele político, deste ou daquele agrupamento, não passando as denominações de rótulos de efeito, e os programas de chamariz para atrair adeptos ingênuos colecionando os votos que são a matéria prima explorada pelo mercantilismo político da fabricação do produto deputado.
São transitórios porque são artificiais e, assim como surgem, desaparecem sem alteração de monta no viver social. Duram enquanto duram os interesses da minoria dirigente, enquanto o rótulo tem capacidade de iludir, enquanto há acordo na divisão dos proveitos. São de vida intermitente porque não correspondem a uma necessidade geral, mas a um interesse particular. Acordam, dirigem-se ao povo, agitam-se quando é a hora decisiva da safra eleitoral. Depois, o povo é esquecido. Se quiser alguma coisa, que arranje um “pistolão” e vá pedir de chapéu na mão, o cumprimento de um dever!
São heterogêneos porque reúnem indivíduos de todas as profissões e até dos mais diversos pensamentos, dos apetites mais desencontrados; porque essa reunião obedece unicamente às paixões do momento, à propaganda dos cartazes, às pregações da imprensa e do rádio, cujo efeito depende, em grande parte, das posses e não da competência e da honestidade dos candidatos que se expõem na vitrine do julgamento eleitoral.
Exprimem forças dos grandes centros, porque é o eleitoral que fabrica e envia os clichês políticos para o interior, para o sertão, jogando com as ambições das pessoas influentes dos municípios na combinação manhosa dos diretórios tão tímidos em relação ao centro quão violento em relação aos subalternos do
círculo municipal.
Fonte : http://www.nacionalismo.com.br/boletim/boletim_4.pdf
Abraços
Na tabela, faltou uma coluna: a NES (Nem Eles Sabem).
ResponderExcluirE precisam saber?
Eita, cambada!...
Vulgocracia.
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