O Sucesso do "Mínimo":
A Volta do Exílio da Alta-Cultura
Em 1979 o governo João Figueiredo promulgou a Lei da Anistia. Durante um
debate que estendeu-se à toda a nação a tal "Anistia Ampla, Geral e Irrestrita"
virou realidade.
Decantada em verso e prosa (como Elis Regina "O Bêbado e a Equilibrista "
de Bosco e Blanc, ou a versão de "No Woman, No Cry" de Gilberto Gil) a anistia
do governo militar permitiu a volta de centenas de exilados e auto-exilados ao
país. Todo o país aguardou, festivamente e recebeu mesmo de braços abertos todos
aqueles que "partiram num rabo de foguete" de modo a fechar de uma vez a chaga
da divisão havida nos anos 60 e seguir em frente.
Infelizmente não aconteceu nada disso, pelo contrário. Começava aí o
capítulo mais marcado da decadência da cultura no País. Decadência que foi não
foi somente cultural, mas política e econômica.
Economicamente, o modelo adotado durante o regime militar, de cariz
fascista/socialista em que um Estado forte "comanda" a economia criando toda a
infra-estrutura e sendo dono de boa parte da indústria de base, dava sinais de
esgotamento. A inflação comia o poder dos salários, como Beth Carvalho anunciava
"depois que inventaram o tal cruzeiro, eu trago um embrulhinho na mão, e deixo
um saco de dinheiro" (Saco de Feijão). Nos 80, década tida como "perdida", a
inflação atingiria os dois dígitos mensais. Na política, o modelo de
bi-partidarismo, com Arena e MDB também se esgotava. Com a volta dos anistiados
chegaria mesmo ao fim, dando lugar a um pluripartidarismo de araque, em que
somente as legendas de esquerda proliferaram.
Nada disso poderia ter tido êxito se não houvesse uma desconstrução cultural cuidadosamente planejada em ação.
O motivo era simples: nem todos que voltaram como o Fernando Gabeira, por
exemplo, o fizeram para retomar suas vidas, viver e redescobrir o país. Nada
disso, voltaram mesmo para "acertar contas" com seus algozes dos anos 60.
Começava aí a guerrilha cultural - um dos flancos mais "modernos" da causa
esquerdista, herdada diretamente dos protestos de Maio de 1968 (por isso Zuenir
Ventura refere-se a ele como "O ano que não terminou") - em que o "movimento" se
reagrupava e entrava num momento de análise dos erros e acertos.
Desta auto-análise saíram as conclusões do fracasso dos anos 60:
- O movimento foi elitista e intelectual, nunca atingiu o povão. - O conservadorismo, principalmente da classe média, que obrigou o exército a agir para resguardar a democracia. - O exército, claro, a instituição que tirou-os do destino quase alcançado. Para o primeiro caso, os "intelectuais" do partido escolheram um menino do povo - Luís Inácio da Silva, o Lula, líder de um movimento grevista inédito desde os anos 60 - a quem poderiam doutrinar para ser seu agente.
Para o terceiro, a única alternativa seria criminalizar os que impediram a
vitória nos ano 60. Para isso mesmo a própria Lei da Anistia teria de ser
revogada. Mas isso só poderia ser feito com o poder nas mãos...Por isso nada foi
feito durante algum tempo.
Para o segundo, a tarefa era mais árdua e de longo prazo. Teria de ser
combatida seguindo os passos de Antonio Gramsci. Desarmar os inimigos por
dentro. Deslocar o eixo do senso comum. Para isso teriam de dominar os
"formadores de opinião" do país. Nada que os manuais de tomada comunista já não
conhecessem: obter o apoio do "beautiful people", dos intelectuais, promover os
amigos, companheiros de viagem e idiotas úteis a formadores de opinião. Criar o
"primeiro casal de coelhos", enfim, depois a coisa se reproduziria por si
mesma.
As décadas seguintes correram céleres a partir destas premissas. A "queda"
do comunismo em 1989 forneceu a cortina de fumaça ideal. Não se lutava mais a
favor do comunismo, mas contra uma potência mundial hegemônica e perigosa. A
formação do Foro de São Paulo, fortaleceu ainda mais os "vingadores" do
continente, unindo-os a partir de Cuba. Ao meio da década dos 90, com a adoção
do "politicamente correto", introduzido sob os auspícios do governo FHC, a
dominação acelerava-se.
Mas eis que em 1996, alguém consegue perceber o que se passa lança o seu
"J'accuse": "O Imbecil Coletivo" de Olavo de Carvalho. "Fomos descobertos",
devem ter pensado. Olavo foi combatido, debatido e sobreviveu incólume. Em terra
de cego quem tem olho é rei? Não no Brasil.
À surpresa inicial e ao primeiros anúncios de primeira página sobre os
debates acerca do livro ou de seu autor - que já proliferavam nos cadernos de
cultura dos principais jornais do país - foi lançada uma "fatwa" (parecida com
aquela lançada contra Salman Rushdie pelos "Versos Satânicos"): Ninguém poderia
debater com Olavo, ninguém deveria citar Olavo, muito menos respondê-lo. Olavo
de Carvalho deveria ser solenemente ignorado.
Olavo tentou, neste meio tempo, unir o que poderia ser a resistência contra
a tomada avassaladora da esquerda no país, como setores do exército, dos
liberais e dos conservadores. Não resultou.
Ao mesmo tempo, mesmo com a proliferação dos cursos que promovia em
diversos locais no país (tenho o privilégio de ter sido um dos organizadores do
curso em Porto Alegre, em 2004 e 2005) , Olavo começou a ser combatido "por
dentro", perdendo seu lugar como colunista em vários veículos importantes do
país. Em 2005 deixa o país para um auto-exílio nos Estados Unidos.
A esta aparente vitória de seus retratores, começa uma tímida reação: Curso
On-Line de Filosofia e o True-Outspeak. Com este último, Olavo conseguiu
expandir a sua influência a niveis imagináveis.
Em 2013 um "olavette" de peso foi incluído à lista, e causa furor: João
Woerdenbag, o Lobão. Ex-Blitz, famoso apoiador de campanhas do PT, Lula e etc,
descobre a pólvora e lança um petardo. Com o nome de "Manifesto do Nada Na Terra
do Nunca", espanta aos próceres da esquerda pelo conteúdo e enfurece-os pelas
entrevistas onde cita Olavo de Carvalho.
Neste mesmo ano de 2013, enfim, é lançado um livro - que nem é inédito,
pois trata-se de um "the best of" do Olavo, com os melhores textos publicados em
diversos jornais e revistas do país entre 1997 e 2012 - "O Mínimo Que Você
Precisa Saber Para Não Ser Um Idiota", organizado pelo jovem aluno Felipe Moura
Brasil. Sem publicidade, sem investimento em divulgação, é alçado aos primeiros
lugares em vendas em todos as listas importantes do país.
À isso , somem-se as dezenas de entrevistas que o autor concedeu aos mesmos
veículos que tentaram ostracizá-lo no passado, para imensa satisfação do seu
público.
Estas reações, por espontâneas e marcantes, fazem concluir-me duas
coisas:
- O Brasil ainda tem esperança, apesar de tudo. Há uma nova geração que percebe a verdade, mesmo depois de décadas de doutrinação, e que vai em sua busca. - E sim, a Cultura parece ter voltado de seu exílio ao país.
Abraços
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