O
papel da mulher na Idade Média
Consegui
este texto na internet. É um trecho da obra de Régine Pernoud
"Idade Média - o que não nos ensinaram". Não sei quem é
o autor dos bons comentários que aparecem no meio do texto e no
final.
O
papel da mulher na Idade Média
Há
quem pense que na Idade Média o papel da mulher era o de submissão
total e completo ostracismo. Há quem cogite que se pensava que a
alma da mulher não era imortal - afirmação gratuitamente
preconceituosa e contraditória (se a alma é espiritual e imortal,
como a alma feminina não seria? Seria uma alma mortal?). Como a
Igreja seria hostil a esses seres sem alma, mas durante séculos
batizou, confessou e ministrou a Eucaristia a essas criaturas? Não é
estranho que os primeiros mártires cristãos tenham sido mulheres
(Santas Agnes, Cecília, Ágata etc)? Como venerar a Virgem Maria
como cheia de graça e considerá-la desalmada? A historiografia
contemporânea simplesmente apagou a mulher medieval.
Por
exemplo, no plano social. Dentro dessa perspectiva desapareceram da
história personagens como Hilda de Whitby, que no século VII fundou
sete mosteiros e conventos, ou quem sabe a religiosa alemã Hroswitha
de Gandersheim, autora de dezenas de peças de teatro. Em Bizâncio,
numerosas eram as mulheres na universidade. Anna Comnena fundou em
1083 uma nova escola de medicina onde lecionou por vários anos.
Eleonora da Aquitânia, enquanto rainha, desempenhou um importante
papel político na Inglaterra e fundou instituições religiosas e
educadoras.
Nos
tempos feudais, a rainha era coroada como o rei, geralmente em Rheims
ou, por vezes, em outras catedrais. A coroação da rainha era tão
prestigiada quanto a do Rei. A última rainha a ser coroada foi Maria
de Medicis em 1610, na cidade de Paris. Algumas rainhas medievais
desempenharam amplas funções, dominando a sua época; tais foram
Eleonora de Aquitânia (+1204) e Branca de Castela (+1252); no caso
de ausência, da doença ou da morte do rei, exerciam poder
incontestado, tendo a sua chancelaria, as suas armas e o seu campo de
atividade pessoal. Verdade é que a jovem era dada em casamento pelos
pais sem que tivesse livre escolha do seu futuro consorte. Todavia
observe-se que também o rapaz era assim tratado; por conseguinte,
homens e mulheres eram sujeitos ao mesmo regime.
A
mulher na Igreja
Precisamente
por causa da valorização prestada pela Igreja à mulher, várias
figuras femininas desempenharam notável papel na Igreja medieval.
Certas abadessas, por exemplo, eram autênticos senhores feudais,
cujas funções eram respeitadas como as dos outros senhores;
administravam vastos territórios como aldeias, paróquias; algumas
usavam báculo, como o bispo... Seja mencionada, entre outras, a
abadessa Heloisa, do mosteiro do Paráclito, em meados do século
XII: recebia o dízimo de uma vinha, tinha direito a foros sobre feno
ou trigo, explorava uma granja...Ela mesma ensinava grego e hebraico
às monjas, o que vem mostrar o nível de instrução das religiosas
deste tempo, que às vezes rivalizavam com os monges mais letrados.
Pena faltar estudos mais sérios sobre o tema...É surpreendente
ainda notar que a enciclopédia mais conhecida no século XII se deve
a uma mulher, ou seja, à abadessa Herrade de Landsberg. Tem o título
"Hortus Deliciarum" (Jardim das Delícias) e fornece as
informações mais seguras sobre as técnicas do seu tempo. Algo de
semelhante se encontra nas obras de S. Hildegard de Bingen.Gertrude
de Helfta, no século XIII conta-nos como se sentiu feliz ao passar
do estado de "romancista" ao de "teóloga".
Conforme Pedro, o Venerável, ela, em sua juventude, não sendo
freira e não querendo entrar num convento, procurava, todavia,
estudos muito áridos, ao invés de se contentar com a vida mais
frívola de uma jovem. Ao percorrer o ciclo de estudos preparatórios
ela galgara o ciclo superior, como se fazia na Universidade. Veio da
abadia feminina de Gandersheim um manuscrito do século X contendo
seis comédias, em prosa rimada, imitação de Terêncio, e que são
atribuídas à famosa abadessa Hrotsvitha, da qual, há muito tempo,
conhecemos a influência sobre o desenvolvimento literário nos
países germânicos. Estas comédias, provavelmente representadas
pelas religiosas, são, do ponto de vista da história dramática,
consideradas como prova de uma tradição escolar que terá
contribuído para o teatro da Idade Média.
Mulheres
líderes
Algo
inédito e que nos dias de hoje - tão democráticos - jamais
aconteceria:
No
século XII, Robert d'Arbrissel, um dos maiores pregadores de todos
os tempos resolveu fixar a multidão de seguidores seus na região de
Fontevrault. Para isso ele criou um convento feminino, um masculino e
entre os dois uma Igreja que seria o único local aonde os monges e
as monjas poderiam se encontrar. Ora, este mosteiro duplo foi
colocado sob a autoridade, não de um abade, mas de uma abadessa.
Esta, por vontade do fundador, devia ser viúva, tendo tido a
experiência do casamento. Para completar, a primeira abadessa que
presidiu os destinos da Ordem de Fontevrault, Petronila de Chemillé,
tinha 22 anos. (um parêntesis: nos dias de hoje alguém imaginaria
um acontecimento destes sequer ser considerado? Pois ele aconteceu na
época em que os ignorantes costumam taxar como "Idade das
trevas").
No
período feudal o lugar da mulher na Igreja apresentou algumas
diferenças daquele ocupado pelo homem, mas este foi um lugar
iminente, que simboliza, por outro lado, perfeitamente o culto,
insigne também, prestado à Virgem Maria entre os santos. E não é
curioso como a época termine por uma figura de mulher - Joana D'Arc,
que seja dito de passagem, não poderia, jamais, nos séculos
seguintes obter a audiência do rei, sendo ela mulher, plebéia e
ignorante, conseguindo mesmo assim suscitar a confiança que
conseguiu, afinal. Pobre Joana D'Arc! Recentemente Luc Besson fez um
filme de S. Joana D'Arc digna dos melhores hospícios, completamente
esquizofrênica e que confundia sua vingança pessoal com o que seria
a voz de Deus. Sem comentários.
A
mulher comum
Faltaria
falar das mulheres comuns, camponesas ou citadinas, mães de família
ou trabalhadoras. A questão é muito extensa, e os exemplos podem
chegar através de diversas fontes como documentos ou mil outros
detalhes colhidos ao acaso e que mostram homens e mulheres através
dos menores atos de suas existências. Através de documentos,
pôde-se constatar a existência de cabeleireiras, salineiras
(comércio do sal), moleiras, castelãs, mulheres de cruzados, viúvas
de agricultores, etc. É por documentos deste gênero que se pode,
peça por peça, reconstituir, como em um mosaico, a história real -
muito diferente dos romances de cavalaria ou de fontes literárias
que apresentam a mulher como um ser frágil, ideal e quase angélico
- ou diabólico - mas que não tinha voz nem vez. Existem documentos
demonstrando como em muitos locais, mulheres e homens votavam em
assembleias urbanas ou comunas rurais. Ouve um caso curioso:
Gaillardine de Fréchou foi uma mulher e a única pessoa que, diante
da proposta de um arrendamento aos habitantes de Cauterets, nos
Pirineus, pela Abadia de Saint Savin, votou pelo Não, quando a
cidade inteira votou pelo Sim. Nas atas dos notários é muito
freqüente ver uma mulher casada agir por si mesma, abrir, por
exemplo, uma loja ou uma venda, e isto sem ser obrigada a apresentar
uma autorização do marido. Enfim, os registros de impostos, desde
que foram conservados, como é o caso de Paris, no fim do século
XIII, mostram multidão de mulheres exercendo funções: professora,
médica, boticária, estucadora, tintureira, copista, miniaturista,
encadernadora, etc.
***
Estas
informações foram retiradas da mundialmente conhecida medievalista
Régine Pernoud, em seu livro Idade Média - o que não nos
ensinaram. A autora consultou e teve acesso a documentos originais da
época, quando não de informações contidas em fontes confiáveis.
Nos
nossos dias, pouco ouvimos falar do papel da mulher na Idade Média.
E quando ouvimos, muitas vezes de forma deturpada.
O
papel da mulher na sociedade, aliás, a própria sociedade medieval,
segundo a autora, passaram por mudanças lentas a partir do século
XIII, com o ressurgimento do chamado direito romano, que aos poucos
suplantou o direito medieval (eclesiástico).
Pelas
constatações, vê-se que hoje em dia a maioria das mulheres têm
muito o que fazer para reencontrar o lugar que foi seu nos tempos da
rainha Eleonora ou da rainha Branca.
Fonte : http://borboletasaoluar.blogspot.com.br/2008/05/o-papel-da-mulher-na-idade-mdia.html
Leia também as partes 2 e 3 :
http://desatracado.blogspot.com.br/2013/12/a-mulher-na-idade-media-34.html
http://desatracado.blogspot.com.br/2013/12/a-mulher-na-idade-media-44.html
Abraços
Já li esse livro. Muito bom mesmo! Pena que não é mais editado.
ResponderExcluirDom Estevão Bettencourt, monge beneditino (1919-2008), escreveu uma interessante resenha sobre esse livro. Talvez irás gostar de ler. Veja
Revista : “PERGUNTE E RESPONDEREMOS”
D. Estevão Bettencourt, osb
Nº : 240 - Ano : 1979 - Pág. 520
http://www.exsurge.com.br/apologeticas/idademedia/artigos_idademedia/idademediaoquenaonosensinaram.htm
Grande dica.
ResponderExcluirObrigado mesmo.
Abraços, caro(a) anônimo(a).